sábado, 19 de fevereiro de 2011

Critérios de Avaliação ou Preconceito?

Vivendo e aprendendo! Recentemente tive acesso aos “critérios de avaliação” de uma universidade privada relativamente famosa, e fiquei um tanto quanto decepcionada, justamente por se tratar de uma instituição de ensino, as quais eu tenho em alta estima.



A princípio gostaria de colocar aqui os critérios de avaliação da Redação do Enem(Exame Nacional do Ensino Médio) a título de comparação:



1. Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita;

2. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo argumentativo;

3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;

4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;

5. Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, demonstrando respeito aos direitos humanos;

Como é fácil observar, o ministério da educação frisa alguns pontos fundamentais que se espera avaliar numa redação de acordo com o ensino básico a que todos nos submetemos, quiçá os que chegam a concorrer uma vaga no ensino superior.
O meu espanto está em saber que uma docente responsável pela banca examinadora das redações de uma universidade, tem como critério fundamental a religião ou o time dos participantes! Melhor dizendo, eles não admitem fanáticos religiosos que querendo ou não vão transmitir ainda que moderadamente suas crenças no texto, dependendo do tema, ou ainda os fanáticos por agremiações, vulgo time, ou qualquer outro fanatismo.


Aí eu me pergunto, ainda que o texto esteja dentro do padrão Enem de avaliação, o candidato será reprovado caso tenha uma fé abundante? Analisando meus posts anteriores sobre o Pequeno Príncipe, utilizei N passagens bíblicas como argumentação, eu posso ser considerada fanática? Opiniões não são em geral condenadas desde que respeitem a estrutura do texto dissertativo argumentativo. Já o desrespeito aos DIREITOS HUMANOS é sim condenável! Todos temos livre direito a expressão religiosa e/ou dogmática, ainda que alguns possuam por religião o Corinthians ou o Flamengo! – sem preconceitos, citei os dois apenas por terem as torcidas que melhor expressam seu amor e até devoção por seus times.



Fico pensando no esforço em vão dos desavisados deste critério que deram o melhor de si em suas redações e foram reprovados por terem transparecidos demais suas crenças. E aos avisados, poupem seus esforços, podendo pagar a mensalidade - sem atraso - vocês podem até escrever em linguagem de bate-papo sua redação, basta não citar Jesus ou Corinthians, São Paulo então... Nem pensar, pois além de time é santo!


Post Scriptum: Não quero, contudo, desmerecer os candidatos aprovados, desejo que eles possam se dedicar mais aos seus estudos e tirar deles proveito melhor do que a comissão julgadora de docentes que corrigiu suas redações. E sobretudo espero que o ensino seja melhor do que os critérios de avaliação!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Pequeno príncipe - Final - Aos administradores:


Este é o último capítulo que trago a baila, desta curta porém intensa obra literária francesa. Trata-se do capítulo que se refere ao “homem de negócios”, ao administrador que se julgava muito sério.



- Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu : " Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério ! " e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo! "









"O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
- Bom dia, disse-lhe este. O seu cigarro está apagado.
- Três e dois são cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia. Quinze e sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não há tempo para acender de novo. Vinte e seis e cinco, trinta e um. Uf! São, pois quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e dois mil, setecentos e trinta e um.



- Quinhentos milhões de que ?
- Heim ? Ainda estás aqui ? Quinhentos e um milhões de... Eu não sei mais... Tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias ! Dois e cinco, sete...
- Quinhentos milhões de que ? Repetiu o principezinho, que nunca na sua vida renunciara a uma pergunta, uma vez que a tivesse feito.

O homem de negócios levantou a cabeça :
- Há cinquenta e quatro anos que habito este planeta e só fui incomodado três vezes. A primeira vez foi há vinte e dois anos, por um besouro caído não sei de onde. Fazia um barulho terrível, e cometi quatro erros na soma. A segunda foi há onze anos, por uma crise de reumatismo. Falta de exercício. Não tenho tempo para passeio. Sou um sujeito sério. A terceira... É esta! Eu dizia, portanto, quinhentos e um milhões...
- Milhões de que ?

O homem de negócios compreendeu que não havia esperança de paz :

- Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os ociosos. Eu cá sou um sujeito sério. Não tenho tempo para divagações.
- Ah! Estrelas ?
- Isso mesmo. Estrelas.
- E que fazes tu de quinhentos milhões de estrelas ?
- Que faço delas ? Nada. Eu as possuo.
- E de que te serve possuir as estrelas ?
- Serve-me para ser rico.
- E para que te serve ser rico ?
- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.

