terça-feira, 14 de setembro de 2010

Desafiando Gigantes


Este filme aborda através de uma temática simples – as estratégias de um técnico de futebol para levar seu time a êxito num campeonato – várias técnicas de aprimoramento pessoal que automaticamente se refletem nas atividades profissionais de um indivíduo, e que termina por influenciar uma equipe toda. 

Através de um paralelo entre as dificuldades conjugais e profissionais do técnico Grant Taylor (Alex Kendrick), podemos observar uma série de comportamentos que tendem a nos depreciar ou motivar diante de nossos objetivos, desde que estes estejam claramente traçados. Taylor, em sua vida pessoal com a esposa Brooke Taylor (Shannen Fields), sofria com problemas de infertilidade, após tentarem uma gravidez por quatro anos, e fazerem exames para diagnosticar um possível problema, Taylor descobre que o problema era contigo.


Taylor e Brooke
Somado a isto, sua casa também não estava em boas condições, com o fogão quebrado, o aquecedor, o secador de roupas, o carro... Sua vida estava um caos total! E este estado das coisas refletia-se em sua carreira profissional, como técnico de futebol americano de uma escola. Em uma temporada de seis anos, Grant Taylor não conseguia levar seu time, o Shiloh Eagles a uma temporada de vitórias.

Sua postura diante da vida, cada vez mais se sentindo abatido pelos reveses da vida, ia impondo-lhe o estereótipo de derrotado, incompetente, provocando entre a direção da escola a discussão sobre sua possível demissão. Ao ouvir a conversa entre os diretores da escola e administradores do time sobre a demissão, e considerando que os tratamentos de fertilidade são caros, Taylor pensa em desistir de ter um filho, e desistir do time.

É quando entra a personagem que representa sua tomada de consciência de que os fatos falam mais do que as opiniões alheias, de quem não tem em si mesmo as habilidades que ele comporta. Na pessoa de um pastor que lhe apresenta a Bíblia, e através dos versículos que motivaram gerações, Grant Taylor recebe uma inspiração para traçar diretrizes mais sustentáveis para sua vida, como homem e como técnico.

Larry Childers
Existem duas personagens coadjuvantes que enviam mensagens que, junto às experiências de Taylor, formam uma rede de informações e lições. Elas são: Larry Childers (Steve Williams), e seu filho David Childers (Bailey Cave). O último é um jogador de futebol de campo que pretendia entrar no time de futebol americano da escola, mas não acreditava em seu potencial para atingir seu objetivo, seu pai, um homem com deficiência nas pernas, mas plenamente otimista, através de sua sabedoria anciã incentiva seu filho a batalhar pelo seu ideal. Com frase do tipo: “você já está fora do time, então não tem nada a perder”. Ou seja, se David fizesse o teste para entrar e não passasse nada mudaria em sua vida. Já se ele passasse, então seria membro do time!

David Childers
Ao dizer ao filho coisas como “não tenha medo de falhar” ou “suas ações seguem suas crenças” aos poucos foi melhorando a autoestima de seu filho, que enfim fez o teste e ingressa no Shiloh Eagles. De fato David, tal como Taylor, tinha dificuldades em ajustar seu potencial com suas crenças sobre si próprio, e isso acarretava uma série de dificuldades em campo. A princípio Taylor não conseguia manter a disciplina de seus atletas, que eram maus alunos, e perdiam treinos porque cumpriam castigo na detenção da escola. Isto prejudicava a qualidade do time, O Eagles era um time sem diretrizes até o “encontro do técnico com Jesus”.

A Bíblia passou a ser usada como filosofia de vida e do time, porém sem o fanatismo que costuma vir junto com ações desse tipo. Sua fé passou a ser a força motivadora que promoveu as mudanças necessárias para que seu trabalho junto com os jovens atletas do Eagles surtisse efeito positivo; os garotos passaram a estudar a Bíblia junto ao técnico, certamente com algumas resistências, porém com eficácia.

Grant Taylor definiu que o objetivo do time não era apenas jogar por dinheiro, vitórias, bolsas de estudos ou troféus que ficam empoeirados. Mas o importante era darem o melhor de si nos jogos, porque esta era a vocação que Deus dera àqueles garotos, e assim eles fariam, para glória de Deus, os resultados acima citados, seriam conseqüência e não o objetivo principal.






