sábado, 11 de agosto de 2012

Complexo de Gabriela



Eu nasci assim, eu cresci assim,

E sou mesmo assim,

vou ser sempre assim:

Gabriela, sempre Gabriela! 

(Modinha para Gabriela - Dorival Caymmi)


Eu não podia deixar de aproveitar esse conceito apresentado recentemente, que é o Complexo de Gabriela. Eu sempre me incomodei com essas pessoas que usam desculpas como “eu sou assim” para se furtar de fazer algo, para permanecer acomodados, sem mudanças.

“Sua opinião não vai mudar a minha”. Simples assim! Podemos estar certos, errados, ou sem a pretensão de um ou outro, podemos simplesmente estar jogando uma luz sobre a questão, mas lá vai ela: vou ser sempre assim, Gabriela! Então tá.
Finalizando minhas divagações sobre o livro O Monge e o Executivo, cito a definição de insanidade de James C. Hunter: “continuar a fazer a mesma coisa desejando um resultado diferente”. É verdade que muitos não querem um resultado diferente, e acham que podem sobreviver com sua opinião imutável para todo sempre, amém. Mas existem aqueles que até consideram a hipótese, porém é mais cômodo manter as coisas como estão.

Vejo isto não só em pessoas, mas em organizações, inclusive a poderosa Rede Globo nestes dias de Jogos Olímpicos. Uma postura que me pareceu correta por longo período foi o fato da emissora não sacrificar sua programação sem maiores motivos, mesmo quando transmitia os jogos, a Rede Globo o fazia nos intervalos dos programas dos grandes ícones. Com exceção das finais das competições.  
Independente dos interesses escusos que possa haver por trás de toda esta transação, o fato é que a Rede Record que não tem uma programação lá muito distinta que não possa sacrificar pelos jogos olímpicos, ganhou essa vantagem na TV aberta para exibição dos jogos deste ano e dos próximos em 2016, fora as olimpíadas de inverno e outras competições que são igualmente agradáveis de ver.

Enquanto isso a Rede Globo está com o complexo de Gabriela, achando suficiente seus quatro canais da TV a cabo (SporTV 1, 2, 3, 4...) que ainda não alcançam a grande massa da população, e ainda levaram o Galvão Bueno para narrar futebol no SporTv como se ele ainda fosse o melhor locutor de futebol da televisão. Gabriela...
Esse remake da Novela Gabriela talvez seja uma mensagem subliminar que a emissora tenha transmitido inconscientemente. Mesmo as organizações Globo tendo parte dos direitos de transmissão pelos canais a cabo, isto constrange toda sua programação aberta como os telejornais e revistas semanais como o Fantástico, que precisam comentar os resultados das competições sem maiores detalhes, sem a paixão com que faziam quando detinham todos os direitos. O mais curioso, contudo, é a emissora ter deixado passar a chance de transmitir os jogos olímpicos que serão sediados no Brasil!
Pouco me importou, é assim que eu sou,

Gabriela, sempre Gabriela!


O Monge e o Executivo - Final


“Simeão quase sempre se dirigia às pessoas pelo nome”
James C. Hunter 



 Certa vez, ouvi (ou li, não me lembro bem) que o que as pessoas mais gostam é de ouvir seus próprios nomes. Numa conversa, num negócio, numa venda – principalmente em relações de interesse, ouvir nossos nomes transmite a mensagem de que somos importantes, de que temos valor.

No livro O Monge e o Executivo, encontrei alguma sabedoria aplicável as condições humanas. Uma delas foi justamente esta, a respeito dos nomes das pessoas, algo que não está em destaque no livro como uma centena de princípios discorridos pelos sete capítulos.