- E que fazes tu com elas ?
- Eu as administro. Eu as conto e reconto, disse o homem de negócios, É difícil. Mas eu sou um homem sério !
O principezinho ainda não estava satisfeito.
- Eu, se possuo um lenço, eu posso colocá-lo em torno do pescoço e leva-lo comigo. Se possuir uma flor, posso colher a flor e levá-la comigo. Mas tu não podes colher as estrelas.
- Não. Mas eu posso colocá-las no banco.
- Que quer dizer isto ?
- Isso quer dizer que eu escrevo num papelzinho o número das minhas estrelas. Depois tranco o papel à chave numa gaveta.
- Só isto ?
- E basta...
É divertido, pensou o principezinho. É bastante poético. Mas não é muito sério.
O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, ideias muito diversa das idéias das pessoas grandes.





- Eu, disse ele ainda, possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe. É útil para os meus vulcões, é útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não é útil às estrelas...




O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder, e o principezinho se foi...
As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso da viagem. "






Nem discutirei a simplicidade do homem que acreditava possuir as estrelas, e ainda cria que isso pudesse fazê-lo rico. É comum pensar que o que não tem dono podemos tomar posse, mas quem disse que as estrelas não têm dono?


Mas o enfoque aqui é outro, pretendo exercitar minha profissão. Existe o Código de Ética do Administrador, que regula a conduta dos profissionais desta área. Analisando o dito “homem sério” sob as normas deste código, superficialmente ele estaria dentro do regulamento.

Primeiro, segundo os Deveres, dentro do Art. 1º, §XI, o homem cumpria fiel e integralmente as obrigações e compromissos assumidos, relativos ao exercício profissional; e cumpriu seu dever de acordo com o Capítulo I, Art. 1°, §IX, ao informar sua incapacidade, ainda que momentânea, para o exercício da função devido ao reumatismo. Creio que lhe caberia uma indenização não fosse um porém, que citarei adiante.


O homem era realmente muito eficiente, mas era de um egoísmo enorme, criou uma empresa pra si, trabalhava só pra si e isso fere diretamente o Código de Ética do Administrador; no preâmbulo, §III, consta que o CEPA (Código de Ética do Profissional de Administração) é um estimulo para que os profissionais ampliem sua capacidade de pensar, visualizar seu papel e tornar suas ações mais eficazes diante da sociedade, ou seja, era seu dever como cidadão e como profissional, contribuir para o incessante progresso das instituições sociais e dos princípios legais que regem o país, ou no caso da fábula, o Universo.


Aquele cogumelo, como bem disse o principezinho, palavra sinônima de parasita, que vive à custa alheia, tomou para si as estrelas, que não foram fruto de trabalho seu, e julgando administrá-las formou uma empresa que não contribui com coisa nenhuma, que se impõe como se fosse algo não sendo nada, e aqui está a razão de que nem uma indenização pelo reumatismo esse homem pode requerer, uma vez que sua empresa não está sujeita a nada, a quem recorreria?


Nem a si próprio, uma vez que aquilo que ele faz questão de possuir não tem valor material. “É poético”, disse o principezinho. Ele quis ser dono das estrelas e não possuía a si mesmo; daria uma amarga elegia. E por fim, para um administrador ele tinha uma visão demasiado curta, seu negócio não tinha para onde prosperar, Le Petit Prince ao menos visitava as estrelas e asteróides a fim de se instruir e o “homem sério”?








Então, a nós administradores: Cresçamos e ampliemos nossos horizontes pelo bem da classe, a menos que nos contentemos em ser meros cogumelos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pequeno Príncipe - Parte IV "Cuidado com o baobás!"


"Vim a conhecer, no terceiro dia, o drama dos baobás:
- É verdade que os carneiros comem arbustos?
- Sim. É verdade.
- Ah! Que bom!
Não compreendi logo porque era tão importante que os carneiros comessem arbustos. Mas o príncipezinho acrescentou :
- Por conseguinte eles comem também os baobás?

Fiz notar ao príncipezinho que os baobás não são arbustos, mas árvores grandes como igrejas. E que mesmo que ele levasse consigo todo um rebanho de elefantes, eles não chegariam a dar cabo de um único baobá.
Mas notou, em seguida, sabiamente :
- Os baobás, antes de crescer, são pequenos.
- É fato!

