quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Progressão Continuada



Esse é o título correto do projeto que pretendia solucionar as repetências em escolas públicas. Existe em Universidades e ETECs, onde o aluno fica na DP, revendo a matéria em que apresentou maior dificuldade, sem prejuízo do ano posterior. Ou seja, o aluno passa de ano, e num período predeterminado ele revê as matérias que o deixaria retido no mesmo ano no sistema anterior.

Mas, Brasil é Brasil! O jeitinho brasileiro adaptou o projeto ao que chamamos de promoção automática, se aprendeu, aprendeu. Se não, azar! Ou sorte, porque assim o aluno não precisa repetir o ano e na maioria das vezes ele não tem o menor interesse em aprender o que as escolas têm a oferecer.

O que ocorria era que esse aluno desinteressado, ficava consumindo os recursos do governo sem nenhum retorno. Mantê-lo na escola gera custos, e o jeitinho brasileiro tratou de extirpar esse indivíduo displicente do sistema, mas não é verdade que não há mais repetência. Conheço alunos que conseguiram repetir dentro do atual sistema; deve existir um limite de notas que demonstra que ainda existe esperança para determinado aluno, o que justificaria o investimento do governo.

Alguns argumentam que a repetência deveria retornar á política pedagógica das escolas públicas. Mas o contingente de alunos displicentes retidos e gerando custos seria ainda maior do que no período em que foi implantado o programa. Por outro lado a aprovação automática livra o governo de um custo por um lado, porém, cedo ou tarde esse aluno despreparado pode gerar problemas à sociedade, e se o problema for a delinqüência, olha lá o custo do governo de novo!

O mercado de trabalho está cada vez mais exigente e as políticas educacionais públicas não estão acompanhando satisfatoriamente. Apesar da boa intenção do então secretário da Educação Gabriel Chalita (segundo mais bem votado Dep. Federal eleito) que criou a Escola em Tempo Integral, é fato notório que a maioria dos jovens não está nem um aí pro fato da escola estar aberta em tempo integral, se pra eles já é um suplício permanecer nela no período regular!

Logicamente não desmereço o projeto, é válido em algumas situações. Eu me formei neste modelo de promoção automática, e é verdade que sem a pressão da repetência as coisas corriam mais frouxas, mas vai da personalidade de cada um. Sempre reclamaram dos professores, e virou discurso corrente difamar o ensino público. Eu, enquanto aluna não tive do que reclamar dos meus professores (há exceções que não comprometem a avaliação geral), e quanto ao ensino de 0 a 10 dou nota 8, isso porque teve uma ausência de 80% de aulas de Geografia! Fora esse detalhe, pude observar que eu aprendi assistindo as mesmas aulas o que outros não aprenderam.

E o material didático disponível atualmente em São Paulo? Excelentes. Posso deduzir com isso, que a deficiência não está no tão citado sistema, o enfoque é outro: o material humano. Não adianta analisar a questão da educação em termos de políticas e programas, ignorando o recurso humano que cada aluno representa. Qual a qualidade destes recursos? Quanto de investimentos merecem? Quando se dará o retorno esperado?


Eu aprendi a estudar com minha mãe e minha irmã, entrei na escola semialfabetizada, isso é um estímulo e tanto! Diferente de pré-escolas aonde o primeiro conhecimento didático vem de uma pessoa estranha, não tem emoção, e uma experiência emocionante tende a marcar mais e positivamente.


Obrigar uma pessoa a rever um ano inteiro de disciplinas das quais ela já ficou reprovada por não ter o menor interesse não faz sentido. É preciso antes, fazer com que ela se interesse por aquilo, daí outro projeto do Gabriel Chalita parece mais eficaz, a Escola da Família. Fazer o jovem sentir na pele o que é educar, envolver a família no plano educacional de um jovem é uma das melhores saídas, funcionou pra mim, (graças a minha mãe, pedagoga por instinto) e há de funcionar para outros jovens.