O que me chamou atenção foi justamente a frase citada no início deste, que no livro surgiu como um comentário para descrever uma das características do irmão Simeão, o ex-administrador que se tornara frade num mosteiro em Michigan/ Chicago. O fato de ele chamar as pessoas pelo nome me lembrou essa outra passagem que já havia tomado conhecimento e me lembrei de algumas pessoas.
Algumas, assim como o respeitoso irmão Simeão, sempre me trataram pelo nome, enfaticamente, e ainda que não me chamassem o tempo todo por ele, como fazia o personagem do livro, ao menos se lembravam dele, independente do tempo, das condições, da situação.
Por natureza tendemos a guardar os nomes daqueles que se destacam, pelo bem ou pelo mal, ou daqueles a quem temos afinidade. Mas O Monge e o Executivo é um livro direcionado a pessoas em posição de liderança: professores, chefes, diretores, sargentos, médicos, treinadores, enfim, qualquer um que tenha outro semelhante sob seus cuidados.
Não que aos demais não seja recomendado o trato pelo nome, mas aos líderes muito mais. Eles são exemplos, eles exercem influência, ou seja, segundo a definição de Hunter, levam pessoas de bom grado àquilo a que são delegados a fazer. A questão é que nem todas as pessoas em posição de “poder” ou importância, possuem autoridade, que é o que leva a influência.
É no mínimo desagradável quando convivemos anos com pessoas e estas não se lembram de nossos nomes. No entanto, antes de criticar ocorre-me um fato que soa paradoxal: num período de tempo convivi com um professor. Obviamente era sua aluna, e eu tinha duas outras colegas. Nossos números na chamada eram respectivamente: oito, nove e dez, e este professor – muito querido por sinal – só se referia a nós por nossos números, pela sua declarada dificuldade em decorar nomes, ele nos deu esses codinomes.
A questão é se para professores em especial é um desafio lembrar-se de nomes, devido ao grande volume de alunos, turmas e períodos distintos, como eles podem cumprir esse princípio de empatia que é tratar as pessoas pelo nome? E se para o professor citado existiam várias Brunas, Camilas e Carolines, certo era que a probabilidade de haver outro trio com nomes iguais que andassem juntas era mínima.
De modo que de uma maneira respeitosa, esse sábio professor fazia imagens por associação, o que não é nenhum demérito diante da importância de nossos nomes, para ele eu era a “nove”, embora ele tivesse vários outros alunos que correspondiam a este número em outros diários de turmas.
Interessante também que no decorrer de dois semestres a “dez” e a “oito” abandonaram o curso e então eu passei a ser chamada de Camila, e o dilema dos nomes pertencia ao início do convívio, obviamente o tempo ofereu-lhe outras imagens para associar-me não a um número, mas ao meu nome, assim como outros alunos.
E o que fazer com aqueles que exaustivamente nos veem, por meses a fio, corrigem-nos, nos avaliam, criticam às vezes, elogiam outrora, e não se lembram de nossos nomes, ou codinomes, apelidos, nem se um terceiro vos descreve nossa aparência?
O que diferencia aqueles que com a mesma dificuldade buscam alternativas para nos tornar especiais, daqueles que simplesmente se escondem atrás do problema tornando todos como corpos sem persona, sem individualidade. Sem dúvida é preferível ser chamada de “nove” a não ser chamada por nome nenhum.

Postscriptum: É notório que esta é uma lição que eu mesmo preciso começar a exercitar para as pretensões que possuo. Ouvi alguém dizer que não importa nosso nome, mas quem nós somos. Parece que para alguém que sequer se lembra de nosso semblante realmente o nome pouco importa, pois ela não seria capaz de compreender quem somos.  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Demagogo - persona grata, até o capítulo 2