O roteiro gira em torno do fator motivação. A concentração no trabalho em equipe contagia a todos, o comportamento em campo repercute na disciplina dos alunos em sala, melhorando seus desempenhos individuais. A partir deste ponto surgem as recompensas, ao incentivar um aluno a fazer as pazes com o pai, baseado na Bíblia, Taylor recebe como presente um carro novo do pai do garoto; também recebe um aumento de salário, e aprende a superar melhor uma derrota sem se abater. Adquire autoconfiança.






David, inspirado pelo clima do time, também, compreende que sua crença, como seu pai dizia, era o que o limitava e não sua falta de capacidade. Com muito treino, e consciência na hora do chute, para não deixar-se invadir pelo seu pensamento dominante de que não iria conseguir antes mesmo de chutar, David deixa de sentir-se o garoto frágil, e vai junto com o time para a final do campeonato contra o tradicional time de vitoriosos: Os Gigantes (The Giants).



Os Gigantes


Aqui entra um ponto de vista empresarial interessante: A tradição x A variação de mercado. Os Gigantes tinham a qualidade adquirida pelas suas vitórias, porém eram extremamente previsíveis! O Shiloh Eagles por sua vez, era novidade sob aquela nova filosofia. Só o fato de eles estarem na final já era surpreendente, e os tornava imprevisíveis.



Ao treinar a resistência de seus defensores – como é demonstrado na cena em que Bobby Lee Duke (Jim McBride) atravessa a quadra inteira, apoiado nas próprias mãos e nas pontas dos pés, e com um colega de 68 kg nas costas! – e os chutes de David, Taylor definiu a estratégia vital de seu time.

Bobby Lee em treinamento
Ao subestimar a eficiência de defesa do Eagles, os Gigantes partem para o ataque, e são blindados por quatro excelentes defesas de Bobby e os demais, e para virar o placar de uma vez, Taylor dá o voto de confiança a David, que necessitava chutar a uma distância de 50 jardas, seu pai Larry Childers, para motivá-lo ainda mais se levanta da cadeira de rodas, pendura-se nas traves verticalmente. Então, ao chutar David garante ao Shiloh Eagles a vitória com a diferença de um único ponto! Para a glória de Deus.

Enfim, o filme não fala diretamente sobre religião embora tenha sido produzido pela Igreja Batista, em Albany, Nova York, e dirigida por um membro da mesma, Alex Kendrix – que também interpreta o personagem principal. Além da filosofia cristã, houve diretrizes estratégicas de trabalho em equipe, cooperação, atenção, e tomada de decisões com autoconfiança, o resultado ficou muito bom.

É um filme que nos atinge tanto emocionalmente como racionalmente, embora os críticos cinematográficos não tenham dado valor ao filme (demasiado simples e barato para receber aplausos da crítica), é fácil compreender certas dinâmicas empresariais dentro de um contexto como o campeonato de futebol, demonstrado pelo filme. Foi um excelente investimento da Sony Pictures.



sábado, 11 de setembro de 2010

O Diário de Anne Frank



"Quando escrevo sinto um alívio, a minha dor desaparece, a coragem volta... Ao escrever sei esclarecer todos os meus pensamentos, os meus ideais, as minhas fantasias". Anne Frank


Anexo
O Diário de Anne Frank é um relato de uma menina de 13 anos, judia, nascida em Frankfurt (Alemanha), refugiada da Segunda Guerra em Amsterdã (Holanda). Pertencente a uma família de quatro pessoas, junto com mais quatro amigos refugiados, a família Van Dann e o dentista Dussel, Anne passa a habitar um esconderijo infecto, que era um balcão dentro de um prédio comercial, assim que a Alemanha, por conta do nazismo segregacionista de Hitler, invadiu a Holanda, para onde a família Frank tinha se mudado em busca de paz. 

Em meio àquela histeria Nazista, e racionamento de bens materiais e de subsistência, Anne, em pleno florescer da adolescência passa a se "corresponder" com uma amiga imaginária: Kitty. Na verdade, seu diário era a Kitty, presente de uma tia Leny Frank, em seu último aniversário como cidadã livre, serviu pra que a mente de Anne se refugiasse daquela tensão que abatia sua família e os quatro membros que habitavam com eles no "Anexo", apelido do esconderijo.