Melhor do que corrigir o erro da promoção automática facilitando o ingresso nas ETECs e FATECs, como pretendia um dos candidatos ao governo de São Paulo. Pois se alunos mal capacitados puderem ter um diploma técnico destes, a instituição perderá seu valor no mercado de trabalho. Ou pior, esse jovem poderia ingressar na ETEC, e não conseguir acompanhar o ritmo do ensino, o elevado grau pedagógico adotado pelo Centro Paula Souza.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Filme: Medos Privados em Lugares Públicos

Na era dos filmes tecnológicos, com efeitos especiais e mega-elenco, a singeleza do cinema francês veio de encontro à poesia que move a vida do ser humano. O filme “Coeurs” (Corações) do diretor Alain Resnais, com roteiro adaptado da peça teatral do inglês Alan Ayckbourn, gira em torno de seis personagens, três homens e três mulheres solitários em Paris, em pleno inverno congelante. Um filme muito bem avaliado pela crítica e que se encontra há mais de três anos em cartaz nos cinemas do Brasil com o Título: Medos Privados em Lugares Públicos.


Com pouco mais do que quatro cenários, um escritório imobiliário, dois apartamentos e o bar iluminados pela luz neon onde Lionel (Pierre Arditi ) trabalha. Um homem viúvo, que mora com o pai acamado (personagem que não aparece no filme, ouvindo só sua voz), e convive com a rotina inconstante de enfermeiras que não agüentam o mau-humor do idoso. Uma delas, porém, sobressai-se no encargo: Charlotte (Sabine Azéma).

Uma moça cristã num primeiro momento, que guarda segredos cheios de luxúria, que se revela num primeiro momento pela suspeita de seu outro patrão, da imobiliária, Thierry (André Dussollier) , que encontra cenas de uma moça de lingerie se excitando nas fitas de VHS que Charlotte lhe emprestava frequentemente.



Estes episódios são empolgantes, porque no início a suspeita de Thierry parece infundada, pelos hábitos católicos de Charlotte. Thierry um senhor idoso, apaixona-se pela secretária, ao compartilhar essas fantasias que pra ele era um sinal que ela emitia através daquelas fitas VHS, com cenas picantes e caseiras ao final de programas de auto-ajuda gravados da TV.

A fantasia dele durou até ele ser flagrado por sua irmã mais nova Gaëlle (Isabelle Carré), uma moça também aparentemente moralista, que condena o ato do irmão como uma falta de pudor. Gaëlle, no entanto é um dos vieses mais solitários da trama, como citarei mais adiante. Na casa de Lionel, Charlotte como enfermeira tentou ser prestativa, mas o idoso agredia-a chamando-a de feia, e exigindo uma mulher voluptuosa.

Foi então que as fantasias de Thierry mostram ser verdadeiras. Quando farta dos maus tratos, Charlotte mune-se de suas lingeries sensuais e faz um show vip para o velho. Que no dia seguinte passa mal, pois agitação era proibida para ele, e o show da “cauta” Charlotte ativara sua adrenalina. E a mesma moça que ao final do dia Lionel encontrava com a Bíblia nas mãos foi quem deu fim a agonia de seu pai, que afinal morreu feliz, “com um sorriso no rosto”, como disse Lionel.



A imobiliária onde trabalha Thierry e Charlotte prestava serviços ao casal em crise Dan (Lambert Wilson) e Nicole (Laura Morante). O típico casal que não se comunica mais após o casamento, onde o marido, ex-militar do exército, destituído por corrupção dos seus subordinados, perde o seu epicentro, e a mulher orgulhosa demais para compreender a decepção interna do esposo, cobra-o demais, exigindo-lhe que arrume um emprego.



Mas é no balcão onde trabalha Lionel que Dan vai chorar suas mágoas, e é de quem recebe um conselho: “separe-se e arrume outra.” Após ouvir atentamente o conselho de Lionel, Dan volta pra casa, rompe com a esposa que também já estava decidida pela separação e coloca um anúncio no jornal procurando uma companheira. Então ele passa a ser Martin, e encontra Sophia. Uma moça que desde o início do filme aparece sentada num banco de restaurante a espera de alguém que nunca vem.


Martin, o primeiro a chegar até ela, surpreende-a por ter descrito exatamente como era, o que foge do comum em situações como esta. Martin e Sophia formam um casal muito interessante, eles se esquecem enquanto estão juntos que são os melancólicos Dan e Gaëlle.


Neste momento os espectadores passam a torcer pelo romance dos dois, pois só agora a luz ilumina a verdadeira face dos personagens, e quando eles fingem ser quem não são é que se tornam mais autênticos.