Ocorreu-me uma oportunidade de falar sobre esse conceito que aparece muitas vezes perdido nas aulas de história nos tempos do ensino médio, e mesmo hoje não tenho certeza se ele ainda é abordado como teoria. Na prática ele está para quem quiser ver, de representante de sala a líder de torcida, de um simples vereador de um município inóspito da zona leste a um grande deputado ou líder partidário nos tribunais do mensalão!
Para tanto posso continuar compartilhando os conhecimentos de J. C. Hunter em O Monge e Executivo e seu posterior manual teórico a respeito do mesmo. A definição de demagogia é:  manipulação das paixões e sentimentos do povo para conquista de poder; o bem da coletividade figura sempre em segundo plano. O demagogo é a pessoa que dá voz aos medos e preconceitos do povo por meio da retórica, palavra esta definida como artifício que modifica a expressão do pensamento.
Parece complicado? Vejamos. A Democracia é caracterizada pelo poder do povo por meio do voto, o problema é que quando analisados os conceitos de poder e autoridade vemos que poder nas mãos de qualquer um não dá boa coisa. Nem sempre a opinião geral pode dar voz às reais necessidades coletivas, mas apenas às suas vontades. Uma questão levantada pelo ex-presidente americano Harry Truman foi: “até onde Moisés teria ido se fizesse uma pesquisa de opinião pública no Egito?”
Para quem já leu o Livro de Êxodo na Bíblia sabe o sufoco que Moisés passou com os israelitas que embora tivessem sido escravizados no Egito, quando enfim conseguiram sair de lá, passando pelo Mar Vermelho como em terra seca (Hebreus 11:29), sendo alimentados com o Maná que caia do céu todo dia, bebendo água de uma rocha, ainda assim eles lamentavam a perda do conforto que achavam que tinham no Egito. Sua zona de conforto fora abalada e se Moisés não tivesse permanecido firme com a autoridade que Deus lhe conferira, eles teriam dado um jeito de tornar ao Egito. Logicamente não conseguiriam, pois o mar não se abriria para eles, e pela desobediência muitos pereceram no caminho.
A questão é que Moisés sabia que o necessário era voltar para casa, pois o Egito não era o lugar de habitação do povo de Deus. E ele não fez sua própria vontade, nem dos israelitas, mas daquele que o pos sobre o cargo de liderança. Esse é o problema das eleições a qualquer cargo ou sobre determinados assuntos. Quando alguém perde a consciência do por que ou para que foi eleito vem a corrupção do poder. Quem faz as vontades do povo se torna popular, bacana, e se corresponde aos seus desejos mais vis melhor ainda. Quem não curte um bom barraco? Uma fala rebuscada e moralista, ainda que retórica – ou seja, contrária a real expressão do pensamento de quem fala? Um bom demagogo é perito em explorar esse lado da condição humana. E quem responde a ele de maneira mais veemente, concordando, tem em si o mesmo espírito, só não domina a retórica...
A isto se chama falha de caráter”, afirma J. C. Hunter. No sétimo capítulo de seu livro (Como se tornar um líder servidor) o autor diferencia personalidade de caráter. Personalidade vem de persona, nome utilizado hoje para as máscaras que simbolizam o teatro. Ou seja, são os disfarces que usamos para o mundo ver, nas palavras do próprio. Persona é nossa imagem social, a pessoa que fingimos ser. Alguns com menor ou maior sucesso, como diria Abraham Lincoln “pode-se enganar algumas pessoas todo o tempo; pode-se enganar todas as pessoas algum tempo; mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo!" Uma hora a máscara cai, e eu diria que a queda depende muito do que a sustenta, ou seja o caráter.
Caráter é a firmeza moral de um indivíduo, sinal de sua natureza interior. Uma acepção que considero fácil de gravar dada neste livro foi que caráter é a disposição para fazer a coisa certa, independente de nossos caprichos, vontades e preferências.  Claro que a pretensão do primeiro casal da história – conhecer o bem e o mal – é relativa até hoje! Ninguém pode afirmar com certeza o que é bom ou mal para alguém. Mas desenvolver o caráter é ampliar o rol de informações para cometer o mínimo de erros possível, é racionalizar.
A serpente, o tinhoso, foi o primeiro mestre em oratória. “Sereis como Deus”, ele disse (Gênesis 3:5); apelou para a curiosidade de Eva, para sua inocência, e acrescentou: “certamente não morrereis”. “Quem nunca ouviu a frase “nem Cristo agradou a todos, porque eu teria que agradar?”A primeira vez que ouvi isso eu tinha 13 anos de idade e até hoje eu ouço. Dá para imaginar o bafo quente da serpente soprando no ouvido dessas pessoas: sereis como Deus! Todo ateu sabe que o fundamento do cristianismo é que Cristo é Deus, quem não confirma isso é anátema (Gálatas 1:8). 
Embora esteja muito popular essas teorias sobre o lado humano de Cristo, como o próprio livro aqui mencionado aborda o comportamento de Cristo, com a vantagem de não se escandalizar com o fato. Não dá para esperar menos de Jesus, pois ainda que humano, era Deus. O assunto aqui é bem outro, O Monge e o Executivo aborda a liderança do ponto de vista servidor, que teria sido o estilo adotado por Cristo e indicado por ele aos seus discípulos: quem quiser ser o maior deve servir.
Não consta que Cristo estivesse querendo agradar a todos. Imaginem Deus querendo agradar a pecadores! Ele nos ama e por isso mesmo faz a Sua vontade e não a nossa. Se colocar no mesmo patamar que o Senhor é uma postura herética, quando não irracional, e ignorante. Se alguém cuida que pode citá-Lo de tal maneira, deve saber o mínimo a Seu respeito, como, por exemplo, que Ele disse: “não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou.” Antes do Calvário o Senhor falou aos discípulos “tende bom ânimo”, em seguida Ele não lhes disse nem eu agradei a todos... Apenas concluiu: “eu venci o mundo” (João 16:33). O propósito de Cristo não era agradar a todos, ao contrário, era vencer o mundo e suas devassidões e não há dúvidas de que Ele saiu vitorioso, agradando somente a Deus.
O pior do demagogo não é somente ele jogar para a plateia, é abusar da inocência da mesma, e ainda explorar suas fraquezas para autoafirmação. O melhor é que o fundamento (caráter) demagógico tem tempo determinado e curto, pois por trás das máscaras do povo existem outros tantos com caráter o suficiente para contradizê-lo, resisti-lo, opor-se-lhe, ou simplesmente sair do seu raio de influência. 