É uma história real, que faz pensar qualquer pessoa que se diz deprimida por causas tão amenas... Mas também é conhecido pelos filósofos da Guerra que estas situações limite "tanto mais revelam as virtudes, quanto a prosperidade revela os vícios"¹.

Foto tirada antes do exílio
Então Annelies não fugiu a regra quando em meio ao tormento de imaginar seus amigos sendo massacrados, e a iminente perspectiva de serem descobertos em seu esconderijo, Anne descreveu com riqueza de detalhes suas divagações sobre a vida, suas crises de adolescência, seus anseios sexuais, e suas inteligência para tratar de assuntos políticos, que eram relatados através do rádio de pilhas que amigos do "mundo externo" lhe ofereciam.

A família Frank era bem sucedida antes do tempo do Holocausto, por isso ainda puderam manter bons relacionamentos que o ajudaram a sobreviver enclausurados por dois anos. Miep Giels era uma das pessoas que ajudaram a família, e não chegou a ser punida pela ajuda voluntária a refugiados. Foi também quem guardou o Diário de Anne Frank após a mesma ter sido levada para o campo de concentração em Auschwitz, na Polônia.


"Com meu diário, quero dizer que pretendo ir mais adiante; não posso me imaginar vivendo como minha mãe ou a sra. Van Daan e todas aquelas mulheres que cumprem suas obrigações e mais tarde são esquecidas. Eu preciso ter algo mais que um marido e filhos, algo a que possa me devotar totalmente. Quero continuar vivendo depois da minha morte..." (20 de junho de 1942)


A clareza de espírito de Anne é impressionante. Quem em meio a guerra preocupa-se em filhos, vida familiar ou exemplos a seguir? Na verdade não é tão incomum assim, nós das últimas gerações que não convivemos com as guerras tal como eram no passado, que não compreendemos que os mecanismos de defesa da mente se vale dos mais singelos atos do cotidiano pra refrigerar a alma da intensa agonia que a morte iminente causa.

A doença crônica, ou tida por incurável, é uma espécie de morte iminente, por isso não estou tão longe dessa realidade, embora justamente isso me faça viver ainda mais!

"Preciso tornar-me boa através de meu próprio esforço, sem exemplos e sem bons conselhos. Então, mais tarde, deverei ser bem mais forte. Quem além de mim lerá estas frases? A não ser comigo, com quem posso contar? Um sem-número de amigos foram para um triste fim. Ninguém é poupado, cada um e todos se juntam na marcha da morte." (20 de outubro de 1942)



Meus amigos ... qual fim tiveram? De sorte não deve ter sido um trágico como os de Anne, em plena Segunda Guerra Mundial, mas quantos eu sequer tenho notícias? Terão de fato sido meus amigos, se eu sequer sei deles? Terei eu sido amiga deles?


"Não acredito que apenas os homens de projeção, os políticos e os capitalistas sejam culpados pela guerra. Não, o homem comum também é... Há uma urgência nas pessoas em destruir e matar, e até que toda a humanidade, sem exceção, passe por uma grande mudança, as guerras se sucederão." (3 de maio de 1944)
Entrada de Auschwitz


Tantos anos se passaram desde estas frases de Anne, e a mudança esperada ainda não ocorreu e guerras se sucedem... nem me refiro ao Oriente médio, basta olhar as comunidades brasileiras, as periferias. E nem é culpa dos "líderes" de Brasília... Mata-se por tão pouco!


"É realmente inexplicável que eu não tenha deixado de lado todos os meus ideais, porque eles parecem tão absurdos e impossíveis de se concretizarem. Mesmo assim eu os conservo, porque ainda acredito que as pessoas são boas de coração. Simplesmente não posso edificar minhas esperanças sobre alicerces de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo gradativamente se tornando uma selvageria. Escuto o trovão se aproximando, cada vez mais, o que nos destruirá também; posso sentir o sofrimento de milhões e ainda assim, penso que tudo irá se corrigir, que esta crueldade também terminará. Enquanto isso, preciso adiar meus ideais para quando chegarem os tempos em que talvez eu seja capaz de alcançá-los." (15 de julho de 1944)
Perseverante até o penúltimo mês de vida.