Dan junto a Nicole era um alcoólatra que bebia pra esquecer o calvário que seu casamento se tornara depois de perder sua carreira no exército, como ele explica a Gaëlle. Nicolle por sua vez, insurge-se como se fosse a tela opaca que escondia o glamour de Dan, e do mesmo modo como fez enquanto casados, Nicolle ao aparecer de surpresa no local do segundo encontro de Dan e Gaëlle, acaba por atrapalhar o provável romance dos dois.
Lionel avisa-o que Gaëlle o vira com Nicolle, mas é tarde. Ele não sabia seu verdadeiro nome, nem seu endereço ou telefone. A trama termina num molde incomum aos americanos... Sem o feliz pra sempre! No entanto a poesia que envolve todas as cenas, inclusive a última, onde dois irmãos decepcionados se encontram Gaëlle e Thierry. A primeira por se achar enganada por Dan, o segundo porque a última fita VHS emprestada por Charlotte não possuía cenas excitantes. É quando Gaëlle chega e recosta a cabeça no ombro do irmão.


É um roteiro simples, que prende nossa atenção pelos pequenos detalhes, pela beleza da neve, das cores, das relações humanas, e que deixa o final todo aberto ao sabor do público, onde Charlotte pode passar a seduzir Lionel como fazia com Thierry.


Gaëlle pode ou não reencontrar Dan, Nicolle também pode reencontrar sua paixão por Dan. A solidão num inverno em Paris, não dói mais que em qualquer outro lugar, mas é muito mais poético!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Poesia



Dois Amigos Além de Mim


Na estrada em que deixo meus passos
Compor as trilhas duma vida,
Em caminhadas vacilantes,
Serpenteando o chão de vidro,
Encontro gestos em meio ao mato,
Vozes soprando em meus ouvidos,
Olhares vagos e insistentes,
Um rastro azul desconhecido.

E quem me para frente o abismo,
No cume do meu desespero,
São dois sinais de luz na mata
A mirar pedras de tropeço.
E mesmo que seja impreciso,
Algo responde meus lamentos:
“É acre o veneno, mas não mata,”
“Vigora a dor que curte o peito”

E sigo a passos confiantes,
Coração de anjo e olhos de lince,
Atenta a sina que me espera,
Ao medo que chega e não vence,
Pois há dois lumes na manhã
Que me volvem a superfície,
De todo meu sonho de estrela
Que cada dia do céu sumisse.






Post scriptum: Aos meus amigos Adilson José Bezerra e William Reis

"Baseado" em fatos reais

Um americano de 21 anos ligou para a polícia para reclamar sobre a péssima qualidade da maconha que tinha acabado de comprar. A polícia disse que o jovem declarou ter comprado a substância naquele mesmo dia, e que “foi horrível” quando fumou. FOLHA.COM


“Senhores defensores da lei, melhor dizendo, supostos defensores da lei: dirijo-me a Vs. Ss. Para denunciar um fato que reputo da maior gravidade.

Como muitos outros, sou um regular consumidor de maconha. Caso Vs. Ss. Não saibam do que estou falando, e suspeito que não saiba mesmo, porque não se pode confiar no conhecimento das chamadas autoridades, explico-me: estou falando da Cannabis sativa, planta herbácea da família das Canabiáceas.

Ela é muito cultivada em várias regiões do mundo e caracteriza-se pelas folhas finamente recortadas em segmentos lineares, pelas flores unissexuais e, sobretudo, pelo fato de fornecer esta substância que tão grande papel tem em nosso mundo, a maconha, capaz de proporcionar um barato que, ao menos no meu caso, constitui-se experiência insubstituível.

Isso, bem entendido, quando a maconha é de qualidade pelo menos razoável. Não foi o caso do produto que adquiri. Fumei o primeiro baseado, fumei o segundo e nada, senhores policiais, nada, absolutamente nada, nada de nada! Normalmente, sob a ação da maconha, eu vejo o mundo diferente e muito melhor, um lugar de paisagens deslumbrantes, de pessoas agradáveis e simpáticas. Mas, com aquela maconha, nada disso acontecia. O mundo continuava sendo exatamente o mesmo, feio, triste, asqueroso.”


Estive estudando o Código de Defesa do Consumidor, e após ler esta coluna do Moacyr Scliar no Jornal Folha de S. Paulo, passei a imaginar como seria se houvesse a legalização da maconha. Certamente, seus consumidores estariam protegidos pela lei. Mas, que espécie de regulamento haveria de ser criado para garantir o “barato” deles, e quem seriam os fornecedores se não os traficantes?