"Vossa excelência provoca em mim os instintos mais primitivos"
Roberto Jefferson


sábado, 4 de agosto de 2012

O Monge e o Executivo - Parte III








Atenção
Compromisso
Empatia
Paciência

Responsabilidade
Paixão
Generosidade
Equidade



 Eis a receita para o sucesso? Não. Um líder não almeja sucesso, apenas deseja fazer a coisa certa; o triunfo é uma consequência e não a meta principal. Continuando meu exercício de reconhecimento das influências que tive no decorrer da vida, temos a próxima característica:


Responsabilidade: Obrigação de responder pelas ações próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas.
É um conceito que se funde ao compromisso. Uma vez comprometidos com algo responder as responsabilidades é consequência, é o que vem como expectativa e resultado. E mais uma vez lá estavam meus líderes cumprindo suas responsabilidades, sem falta.
Isto me faz lembrar uma questão levantada no outro livro da série O Monge e o Executivo (Como se tornar um líder servidor), onde o autor apresenta os mesmos conceitos não como uma ficção, mas como uma receita de bolo...  No capítulo 1 o autor declara: “encontro profissionais da educação mais interessados em cumprir o programa antes que o semestre acabe do que em ajudar os estudantes a desenvolver o caráter, tão necessário para levar uma vida bem-sucedida”. Sendo que no parágrafo anterior ele cita os pais “melhores amigos dos filhos” que comentei aqui.
Uma das pessoas que pertence a minha lista disse-me, ainda este ano, que é preferível não cumprir todo o plano de aulas a deixar de transmitir o que os alunos necessitam; negligenciar o tempo dos alunos na compreensão do tema. Como se vê grandes pessoas compõem minha lista!