Annelis Marie Frank, foi capturada junto com sua família, levada a um campo de concentração. Junto com outras prisioneiras selecionadas para trabalhos forçados, Anne foi obrigada a ficar nua para ser "desinfetada", teve a cabeça raspada e um número de identificação tatuado no braço. Durante o dia, as prisioneiras eram obrigadas a trabalhar. À noite elas eram reunidas em barracas geladas e apertadas. As péssimas condições de higiene propiciavam aparecimento de doenças. Anne teve sua pele vitimada pela sarna.

No dia 28 de outubro, Anne, Margot (a irmã) e a senhora Van Dans foram transferidas para um outro campo, localizado em Bergen-Belsen, na Alemanha. A mãe, Edith, foi deixada para trás, permanecendo em Auschwitiz. Em março de 1945, uma epidemia de tifo, doença transmitida por parasitas, se espalhou pelo campo de Bergen-Belsen.

Estima-se que cerca de 17 mil pessoas morreram por causa da doença. Entre as vítimas estavam Margot e Anne, que morreu com apenas 15 anos de idade, poucos dias depois de sua irmã ter morrido. Seus corpos foram jogados numa pilha de cadáveres e então cremados*.-"





Seu pai Otto Frank, único sobrevivente, foi quem publicou o diário em 1947, devidamente editado, evitando os trechos que tratavam da sexualidade da filha, entre outra coisas e bem como queria, Anne sobreviveu a sua morte, pois ainda falamos dela, após 65 anos do ocorrido.




¹: Frase de Francis Bacon em "Of Adversity"










Trecho de "O Diário de Anne Frank"

De: "O Diário de Anne Frank":


Annelies Marie Frank
Terça-feira, 1 de Agosto de 1944

Querida Kitty:



"Pequeno feixe de contradições". Foi esta a última frase da minha carta anterior e é a primeira da de hoje. "Um feixe de contradições", poderás tu explicar-me, com exatidão,o que isto quer dizer? O que é contradição? Como todas as palavras, tem dois sentidos : contradição exterior e contradição interior.

O primeiro é este: não se conformar com a opinião dos outros, quer saber tudo, quer ter sempre a última palavra, enfim: qualidades desagradáveis de que me acusam. O segundo ninguém conhece, o segredo é meu.

Já te contei em tempos que não tenho só uma alma mas sim duas. Uma dá-me a minha alegria exuberante, as minhas zombarias a propósito de tudo, a minha vontade de viver e a minha tendência para deixar correr, isto é, para não me escandalizar com flertes, abraços ou uma piada inconveniente. Esta primeira alma está sempre à espreita e faz tudo para suplantar a outra que é mais bela, mais pura, mais profunda. Essa alma boa da Anne ninguém a conhece, não é verdade?

E é por isso que tão pouca gente gosta de mim. Bem o sei: vêem em mim um palhaço divertido para uma tarde, depois toda a gente fica farta de mim por um mês. É como um filme amoroso para gente séria, uma simples distração, um divertimento, nada de especial. Não me é agradável contar-te isto, mas, por outro lado, porque não o havia de contar se é a pura verdade? Este meu lado superficial tentará sempre afastar o outro, o mais profundo, e alcançará, por isso, a vitória.

Não podes fazer ideia de quantas vezes tenho tentado repelir, espancar ou esconder esta Anne, que não passa da metade daquilo que se chama Anne; mas não serve de nada, e bem sei porquê. Tenho medo de que todos os que me conhecem, tal como costumo ser, possam descobrir o meu outro lado, o mais belo, o melhor. Tenho medo de que trocem de mim, me achem ridícula e sentimental, e não me tomem a sério. Estou habituada a não ser tomada a sério, mas é justamente a Anne mais "fácil" que suporta isso; a "mais profunda"não tem forças para tanto.

Empurro por vezes a boa Anne para a luz da ribalta, mesmo que seja por um escasso quarto de hora, mas logo que ela tem de falar, contrai-se e fecha-se de novo na sua concha, passando a palavra à Anne número 1. E antes que eu me dê conta, já a boa desapareceu. É por isso que a Anne terna e simpática nunca vem à superfície na presença das outras pessoas mas é a sua voz que domina na solidão.