Com efeito, no planeta do príncipezinho havia, como em todos os outros planetas, ervas boas e más. Por conseguinte, sementes boas, de ervas boas; sementes más, de ervas más. Mas as sementes são invisíveis. Elas dormem no segredo da terra até que uma cisme de despertar. Então ela espreguiça, e lança timidamente para o sol um inofensivo galhinho. Se for de roseira ou rabanete, podemos deixar que cresça a vontade. Mas quando se trata de uma planta ruim, é preciso arrancar logo, mal a tenhamos conhecido.

E um baobá, se a gente custa a descobri-lo, nunca mais se livra dele. Atravanca todo o planeta. Perfura-o com suas raízes. E se o planeta é pequeno e os baobás numerosos, o planeta acaba rachando.

"É uma questão de disciplina, me disse mais tarde o príncipezinho. Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta. É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distingam das roseiras, com as quais muito se parecem quando pequenos. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução".

Às vezes não há inconveniente em deixar um trabalho para mais tarde. Mas, quando se trata de baobá, é sempre uma catástrofe. Conheci um planeta habitado por um preguiçoso. Havia deixado três arbustos... "









Grandes como igrejas”. Essa frase desencadeou todo meu raciocínio para este post, que na verdade foi uma ideia anterior a todos os outros relativos à fábula. Hoje as igrejas não são grandes, são monstruosas, os Baobás por maiores que fossem não alcançam a grandiosidade dos templos hoje chamados igrejas, mas na ocasião para o autor foi uma boa imagem de algo que cresce desordenadamente por descuido de uma verdade anunciada; para danação humana.


Hoje poucos se reúnem somente ao Nome do Senhor Jesus Cristo, como no principio do que a Bíblia considera a igreja, existem muitas denominações que lutam entre si ferrenhamente por suas próprias causas, para possuírem o direito restrito sobre o ministério cristão e recorrem a todo tipo de crendices para garantir supremacia.

Definitivamente estes não são bons frutos, pois separam os filhos de Deus segundo orientações humanas e nem preciso entrar no mérito da questão.

“Não gosto de tomar o tom de moralista. Mas o perigo dos baobás é tão pouco conhecido, e de tão grandes riscos (...) que, ao menos uma vez, faço exceção à minha reserva. E digo portanto: “Meninos! Cuidado com os baobás!” Para advertir meus amigos de um perigo que há tanto tempo os ameaçava, como a mim, sem que pudéssemos suspeitar.” (Antoine de Saint Exupéry)

O Pequeno Príncipe, Parte III Um rei razoável




Vanitas, vanitatum et omnia
vanitas! (Ecl 1:2)

Vaidade das vaidades, é tudo
vaidade!




"Ele se achava na região dos asteróides 325, 326, 327, 328, 329, 330. Começou pois a visitá-los, para procurar uma ocupação e se instruir.

O primeiro era habitado por um rei. O rei sentava-se, vestido de púrpura e arminho, num trono muito simples, posto que majestoso.






- Ah! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o príncipezinho.

E o príncipezinho perguntou a si mesmo :
- Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu ?
Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os homens são súditos.
O rei fazia questão fechada que sua autoridade fosse respeitada. Não tolerava desobediência. Era um monarca absoluto. Mas, como era muito bom, dava ordens razoáveis.


Mas o príncipezinho se espantava. O planeta era minúsculo. Sobre quem reinava o rei ?
- Majestade... Eu vos peço perdão de ousar interrogar-vos...
- Eu te ordeno que me interrogues, apressou-se o rei a declarar.
- Majestade... Sobre quem é que reinas ?
- Sobre tudo, respondeu o rei, com uma grande simplicidade.
- Sobre tudo ?
Pois ele não era apenas um monarca absoluto, era também um monarca universal.
- E as estrelas vos obedecem ?
- Sem dúvida, disse o rei. Obedecem prontamente. Eu não tolero indisciplina.





- Eu desejava ver um pôr de sol... Fazei-me esse favor. Ordenai ao sol que se ponha...
- Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem - ele ou eu - estaria errado ?

- Vós, respondeu com firmeza o príncipezinho.
- Exato. É preciso exigir de cada um, o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis.
- E meu pôr de sol? Lembrou o príncipezinho, que nunca esquecia a pergunta que houvesse formulado.
- Teu pôr de sol, tu o terás. Eu o exigirei. Mas eu esperarei na minha ciência de governo, que as condições sejam favoráveis.