Existe um jogo de interesses que manipulam a situação de modo que o comércio da maconha permanece na ilegalidade, o que deve gerar mais lucro do que o comércio de cigarros a base de tabaco, por exemplo. É fato que o “charme” das drogas está justamente na sua ilegalidade – a curiosidade não mata apenas o gato, como diz o ditado.

Por outro lado, será que a sociedade está preparada para lidar com as conseqüências de ter drogas nocivas tão acessíveis a partir de um decreto ou, que seja de um plebiscito? Plebiscito lembra o desarmamento. O cidadão comum foi proibido de portar arma de fogo, e realmente este não saberia usá-la, mas continuamos a mercê dos criminosos que não obedecem a plebiscitos: eles sim sabem utilizar armas.


Os mesmos traficantes de drogas são os cidadãos que portam armas ilegalmente. Sem o seu ganha-pão o que será da sociedade sujeita a eles? O real problema da legalização da maconha não são os usuários que não passam de doentes, vítimas do vício, mas o comércio próspero que sobrevive destes viciados, que permite que criminosos subornem seus “clientes”. Uma vez legalizada, um preço fixo será imposto, impostos serão arrecadados, e o viciado sairá das mãos do traficante pra desembocar diretamente na sarjeta com aval da lei.


Mas a criminalidade não vai acabar aí. A saúde pública não vai acabar aí. Há de piorar... Pessimista, eu? Nem tanto. Se algum interesse obscuro for capaz de movimentar forças em favor da saúde pública, como fizeram o governo e a polícia se movimentar contra os traficantes das comunidades do Rio de Janeiro, então eu apoiarei a legalização da maconha.

Sem esse “porém”, essa idéia não passará de paranóia delirante de algum representante federal fiel consumidor da Cannabis Sativa.
Foto: "Gnomos" de Leopoldo Plentz

Hipocrisia

alguns posts atrás, fiz uma reflexão sobre o pecado em relação ao prazer, escrevi exatamente isto: “Ao que parece, quanto mais fugimos da nossa condição humana mais incorremos em erros, caímos na hipocrisia de nos achar melhores que os outros, ou passamos a acreditar-nos guardiões da moral e boa conduta da humanidade. Não há engano maior que este.”

“Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.” (Mateus 23:28)


Como é fácil notar não foi uma grande descoberta minha, pois no Primeiro Testamento já havia citações sobre a hipocrisia. O significado desta palavra quer dizer falsidade, dissimulação das verdadeiras intenções, fingimento. Sua origem grega Hupokrisis significa representar um papel numa peça teatral, atuar. Seu uso, porém passou a designar qualquer tipo de atitude que carecia de sinceridade.


O prazer geralmente é resultante da atenção aos instintos humanos, da fome, do sexo, e outras necessidades aparentemente menos básicas do que estas. E justamente estes instintos vêm sendo há longos períodos condenados por alguns seguimentos como ilícitos, “observância da carne”, e por isso mesmo, passaram a ser praticados sob a máscara da hipocrisia. No sentido do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.



Existem outros atos hipócritas que não nascem da necessidade de dissimular prazeres. Apontar ações supostamente erradas de alguém, enquanto faz pior ou semelhante também é hipocrisia. Todo esse ensaio sobre a hipocrisia – permita-me repetir a palavra, para que ela se fixe na memória daqueles a quem possa interessar – nasceu da definição do termo doce pecado também citado no post mencionado no início deste.

Realmente ficamos sujeitos a erros (ou incorremos em) quando nos negamos a aceitar o óbvio da natureza humana e também porque nos recusamos a admiti-la em público. Quando se pergunta a origem de um nome, não se pergunta quem o criou, quantas pessoas o fizeram, muito menos de que modo. O intuito da pergunta é saber qual o fator que motivou a escolha do determinado nome. Este critério é válido, por exemplo, para nomes de empresas e slogans. É incrível como no Brasil todos os “porquês” tem que ter um “por que”!


"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro." (Mario Quintana)


Slogans são frases ou citações de fácil memorização usadas em contexto político ou comercial como uma expressão repetitiva de uma ideia ou propósito. São uma das bases da propaganda. Quem indicou o nome Magazine Luiza? Alguém sabe? Não. Porém todos sabem que o fator motivador foi o nome da proprietária da marca, D. Luiza Trajano Donato. O Slogan “Vem Ser Feliz!” por sua vez, também ninguém sabe quem criou, mas especifíca o propósito da empresa, que é proporcionar felicidade através do consumo de seus produtos.