Sei exatamente como gostava de ser, sei como sou... no íntimo, mas, infelizmente, só sou assim quando estou sozinha comigo. E isto é, talvez, não seguramente, a razão por que chamo à minha natureza íntima uma natureza feliz e porque os outros chamam feliz à minha natureza exterior. No meu interior, a Anne pura é que me indica o caminho; exteriormente, não passo de uma cabrita que pula de alegria e de animação.

Como eu já disse, vejo e sinto as coisas de um modo e exteriorizo-as de outro e tenho, por isso, a fama de ser uma rapariga doida por rapazes, sempre a flertar, sempre impertinente e sempre a ler romances. A Anne alegre ri-se, dá respostas atrevidas, encolhe os ombros com indiferença como se isso nada tivesse que ver com ela, mas, ai de mim!, a Anne calada reage ao contrário. Como sou sempre franca contigo, vou confessar-te que tenho pena, que me esforço terrivelmente por me modificar, mas que luto sempre contra forças superiores às minhas. Dentro de mim uma voz sussurra: -Vês o resultado? Más opiniões a teu respeito, caras trocistas e consternadas, gente que te acha antipática, e tudo isto porque não queres ouvir os conselhos do teu próprio lado bom.

Ai! Bem os queria eu ouvir, mas não pode ser; quando estou calada e séria, todos pensam que estou a representar uma nova comédia. Para me salvar só me resta dizer uma piadinha. (...) para, em seguida, censurarem o meu mau génio. Não suporto semelhante coisa. Quando me tratam desta maneira, torno-me ainda mais impertinente, fico triste e, por fim, viro o meu coração do avesso- o lado mau para fora, o bom para dentro-e continuo a procurar um meio para vir a ser aquela que gostava de ser, que era capaz de ser, se... sim, se não houvesse mais ninguém no Mundo.

Tua Anne M. Frank

Post scriptum: Como poderia deixar de citar o último capítulo manuscrito da vida de Anne Frank, quando o mesmo diz tanto de mim, ao mesmo tempo que trata de uma realidade tão distante da minha... Como o trágico acrescenta beleza à vida!


O Diabo Veste Prada



Um bom filme para acirrar a discussão sobre a imagem pessoal no mercado de trabalho chama-se O Diabo veste Prada. Pra quem não sabe Prada é uma marca italiana obrigatória para quem quer ser fashion, quem quer ser elegante e para quem tem bala na agulha.

Desde que iniciei meus cursos de assistente administrativo, e agora meu técnico em administração Andy Sachs (Anne Hathaway) é minha referência. Andy recém formada em jornalismo consegue um emprego como assistente de Miranda Priestly (Meryl Streep) na revista Runway (inspirada na Vogue). Porém, a princípio o emprego não corresponde às suas expectativas, apesar de ser "o emprego que um milhão de garotas morreriam para conseguir", Miranda sobrecarrega Andy de tarefas, fora da sua área de atuação, como providenciar seu almoço, ou a versão do Harry Potter que ainda não foi lançada pra suas filhas!


Andy, contudo, cumpre todas suas tarefas extras, conseguindo inclusive o contato da J.K Rowling, autora de Harry Potter, que lhe dispõe os textos do livro a ser lançado. Sua imagem pessoal porém, entra em conflito com o ambiente em que se propôs a trabalhar. Demasiadamente rústico, sem estilo e impessoal, Andy se vê diante se uma polêmica discussão sobre si própria. 


Esse trabalho exigiu-lhe uma grande transformação, pois para ela os modismos não passavam de futilidades, e só as modelos necessitavam de glamour, uma assistente só precisava saber lidar com papéis, agendas e arquivos. Porém Nigel (Stanley Tucci), o único homem a trabalhar na Runway, começa aos poucos a trasmitir-lhe novos valores a respeito da moda, promovendo inclusive um belo banho de loja em Andy, e ensinando-lhe a demarcar os traços de sua natural beleza, que ficavam obscuros atrás de seu estilo démodé.



Essa transformação gerou conflitos em suas relações pessoais, com sua amiga Lilly (Tracie Thoms) e o namorado Natie (Adrian Granier), pois estes achavam que Andy estava ficando superficial como todas aquelas glamorosas que ela criticava nos tempos de faculdade de jornalismo. Mas não era bem assim. Existe sim certa superficialidade no mundo da moda, mas não no ramo profissional; Miranda era uma mulher de fibra, rigorosa, exigente, conhecida como tirana e impassível, no entanto o meio em que vivia exigia-lhe esse método, uma empresária de sucesso num mundo de capitalismo machista, deveria saber ditar suas próprias regras e se fazer obedecer.