- Não tenho mais nada que fazer aqui, disse ao rei. Vou prosseguir minha viagem.

- Não partas, respondeu o rei, que estava orgulhoso de ter um súdito. Não partas: Eu te faço ministro !
- Ministro de que ?
- Da... Da justiça !
- Tu julgarás a ti mesmo, respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se conseguires julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.
- Mas eu posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar, replicou o príncipezinho. Não preciso, para isso, ficar morando aqui. Eu vou mesmo embora.
- Não, disse o rei.
Como o rei não dissesse nada, o príncipezinho hesitou um pouco; depois suspirou e partiu.
- Eu te faço meu embaixador, apressou-se o rei em gritar.
Tinha um ar de grande autoridade.
As pessoas grandes são muito esquisitas, pensava, durante a viagem, o príncipezinho."

(Trecho de "O Pequeno Príncipe")








Apesar de presunçoso o rei da fábula era bastante razoável como ele próprio 

afirmava. Ele, como nós, possuía um instinto de que toda autoridade é dom e não fato (João 3:27). Ao sensato que quiser se manter no poder convém levar em consideração as condições favoráveis a que o rei chamava de “ciência de governo”. Ele considerava o que estava além do seu domínio, e então propunha seu juízo com a autoridade que lhe restara, sem, porém, abrir mão de levar a fama.

"O rei sentava-se num trono muito simples, posto que majestoso”. O termo simples é também usado para designar pessoas que se iludem fácil, de modo que na ilusão de seu poder – ignorando a real ciência que governa as condições favoráveis, que servem inclusive para mantê-lo em seu posto majestoso (1 Co 4:7) – o rei então subverte as situações de modo que suponhamos ser autoridade sua.







Certa vez ouvi um crítico econômico interpretar as estatísticas do crescimento do Brasil, disse que a economia do mundo cresceu e todo crescimento reflete nos demais países, de modo que se compararmos o país atual com o país de alguns anos atrás houve mudanças positivas, as quais nenhuma nação está imune, entretanto comparado ao crescimento de outras nações circunvizinhas, o Brasil está aquém do prometido.


Foram as circunstâncias favoráveis que elevaram o nível de vida e não o mérito presunçoso de nenhuma autoridade eleita por si só. O que não impede que as mesmas, tal qual o rei da fábula, se valham das estatísticas incontextualizadas para fazer supor aos simples a sua glória.


Tu expeliste as nações com a tua mão, mas a eles plantaste; afligiste os povos, mas a eles estendes-te largamente. Pois não foi pela sua espada que conquistaram a terra, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua destra e o teu braço, e a luz do teu rosto, porquanto te agradaste deles.” (Salmos 44: 2,3)


Se analisarmos pelas estatísticas (Js: 6), foi sim pela espada e pelos valentes que o povo de Israel conquistou a terra prometida, mas a arrogância era menor ao salmista, pois reconheceu que o universo conspirou a favor e eles já tinham elegido o seu Rei Incorruptível. Mas o rei foi razoável até o fim, e humano também. Apelou pra vaidade do pequeno oferecendo-lhe ministérios... Pra julgar a si mesmo, grande desafio! Por fim ofereceu-lhe embaixada a fim de ser anunciado aos outros mundos, nunca renunciou o poder, mas bem sabia que por si só na podia nada.


“As pessoas grandes são muito esquisitas”.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Pequeno Príncipe - Parte II "Cativar"




Mas este é um povo roubado e saqueado; todos estão enlaçados em cavernas, e escondidos nas casas dos cárceres; são postos por presa, e ninguém há que os livre;(Isaías 42:22)

Resolvi dissertar sobre as relações humanas relacionando à fábula O Pequeno Príncipe, existe a passagem seguinte: “Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro”... É óbvio que me torno dependente daquele que me aprisiona, do mesmo modo que na condição de opressor necessito manter o cativo para alimentar minha vaidade; e ainda “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, ou seja, se tu és meu cativo, por minha vontade – ou irresponsabilidade – posso deixá-lo morrer à míngua. 





E quantas pessoas nós não vemos morrendo à míngua, mendigando afeto dos seus ídolos, cônjuges, pais, namorados, filhos e amigos? Mendigos que às vezes possuem a conta bancária recheada, mendigando atenção que nenhum outro humano tem obrigação de devotar-lhe.