Paixão: impressão viva
Isto parece ser sentimento, vez ou outra nós contrapomos amor a paixão, como se um fosse mais positivo que o outro. Confesso que estou usando um artifício muito perigoso na linguagem, que é utilizar a definição que mais se adéqua ao conceito que pretendo exprimir. Mas de todo modo não fui eu quem criou as definições, algumas estão no dicionário, outras no próprio livro. Por isso mesmo gosto da etimologia, pois penetrando no íntimo da palavra, em sua origem, não sobram dúvidas quanto ao que ela pretendia demonstrar.
Mas minhas pesquisas etimológicas podem esperar outro momento. Aqui paixão pode ser traduzida pelo brilho nos olhos, pela alegria contagiosa, por motivação. Qualidades que marcam, que nos faz ver a razão de um sacrifício, de certo modo é o mesmo conceito da paixão de Cristo, expiando os pecados alheios, mas, num caso menos amplo, meus líderes mostravam paixão nos pequenos esforços ao qual se dedicavam por seus alunos.     

Generosidade: abnegação. Renúncia espontânea do interesse, da vontade, da conveniência própria.
Curioso, mas no livro o termo generosidade é trocado por abnegação no decorrer do capítulo. Não sei qual foi a palavra no original inglês que foi usada para uma e outra, e se há essa distinção mesmo. Mas é compreensível, primeiro que encontrar uma definição para o termo generosidade é cômica: qualidade de generoso, magnânimo que por sua vez quer dizer generosidade... No dicionário Michaelis há uma luz que é indicada pelo antônimo de generosidade que é mesquinhez.
Logo, cai como uma luva no conceito de abnegação, pois o mesquinho pensa em si primeiro e dane-se o outro! O abnegado renuncia o próprio interesse. Mas o líder que se preza não pratica aquela renúncia a preço futuro, ou seja, guarda essa atitude abnegada para lançar em rosto numa próxima oportunidade. Ele faz pelos outros naturalmente e pelo que observei sequer se dão conta do bem que estão fazendo!

Equidade: Reconhecimento dos direitos de cada um
Justiça é o sinônimo de equidade. É importante levantar essa questão no final, pois nada do que foi dito anteriormente faria sentido sem esse princípio, então coloco o fundamento aqui em baixo, sustentando todo o resto. Todo direito implica em deveres, e reconhecer o espaço de cada um, dar voz e vazão ao seu direito é para quem tem senso de equidade.
Já ouvi críticas por chegar em autoridades e inquirir sobre meus direitos, ou se não por simplesmente chegar neles para me comunicar. Sempre houve um mito de que diretor de escola era alguém que só servia para punir os indisciplinados, e que o contato com os alunos era desnecessário. Não por acaso o primeiro item da minha lista e o último (atenção e equidade, e não só estes) corresponde a diretores de escola, diferentes entre si. Justamente porque a primeira rompeu o protocolo eu pude, anos mais tarde, me aproximar sem medo do último. E atualmente continuo dando meus pulinhos ousando travar contato com personalidades renomadas e mitificadas daqui e acolá. Os frutos vêm com o tempo, mas não duvido que venham.
O que isso tem a ver com equidade? Estes líderes me mostraram que embora exista uma hierarquia organizacional, nas relações humanas somos todos iguais, sujeitos aos mesmos erros, acertos e tendenciosos. Não importa se somos alunos e professores, chefes e funcionários, ou ainda dono e subordinado, pai, mãe e filhos, irmão mais velho e mais novo, isto mostra a posição de cada um no mundo, mas o que a justiça nos faz ver é que independentes da posição que ocupamos todos têm o direito de se relacionar com o próximo por nossa condição humana.
Quem ocupa posição “superior” e não tem equidade, fatalmente vai acabar subvertendo o direito alheio, e não será autoridade, mas autoritário. 