Andy como uma moça inteligente, que afinal era sua melhor qualidade, com ou sem o refino das grifes que a embalavam, soube identificar essa característica em Miranda, e conquistar sua confiança, enquanto várias assistentes eram tratadas pelo nome de Emily, que era o nome da secretária de Miranda (Emily Blunt), Andy aos poucos conseguiu ser chamada pelo próprio nome, o que já era um sinal de respeito que sua chefe lhe dedicara, mesmo sem sair do salto Prada, mantendo sua arrogância habitual.


Andy aos poucos foi adentrando cada vez mais no mundo da moda, participando de eventos ao lado de Miranda Priestly, com um roteiro que incluiu Paris - o centro fashion do mundo - indo no lugar de Emily que quebrou a perna antes da viagem. Para Emily foi um golpe, uma traição, pois ela era a secretária pessoal de Miranda, e Andy sua assistente!

Tomando tudo que vivenciava como experiência, Andy Sachs resolveu se despedir da Runway, e procurar uma vaga como jornalista, que era a carreira que havia escolhido, e para a qual era formada. Esse gesto decepcionou Miranda, ao passo que alegrou Natie e Lilly, porém Andy nunca mais voltou a ser aquela moça desajeitada, pois sua temporada como assistente de Miranda lhe ensinara a seguir as regras do jogo, e apesar de manter certa elegância, Andy se desfez das roupas de grife francesas que adquiriu na viagem, dando-as para Emily, que era quem de fato merecia.


Andy e Miranda, apesar da hierarquia que sobrepõe uma a outra, são duas mulheres guerreiras e decididas, que souberam tirar lições da vida, e uma acrescentou muito à outra, afinal o mundo não nos espera, e a pressa de Miranda deu autenticidade e dinamismo à vida de Andy, já a lealdade e valores éticos de Andy provaram à Miranda que ainda existem pessoas confiáveis, o que foi demonstrado no gesto de gratidão de Mirando ao passar a carta de recomendação ao novo chefe de Andy, dizendo que se ele não a admitisse, estaria cometendo uma loucura.


Ou seja, se por um lado pareceu que Andy traiu seu ego, deixando-se seduzir pelo luxo, em nome de um emprego, a visão mais correta seria que ela agregou o luxo aos seus valores morais, assim que percebeu que a futilidade não está nos bens materiais, nem mesmo no valor deles, mas na atitude de quem os utiliza, no caráter destas pessoas. Andy e Miranda vestindo Prada ou não serão sempre mulheres de grande estirpe, a diferença é que a regra capitalista exige de uma essa grife enquanto pretender trabalhar no ramo da moda, já Andy, como jornalista talvez não necessite mais, embora sempre possa usar, sem que isso lhe acrescente valor, mas beleza!


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sou da Freguesia do Ó


Punk da Periferia
Gilberto Gil

Das feridas
Que a pobreza cria
Sou o pus
Sou o que de resto
Restaria aos urubus
Pus por isso mesmo
Este blusão carniça
Fiz no rosto
Este make-up pó caliça

Quis trazer assim
Nossa desgraça à luz...












Sou um punk da periferia
Sou da Freguesia do Ó                                  
Ó! Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó!
Aqui prá vocês!
Sou da Freguesia...(2x)

Ter cabelo
Tipo índio moicano
Me apraz!
Saber que
Entraremos pelo cano
Satisfaz!
Vós tereis um padre
Pra rezar a missa
Dez minutos antes
De virar fumaça
Nós ocuparemos
A Praça da Paz...

Sou um punk da periferia
Sou da Freguesia do Ó
Ó! Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó!
Aqui prá vocês!
Sou da Freguesia...(2x)

Transo lixo
Curto porcaria

Tenho dó
Da esperança vã
Da minha tia                                                
Da vovó
Esgotados
Os poderes da ciência
Esgotada
Toda a nossa paciência                             


Eis que esta cidade                              
É um esgoto só...