“Não terás outros deuses diante de mim” (Ex20:3)



De um modo diferente Jesus Cristo nos deu como maior mandamento: Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo (Lucas 10:27). Independente de religiões, pelo que não me consta que Jesus tenha instituído nenhuma denominação eclesiástica, este é o único princípio ao qual podemos nos submeter sem erro.


Se retirarmos as pessoas do centro de nossa atenção e devoção (não sem por no lugar quem de direito), e se ao mesmo tempo não as colocarmos de modo egoísta abaixo da atenção que dedicamos a nós mesmos, eis a receita para um relacionamento sadio!


Mas somos falhos e teimamos em fazer do nosso jeito, daí viramos aberrações de telejornais, homicidas passionais, surtados sem propósito. Opressores ou oprimidos, dois lados de uma mesma moeda. Da perspectiva atual, criar laços pode gerar embaraços, um emaranhado de vaidades com as quais não saberemos lidar, justamente enquanto estivermos encarando-a desta perspectiva.





Caso Eloá e Lindenberg


A aparente sabedoria da raposa tem sempre duas vertentes, mas antes de julgar a intenção do autor, convém lembrar que ele, como todos nós, também era um ser humano sujeito a enganos. “É muito simples, diz a raposa: só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos.” Fora do contexto é um conselho sem contra-indicações, porém em seguida a raposa afirma em outros termos que “o tempo que perdemos com as coisas e pessoas que as tornam tão importantes.” That’s the question: o que vai ao coração depende daquilo a que dedicamos nosso tempo, então o coração pode estar sinceramente errado desde que estejamos no caminho incerto.

“Ele edificará a minha cidade, e libertará os meus cativos, não por preço nem por presentes, diz o Senhor dos exércitos.” (Isaías 45:13)
É interessante o trecho que fala de preço e presentes; nas relações humanas doentias tudo gira em torno do toma lá dá cá ou das lisonjas materiais, presentes que sustentam os cativos nesta condição. Logo o caminho inverso é a solução , ou seja, o desinteresse, o amor incondicional e o desapego ao que é material. Utopia? Não. Fé na mais sensata das respostas a nós reveladas.

O Pequeno Príncipe - Parte I Que quer dizer "cativar"?



"O simples dá crédito a cada palavra, mas o prudente atenta para os seus passos". Provérbios 14:15




"- Bom dia, disse a raposa.
-Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”? 

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços”... 
- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... Cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
Assim o principezinho cativou a raposa. 

(...)


E voltou, então, à raposa:


- Adeus, disse ele...
É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. ’

(Trecho da fábula "O Pequeno Príncipe" de Atoine de Saint Exupéry






Certamente este capítulo é um dos mais comoventes. Retrata a solidão da criatura e sua total falta de habilidade em relacionar-se. E o principezinho veio dar-se conta disto no nosso humilde planeta Terra!


Embora as regras já estejam estabelecidas desde os fundamentos do mundo, regras que alguns chamam mandamentos, princípios ou ideais, não obstante o homem falha na manutenção dos seus relacionamentos ou seus laços...



Existem duas frases que se destacam para mim no trecho acima:



"É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços”... " e "O essencial é invisível para os olhos." Essa última virou popular em comentários nas redes sociais, mas não é bem entendida, porque nada há mais superficial do que as redes sociais! Hoje as amizades são trocadas como celulares, por um modelo mais interessante, alguém na "moda", pessoas reservadas geralmente são invisíveis aos olhos das demais, a menos para outras pessoas também reservadas ou qualquer pessoa com substância. 

É maravilhoso contemplar a beleza da criação, um sorriso de uma criança de colo, ou ainda é prazeroso apaixonar-se, confraternizar com amigos e familiares. Perigoso, porém, é deixar-se “cativar”. Não sei afirmar quando esta palavra passou a ser utilizada como algo positivo, mas o fato é que ainda assim seu sentido é o mesmo. Do latim captivo, raiz de onde nasce também a palavra capturar, cativar de um jeito ou de outro significa aprisionar, encarcerar.

Sem exageros, os noticiários dão vários exemplos de cativos na concepção doentia do modo de relacionar-se. Temos feito de nosso próximo o nosso deus, matando e morrendo por eles, ou degradando aos poucos nossas vidas, sujeitando-nos a simples humanos, como se a vida não fizesse sentido sem eles, o que é uma mentira que se dissemina no mundo contemporâneo.