PostScriptum: As definições das palavras em destaque foram retiradas do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, quando não do próprio livro em questão.  


O Monge e o Executivo - Parte II


“Aceite aquilo que está sentindo e procure atingir o que prefere sentir”

John M. Ortiz 

Lago Michigan - cenário do monastério do livro

 Em O Monge e o Executivo, liderança é sinônimo de serviço. Essa ideia causa um sentimento de repulsa à uma grande maioria das pessoas. Servir, amar, perdoar, isso tudo é tido como sentimento e outra coisa interessante trazida neste livro foi a luz sobre o fato de que nada disto é sentimento, mas sim comportamento.
É confortável saber que não precisamos gostar de nossos inimigos como a princípio parece nos sugerir o ensino de nosso Senhor Jesus Cristo. Importa como nos comportamos em relação ao próximo (inimigos ou não); Essa é uma lição que vivenciei na prática antes de apreender a teoria que a bem da verdade só conheci por meio deste livro.
Ainda no primeiro capítulo, o irmão Simeão sugere um exercício que consistia em descrever as qualidades de quem exerceu autoridade sobre os demais personagens, ou seja, alguém que influenciou suas vidas. Aplicando a mim, curiosamente eu não saberia citar apenas uma pessoa, mas um conjunto delas que possuíam a característica comum de serem professores.
As características fundamentais destes educadores que influenciaram minha vida, partindo do ensino fundamental, equivalem mais ou menos as seguintes:
Atenção
Compromisso
Empatia
Paciência
Responsabilidade
Paixão
Generosidade
Equidade

Para citar algumas, pois sendo um conjunto de pessoas não daria para pormenorizar, embora todas tenham vários fatores em comum da lista acima. Alguém uma vez ilustrou o fator atenção com um cachorrinho largado a beira da estrada, e um andarilho passa, lhe faz um gracejo e então o cachorro o segue. Pode ser que um gracejo surta algum efeito num primeiro momento, mas é a qualidade a relação que advém que ditará o rumo da história.
Atenção: Silêncio e consideração com que se ouve ou observa.
Para quem não tinha o costume de ser considerada, com total atenção, o primeiro gracejo teve seu efeito, mas o modo como esse tratamento foi prolongado teve muito maior influência em mim do que lisonja nenhuma seria capaz. Não fosse esse comportamento em relação a mim, talvez eu não tivesse criado a oportunidade de poder relatar isto aqui, nem seria escritora/poetisa.
Compromisso: ater-se às suas escolhas
Todos os meus líderes diretos ou indiretos eram extremamente comprometidos com suas obrigações que por sua vez eram consequência de suas escolhas. Ninguém é obrigado a tornar-se líder, mas uma vez que assumem o papel, parece natural que deem cumprimento ao que se propuseram a fazer.  Aqueles dignos de nota neste post não deixaram a desejar, e imprimiram em mim o mesmo vigor diante dos projetos assumidos. Quando temo fazer algo, prefiro me ater um pouco antes, a fazer e não alcançar o nível de excelência daqueles que me ensinaram. Tornou-se uma meta.
Empatia: Identificação intelectual ou afetiva com o próximo; compaixão
A palavra identificação sugere a ideia de que precisamos ter passado por algo semelhante para ter empatia. Não é bem assim, senão os educadores não poderiam nunca ser plenos, dificilmente poderiam se compadecer de todos seus alunos, pois estariam limitados a só ter empatia por aqueles que o levassem a memória de si mesmos...
Mas não é o que ocorre, evidentemente, essa habilidade de se colocar no lugar do outro e buscar os interesses do outro é um comportamento servidor, característico do meu seleto grupo de educadores de quem tive o privilégio de ser discípula (aluna). É importante não confundir compaixão com dó, não existe nada mais detestável do que aqueles que ficam olhando para os necessitados como coitadinhos, e é bom lembrar que todos nós temos algum tipo de necessidade.
Paciência: mostrar autocontrole
Pessoas descontroladas ainda que em cargos de poder ou “autoridade” frequentemente perdem a razão e o respeito dos outros. O ditado “dai-me paciência, pois se me der forças eu mato” é verdadeiro. Ainda que não tenham forças nem vontade de matar no sentido estrito, os impacientes vão matando os outros aos poucos, destruindo sua autoestima com palavras hostis, advertências grosseiras em público, e diversas outras formas.
Meus líderes eram uma verdadeira fonte de paciência, duros quando necessário, grosseiros jamais! Conviver comigo já é um grande exercício de paciência... Pois eu sempre ia compartilhar minhas ideias, meus medos, meus projetos, e o principal que embora as ideias e projetos fossem meus, não eram para mim. Com eles aprendi a servir um pouco; a única coisa que ficou para mim foram meus medos... Mas, com estes aprendi a ter paciência. Tenho fé que um dia me livrarei de todos. (Continua)

