sábado, 24 de março de 2012

Falácias



Fonte: http://arnaldoantunes.blogspot.com.br/2010/08/gente.html 



“Ninguém aqui leu algo sobre isso!” “Ninguém gosta de ler!” “Não há ninguém como você, ainda que tenha o mesmo nome.” Ninguém, ninguém, ninguém: equivale a “blá-blá-blá”. E não sou eu quem afirmou isso, estou apenas reproduzindo com minhas próprias palavras o que uma professora especialista na área disse.

Especialista em falácia? Não necessariamente. Quis dizer especialista em Letras e que sabe as técnicas do dizer muito sem dizer nada, contando que convença o leitor ou ouvinte do seu argumento. O ex-presidente Lula em minha opinião não era especialista de formação, mas sabia argumentar como “ninguém” e convencer “todos” do que dizia. 

A famosa frase “nunca antes na história desse país” é um exemplo de falácia, onde o nunca anda de mãos dadas com o ninguém e o todos. Como se o dito-cujo fosse mestre em história para afirmar que nunca se fez nada semelhante ao que ele fazia. Getúlio Vargas foi um grande assistencialista e manipulou da mesma forma os recursos midiáticos para se promover. Logo, o Sr. Luis Inácio não era tão original como pretendia.

Neste caso, mencionar a professora, segundo consta em meu material didático (Ctrl-C, Ctrl-V), seria um argumento de citação, onde uso da autoridade da pessoa citada para reforçar meu argumento. Lula e Getúlio são um misto de evidência e raciocínio lógico. Com isso chego a conclusão de que se eu ouvi ou li a falácia e estou criticando, já é prova de que não pertenço ao “ninguém”, ao “todos”, ao “nunca” e muito menos ao “sempre”, nem sempre eu percebo a sordidez de quem usa de falácia.

O que difere um falastrão do outro é o carisma, a polidez com que fala. A verdade é que o pior argumento de quem quer convencer alguém a gostar de algo é repetindo de forma vil que as pessoas não sabem absolutamente nada sobre o assunto e não se interessam em saber. Falácia. Onde estão os dados que fundamentam esta afirmação? A paixão é o melhor argumento, longe do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Em alguns casos é aconselhável não fazer nem um nem outro...

 Vivenciei há pouco tempo algo que ilustra a paixão pelo que se faz citado acima. Eu afirmava que não gostava de matemática, nunca fui má aluna na disciplina, mas não curtia, e os professores que a ministravam pareciam todos tão agradáveis quanto a própria matemática, se é que me entendem. Mas aí entra o dom de lecionar, a paixão, e principalmente o lado humano de quem lida com a aprendizagem.

Um brilhante professor chamado Roberto Batista foi meu último – até então – professor de matemática e não digo que me apaixonei pela matéria, mas pela pedagogia dele, seu modo de lecionar a mesma coisa que uma dezena de outros professores haviam passado, mas com um jeito puro, afetuoso, não sem regras, pois ele era exigente, disciplinado e rigoroso. E para mim que dizia que matemática era chata, revi meus conceitos, agora me limito a dizer que prefiro língua portuguesa.

E se fosse o contrário? Se eu odiasse língua portuguesa, ouvir alguém me depreciando como se eu fosse uma analfabeta incorrigível comparada a quem me afirma isso não me faria gostar mais do assunto. O médico psicoterapeuta, palestrante e escritor Augusto Cury em seu livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, explicou que essas experiências vivenciadas pelos alunos podem surtir efeito contrário ao esperado por qualquer escola, ainda que não seja o objetivo principal do educador em si.

Num trecho do livro o autor diz:
Os professores fascinantes transformam a informação em conhecimento e o conhecimento em experiência. Sabem que apenas a experiência é registrada de maneira privilegiada nos solos da memória, e somente ela cria avenidas na memória capazes de transformar a personalidade."

De fato, a experiência de uma visita a um centro histórico, por exemplo, seria mais proveitosa se não fosse obrigatória, ou se fosse solicitada num estilo pedagógico aceitável do que partindo do princípio de que ninguém nunca se interessou por nada, nunca vai se interessar, e sempre vai pertencer a um todo ignorante, ou ainda que a visita fosse proveitosa, seria melhor se o relato da experiência vivida não fosse desprezado veementemente e de forma humilhante.

Continuando com as palavras de Augusto Cury:
 “Bons professores possuem metodologia, professores fascinantes possuem sensibilidade.”
“Bons professores falam com a voz, professores fascinantes falam com os olhos.”
“Seja um professor fascinante. Fale com uma voz que expresse emoção. Mude de tonalidade enquanto fala. Assim, você cativará a emoção, estimulará a concentração e aliviará a SPA* dos seus alunos. Eles desacelerarão seus pensamentos e viajarão no mundo das suas ideias. Um fascinante professor de matemática, química ou línguas é alguém capaz de conduzir seus alunos numa viagem sem sair do lugar.”
“Bons professores cumprem o conteúdo programático das aulas, professores fascinantes também cumprem o conteúdo programático, mas seu objetivo fundamental é ensinar os alunos a serem pensadores e não repetidores de informações.”

Lecionar para mim é um sacerdócio e não apenas uma profissão, trabalhar apenas pelo salário, ou paralisar o trabalho por causa disso é uma falta de respeito com os alunos. Não remunerar os professores como deveriam também é um desrespeito do poder público e privado, mas talvez eles também acreditem na falácia de que todos os professores são apenas bons e não fascinantes, que nenhum professor ama seus alunos, apenas os tem como um número na chamada, ou que nunca os professores merecerão qualquer espécie de consideração, o que é mais que falácia, pois no ano passado pela primeira vez 11 professoras foram condecoradas com a medalha da Ordem Nacional do Mérito, pela presidente Dilma (ver aqui).

Pelo que se apresentou faz-se importante rever alguns conceitos sobre as relações humanas, a generalização de que uns estão sempre errados e outros  sempre sabem mais. Talvez esta premissa só se adéque quando se trata de adultos em relação as crianças, entre adultos e adolescentes pode ser que uns e outros tenham conhecimentos específicos privilegiados, mas ainda assim, nada que justifique a soberba.  Se um professor numa mesma turma exige atenção e não a tem, e outro sequer precisa exigir, sucede que o problema não é somente a indisciplina dos alunos, mas talvez acomodados a serem “bons” os professores esquecem-se de ser fascinantes, ou simplesmente não tem o dom para a missão.

Até que haja abolição da generalização, é saudável nos prevenirmos do lenga-lenga, blá-blá-blá, lero-lero, blá-blá! Que meus leitores desconfiem de quem afirma algo sobre vocês, positivo ou negativo, e bem como salientado no início deste post muitas vezes a falácia é usada apenas para manipular, digo, argumentar. A argumentação assim como o reforço positivo ou negativo, para John Skinner em psicologia, não tem moral, contando que convença os desavisados... 

Portanto, estejam avisados!


"As coisas vão, as coisas vêm, as coisas vão, as coisas vão e vêm. Não em vão, as horas vão e vem, não em vão." Oswald de Andrade

*SPA: Síndrome do Pensamento Acelerado