Do mesmo modo, uma empresa de chocolates que se chamasse Doce Pecado (vale lembrar que existe uma), pouco importa aos clientes de que modo foi o escolhido o nome mas porquê. E considerando que o consumo do chocolate é um prazer inenarrável, que anda tão condenado pela ditadura da magreza entre outros poréns, o Slogan “Leve Prazer Pra Você” diminuiria um pouco da culpa dos consumidores diante do produto qualquer que seja a conotação que dê a palavra “leve”: Seja no contexto do verbo levar, ou do substantivo leveza. A proposta seria esta. Ou seja, pode até significar "leve leveza pra você, é um prazer do qual você não se furta, então assuma!"


Simples assim. E nem preciso ser especialista em marketing para perceber o feeling da coisa. Por que a polêmica? Por causa da Hipocrisia, sim o velho Hupokrusis. Não é a toa que existia tanta ênfase nesta palavra no maior Best Seller da história. Harry Potter? Não. A Bíblia! ( E essa frase não é minha é de Dan Brown em "O Código da Vinci").

Post Scriptum: Peço licença ao real dono (ou dona) da marca Doce Pecado. Quando criamos o nome, numa sala de aula de um curso técnico, a ideia parecia muito original...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Danças, emoções e "tietagem"

A dança é uma das mais belas expressões corporais que existe. É quando a linguagem natural do corpo se alia a arte e provoca emoções aos expectadores e aos bailarinos. E quando falo dança, me refiro a todas as modalidades, desde o balé clássico ao street dance que, como o nome já diz, começou nos subúrbios, nas ruas e hoje ganhou os palcos.


É interessante a relação da dança como manifestação cultural, como análise política, quando tudo pode virar tema de um belo espetáculo. Como num evento recente que assisti: “Migrações”. Que na verdade foi um evento cultural pra fechar a temporada no município, e, portanto foi um modesto espetáculo, mas por isso mesmo me pergunto: se tanta simplicidade arrancou lágrimas de meus olhos, como eu não me sentiria diante de um evento mais elaborado?


A simplicidade não veio, porém, do promotor do evento, mas da precariedade do espaço liberado pelo município para a apresentação. Infelizmente, há pouco investimento em cultura em Francisco Morato, e a boa vontade encontra grandes obstáculos a cada vez que tenta promover algo de qualidade. E a mesma boa vontade resiste a toda precariedade e tira do mínimo o máximo.


Bem como o povo nordestino que do sufoco das condições climáticas e econômicas tiraram excelentes lições, compuseram ótimas músicas, que serviram de trilha para o espetáculo “Migrações”. A arte e a vida se confundem num palco com jovens artistas, onde alguns estão só começando e outros já estão há tempos na batalha.


Inclusive, o coreógrafo e meu amigo da vida toda, Adilson José Bezerra, também está na batalha há tempos. Tive a honra de vê-lo dar os primeiros passos de dança, e hoje ele corre o mundo dançando e criando, embelezando a paisagem destes países! O que vale ser dito, é que ele não abandonou suas raízes, e sempre que aparece de volta à cidade ele patrocina projetos que capacitam novos jovens a ser como ele: dançarinos competentes, humildes e de caráter. Entre eles a mais jovem bailarina presente, Yasmim, com apenas 10 anos não ficou devendo em nada para as demais! Se todos os jovens fossem dedicados e disciplinados como ela!


Neste evento eu pude notar certos aspectos da pessoa e do coreógrafo Adilson, nada que eu já não soubesse, mas como tinha este post em vista, assisti com um olhar clínico de jornalista (sem maiores pretensões). Desde a trilha, Romaria, Admirável Gado Novo, Asa Branca, entre outros sucessos que representam a saga nordestina pelo Brasil, e outras que falam do ser humano em geral.


O Grupo Evolução devidamente orquestrados pelo Adilson representou com muita qualidade esta proposta, que era apenas uma das propostas do evento, tendo coreografias de salsa, e uma para Ojos Asi de Shakira.


O destaque destas coreografias ficam para o figurino caprichado, que quebra o impacto da proposta inial do figurino dos migrantes nordestinos. E a garota Yasmim também ganha destaque nessa coreografia devido ao posicionamento em cena.


O espaço foi dividido com os bailarinos da Luarte Dance, com suas coreografias de street dance. Devidamente desmarginalizada, a street dance tem como característica movimentos fortes e precisos, só com muito ensaio e talento se consegue fazer uma apresentação destas com categoria.