     

O Monge e o Executivo - Parte I


“Nada é mais forte do que o hábito”
Ovídio

 Achei razoável esta epígrafe para introduzir este post sobre o livro O Monge e o Executivo, de James C. Hunter. Ela me faz lembrar outro adágio popular que reza que o hábito faz o monge. Na verdade esse hábito de usar epígrafes eu aprendi há muito tempo no ensino médio lendo as obras de Guimarães Rosa, e as resenhas sobre o modernismo que desvendavam sua utilidade.

O Monge e o Executivo é um livro pequenino, com sete capítulos mais o prólogo e o epílogo, e cada um deles vêm com uma citação de uma personalidade famosa, colocando no mesmo patamar Margaret Thatcher e Jesus Cristo! Independente disto, porém o livro é bastante instrutivo para quem é adepto da administração e preza pela saúde de seus relacionamentos.
O tema central de todo o livro é a liderança servidora, e logo no primeiro capítulo, quando apresenta as definições de liderança, autoridade e poder, diferenciando-a de gerência, não posso deixar de entreter-me com algo que me parece um ato falho. A distinção de gerência e liderança segundo o autor é:
Gerência não é algo que você faça para os outros. Você gerencia seu inventário, seu talão de cheques, seus recursos. Você pode até gerenciar a si mesmo. Mas você não gerencia seres humanos. Você gerencia coisas e lidera pessoas.”
Bonito, não? Só há um porém: posso gerenciar a mim mesmo, mas não posso gerenciar seres humanos. Acaso não sou humana?  Ato falho à parte, os conceito de gestão de pessoas ministrado pelo autor é patente, pois liderança é apresentada como uma habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio do caráter.
Sendo uma habilidade, pode ser adquirida.  Isso dá uma esperança aos peões, como vulgarmente são chamados os operários de chão de fábrica, os funcionários, os soldados de linha de frente, qualquer um que não está no topo da hierarquia mandando, sem por as mãos na massa. O que também é um pensamento errado a respeito dos administradores, que tem suas próprias arenas de disputa, e não é porque não sujam as mãos na graxa que sua função tem menos valor, e vice-versa.  

O livro, no entanto, desmistifica alguns métodos das políticas de plano de carreira, e promoção de funcionários. Muito recentemente eu ouvi sobre uma empresa que lá só trabalhava no setor administrativo quem fosse “da casa”, ou seja, geralmente quem fosse vendedor, ou algo semelhante.
Há uma confusão entre capacidade técnica e liderança. Muitos trabalhadores competentes tecnicamente não possuem as habilidades de liderança, e muitos líderes não tem habilidades técnicas, a vantagem é que o líder/gerente precisa entender a função que leva determinado produto a ser fabricado ou vendido, deve reconhecer as capacidades necessárias para a função, mas como líder ele pode delegar com eficácia a função àqueles que têm a habilidade técnica. Se ele não for um bom líder por sua vez, não saberá reconhecer a quem delegar, como, quando, nem por quê.
J.C. Hunter cita o exemplo do operador da retroescavadeira que foi promovido a supervisor, e no final passaram a ter um mau supervisor e ainda perderam o melhor operador de retroescavadeira! Isso é muito comum. Não quer dizer que um bom vendedor não pode ser um bom gerente/líder, desde que tenha desenvolvido a habilidade necessária, o que o autor sugere é que o fato de ser um bom vendedor, operador, caixa, telefonista, faxineiro não deve ser determinante para a promoção, mas o reconhecimento das habilidades humanas. (Continua)


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Se conselho fosse bom vendia-se?