Sou um punk da periferia
Sou da Freguesia do Ó
Ó! Ó Ó Ó Ó Ó Ó Ó!
Aqui prá vocês!
Sou da Freguesia...(5x)



Tempo Presente

"Timeo Et dona ferentes"
"Temo os que trazem presentes... " Eneida, de Virgílio


A única vez que revelei esta minha crença à alguém, resultou que este alguém nunca me deu uma bala de presente. Entretanto, este mesmo alguém não deixou de ser especial para mim, posso inclusive dizer ao contrário, pois por nada dever à ele, nem favores, nem retorno de presentes, o afeto que sinto tornou-se muito mais genuíno, mais sincero. É tão bom amar a troco de nada!

Presentear tornou-se uma ato mecânico e não mais uma demonstração de carinho. é um ato globalizado, basta observar os feriados pascais, Natal, Dias dos pais, das Mães, dia disso, daquilo...Virou um pretexto para o consumo, pouco importa a intenção de quem vai presentear, este muitas vezes também já está condicionado ao que eu chamo de "datas específicas".

Presentear virou obrigação, e qual de nós já não se sentiu desvalorizado por não  ter ganho um presente material? Por mais que o valor do presente não represente nada mais do que a disponibilidade de gastar de quem presenteou, muitas vezes associamos nosso valor ao presente. 

Pensando assim, quão baratos somos! Valemos algo quantitativo, temos um valor monetário no mercado? Não, eu não sou assim, não estou em liquidação, também não estou inflacionada. Muito mais valor deu a mim, aquela pessoa que não me deu nada material, mas muitos anos de amizade, companhia, atenção e amor... de um jeito muito peculiar (à distância), mas amor! Sua atitude não significa egoísmo, mas o quanto dera valor ao que eu pensava e sentia.

Mas as pessoas não sabem mais pensar assim. Felizes ainda são as crianças que não trabalham, logo não se sentem culpadas por não poderem presentear ninguém. Quantos de nós já não recebemos presentes de pessoas que mal falavam conosco, e "lembraram de você no dia do seu aniversário"; no ambiente de trabalho isso acontece muito, fica bonito mostrar que podemos gastar até com quem não admiramos tanto assim.

A verdade é que eu gostaria de presentear todas as pessoas que eu amo. Mas o valor do meu presente jamais vai corresponder ao tamanho do meu afeto - por mais caro, é muito pouco! - Se eu pudesse me valer das palavras para presentear a todos... palavras são gratuitas, ninguém cobra para dizê-las (os psicólogos cobram para ouvi-las), eu diria a todos que me leem neste exato momento, que eu escrevo porque necessito dizer que os amo, se for seu aniversário: parabéns, se não, parabéns também! Pra quê esperar o tempo para desejar que sejas feliz? 


Quanto a mim, também, todo o meu amor. E se aprendi alguma coisa nessa vida foi que nem sempre quem mais gasta por você é quem mais te gosta. E nem sempre quem não tem a mesma facilidade de expressar sentimentos que eu tenho, não sabe amar, ao contrário. 

Deem afeto, o resto é vanitas, vanitatum, et omnia vanitas! 
("Vaidade, vaidade, é tudo vaidade!" - Eclesiastes 1:2)  
  

Poesia - Manoel Bandeira

                                                    (Louvre)
Adeus, amor







O amor disse-me adeus, e eu disse: “Adeus,
Amor! Tu fazes bem: a mocidade
Quer a mocidade.” Os meus amigos
Me felicitam: “Como estás bem conservado!”
Mas eu sei que no Louvre e outros museus, e até no nosso
Há múmias do velho Egito que estão como eu bem conservadas.
Sei mais que posso ainda receber e dar carinhos e ternura.
Mas acho isso pouco, e exijo a iluminância, o inesperado,
O trauma, o magma... Adeus, amor!
Todavia não estou sozinho. Nunca estive. A vida inteira
Vivi em tête-à-tête com uma senhora magra, séria,
Da maior distinção.
E agora até sou seu vizinho
Tu que me lês adivinhaste ela quem é.
Pois é. Portanto digo: “Adeus, amor!”
E à venerável minha vizinha:
“Ao teu dispor! Mas olha, vem
Para a nossa entrevista última,
Pela mão da tua divina Senhora
- Nossa Senhora da Boa Morte”.




Manoel bandeira






















Post Scriptum: Guardo o poema pela beleza dos versos, não prezo a referência a nenhuma "nossa senhora".