E foi o caso do grupo da Luarte Dance, onde a coreógrafa Nenê, sabiamente, colocou como destaque a dançarina Renata Octaviano. Exelente dançarina, além de bela (não que as demais não sejam), mas, por favor, permitam-me um pequeno partidarismo neste momento!


Este post, tem por finalidade prestigiar um grande amigo e colaborar com a divulgação de um de seus ideais, demonstrar o quanto admiro trabalhos como o dele, que agora correrá o mundo novamente, em eventos nos navios pelos mares deste mundo de meu Deus!
Ao Adilson, ao grupo Evolução e aos dançarinos da Luarte Dance só desejo sucesso.
Post scriptum: Gostaria de agradecer a Renata Octaviano pelas fotos cedidas para o post. E aos leitores que manifestarem qualquer interesse pelos projetos de dança do coreógrafo Adilson ou da D. Nenê da Luarte Dance é só postar um comentário que o recado será devidamente enviado a quem interessa.


sábado, 27 de novembro de 2010

A "sede" das Olimpíadas


Realmente o cenário da cidade maravilhosa está muito empolgante para promover eventos esportivos! – Mas é só em 2016! – Podem me dizer. Mas o que são seis anos para combater o tráfico que nasceu in long, long time? Nada.


Curioso, que este movimento todo tenha se iniciado após a estreia e sucesso de bilheteria do filme “Tropa de Elite 2”, ficção que dá a entender que o governo estadual tem uma mão no crime, pra não dizer o corpo inteiro! Aliado do narcotráfico, e das milícias, no roteiro de Carlos Padilha, o movimento ilegal foi o verdadeiro responsável pela reeleição do governador. Mas claro, no início do filme eles avisam, que apesar das possíveis coincidências, é uma obra fictícia.


Naturalmente, já que agora estamos vendo uma operação envolvendo parcerias estaduais e nacionais contra os traficantes do Morro do Cruzeiro, e do Morro do Alemão. Aos leigos, como eu, parece uma operação confusa. Tiroteios, tanques de guerra, correria, e os noticiários só mostram inocentes sendo atingidos, e alguns suspeitos de incendiarem os ônibus, o que interessaria mesmo, que é captura dos chefões do tráfico ninguém vê. O que um ônibus incendiado pode promover a favor dos criminosos ou da polícia? É só prejuízo do patrimônio público mesmo. Mas o objetivo deste post é outro.



Quero falar não só da falta de estrutura do Rio de Janeiro e do país inteiro (nada pessoal) para sediar Olimpíadas, Copa, ou o que for. Os Jogos Pan-americanos só correu aparentemente bem, porque o crime é organizado; pagou, o serviço é bem feito.
Mas agora o custo é maior, são dois eventos mundiais, não são só as Américas. É muito mais fácil supor que o topo do organograma do crime está querendo receber proporcionalmente, e é uma escolha que se deve fazer, ou se promove as obras estruturais para os eventos ou cala a boca do crime. O custo das obras não é pouco, esse Brasil velho de guerra sempre deixa tudo pra última hora, ou pro último interesse!

Também é fácil supor que ninguém pensou no pessoalsinho organizado lá da comunidade, quando estavam vislumbrando os lucros que estes eventos trariam para o país, para os cofres e para os bolsos. A “sede” das Olimpíadas e da Copa os fez cair de boca no mar. E água salgada não mata a sede. Mas bala de fuzil mata.

Justifica-se então, todo esse aparato contra o pessoalzinho organizado, duro é pegá-los! Eles sabem honrar o nome, os termos Ordem e Progresso deveriam simbolizá-los e não à Bandeira Pátria. Não estou, contudo fazendo apologia ao crime, apenas reconhecendo os fatos, e fazendo algumas conjecturas que não modificam muito a ordem das coisas.

Aos inocentes das comunidades, espero que saibam ficar tranquilos dentro de suas casas, e deixe a polícia, o BOPE, o exército, a marinha e aeronáutica, fazerem seu trabalho. Forças estas, com exceção das duas primeiras, que são tão ociosas no Brasil. Como se as fronteiras não precisassem de proteção contra o mesmo tráfico.

Esse é o preço da ganância. Quantas prioridades não existem no Brasil para tanto investimento com eventos esportivos? É bom? Sim. Lucrativo? Depende das mãos de quem vai receber o lucro. Terá serventia futuras ao contrário dos estádios africanos? Certamente. Vale o preço? Só Cristo saberá...