Por muito tempo achei esse ditado válido e interessante. Mas hoje sei que não passa de um argumento cunhado por algum rebelde malcriado para continuar no seu caminho duvidoso. Talvez o maior conselho gratuito seja “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (Atos 16:31). Contudo isto não é uma pregação, senão eu poderia começar a citar os provérbios, outra multidão de conselhos dados de graça!
Essa ideia também é fruto de um pensamento de que valor é igual a preço monetário, se uma coisa não puder ser convertida na outra, não vale nada. Acredito que todos nós passamos pela fase de nos achar a última bolacha do pacote, só que sempre nos esquecemos que a derradeira vem sempre quebrada... quando não, murcha!
Há uma geração atrás existiam duas coisas: conselhos e imposições. O autor do livro O Monge e o Executivo definiria como autoridade e poder. A autoridade nos faz acatar de bom grado os conselhos, confiantes na sabedoria e amor de quem pronunciou; o poder nos faz obedecer por medo as imposições, pela crueldade e ameaças que as acompanham.
O problema está em exercer autoridade com base nas vontades do próximo e não em suas necessidades. Assim o que se vê hoje é que bons pais, professores, chefes e outros só são considerados se forem “amigos”, que fazem as vontades que são confundidas com apoio.
Ai de quem manifesta autoridade com amor, que pela definição de James C. Hunter, é algo desinteressado, expressão pura do bom comportamento com o próximo, pelas suas reais necessidades. E essa iniciativa pode vir de qualquer um, mais jovens ou mais velhos (Jó 32: 7-9).
Pelas mesmas razões que eu me valia do ditado que diz que conselho bom se venderia, por não conhecer a autoridade fundamentada no amor e nas necessidades reais, mas sim, e na maioria das vezes, só lidar com poder das imposições; hoje o inverso, e não menos errado, é o que existe.
Atualmente, vemos uma falsa autoridade fundada nas vontades, complacente e medíocre, criando pessoas resistentes a qualquer manifestação contrária ainda que com amor – outra palavrinha incompreendida. Estamos na geração do “não bata em seu filho”, uma tentativa quase boa de reverter a era dos pais déspotas, só que isso sucumbiu numa família sem disciplina, sem limites.
Se no passado essa função foi confundida com posse, ditadura, hoje virou o samba do crioulo doido! Quem tenta aconselhar é tido como chato. Já fui adolescente, a frase “Eu sei” é típica, a diferença é que eu afirmava saber e não fazia por medo de quem exercia o poder. Hoje simplesmente fazem.
Estes só terão o privilégio de realmente saber que nada sabem, parafraseando Sócrates, quando amadurecerem de verdade. Mesmo isto eu sei que não é regra, muitos preferirão correr atrás de quem lhes faça as vontades, e encontrarão, abandonando os que lhes amam, e nunca tomarão consciência de nada.  

 
Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. 
Prov. 23:13
A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe. Prov. 29:15

A estultícia (estupidez) está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela. Prov. 22:15

Tens visto o homem que é sábio a seus próprios olhos? Pode-se esperar mais do tolo do que dele.  
Prov. 26:12

PostScriptum: Consideremos que a Bíblia é a Palavra de Deus. Creia você ou não. Nem por isso devemos ir de um extremo ao outro, estas passagens não nos sugere a violência, e educar hoje não pode abrir mão da sabedoria inspirada.