sexta-feira, 11 de maio de 2012

A palavra "Amigo"




Adoro ser desafiada, principalmente quando eu domino o assunto, e ultimamente virou moda, como se eu fosse especialista em Letras – ainda não, sou apenas uma apreciadora devota da língua. Trata-se agora da pesquisa etimológica da palavra “amigo”. Não, esse não é um blog específico de etimologias, mas é uma causa nobre que desfaz muitos enganos.




Pesquisas simples apontam para um senso comum de onde amigo vem do latim Amícus -a; que se derivou de amore.   Mas obviamente não se chega a verdade numa primeira bisbilhotada no Google.




A palavra amor tem muitos significados, porém para mim a origem mais confiável é a Bíblia.  Não que a Bíblia seja um dicionário mas, em se tratando desta palavra, ali se encontram todas as variáveis possíveis do seu significado. Atualmente existe toda uma teoria sobre os tipos de amor: Agapé, Storge, Eros, Philia, etc. Como não vem ao caso os pormenores, vou me ater ao que importa: o que amor tem a ver com amizade?

Dizem que Agapé, transliteração para o latim do Grego αγάπη, é o amor sublime, generoso, assexuado. No entanto quando o assunto na Bíblia é amizade, a palavra usada é φιλαδελφία, ou seja, não guarda nenhuma relação com αγάπη, e sequer é traduzido pelo termo amizade, mas por amor fraternal.

Na raiz dessa palavra em grego está φιλεω, como podemos observar:  φιλαδελφία. Este conceito vem de φιλíα (em latim Philia, de Philos + sophia = Filosofia, lembram?) que na definição comum é o bem querer mútuo, admiração, inclui aí os recém namorados, e os amigos. Acontece, porém, que estas duas palavras amor e amigo se confundem embora na fonte buscada (Bíblia) elas estejam bem definidas e em sua grande maioria a palavra usada é Ágape, palavra popularizada por um Best Seller nacional.


Como na transliteração para o latim ambas começam com Am, que isoladamente não significa nada, sendo a palavra inteira amor, sim, um radical que dá vazão a outras tantas palavras: amável, amador, amasiado, amado; deduz-se que vem daí a relação entre as grafias, que teve origem no Lácio (península itálica) nos séculos IX ou VIII a.C.
Resumindo, no original grego havia duas palavras bem distintas para designar amor e amizade, no latim uma virou derivado da outra, no entanto nos dois casos os significados são semelhantes. Podemos observar a ocorrência destas palavras no seguinte versículo:
Quanto, porém, ao amor fraternal  (φιλαδελφιας)não necessitais de que vos escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por Deus que vos ameis (αγαπατε) uns aos outros;  Tess. 4:9
Se alguém ama outra pessoa, sem a definição Eros do amor (sensualidade), se ama ao ponto de se interessar pela vida da outra como pela sua própria, sente compaixão, fica contente com a alegria do outro, este tal sente amor (αγάπη) por seu amigo (φιλος). O importante é frisar que as palavras não conseguem conter a essência das ideias que se pretende exprimir em todos os casos.


Nesta viagem, pelo dicionário grego – não me bastando o latim – eu descobri passagens bíblicas que são traduzidas amor, mas não correspondem a nenhum dos vocábulos gregos mencionados, como no caso da negociação de Abraão pelos possíveis justos de Sodoma e Gomorra, ali a palavra traduzida amor é  χαριν (Gên. 18:29), que seria graça, de quem Deus se agrada imerecidamente, diferente de misericórdia (ελεος), não é preciso amar para usar de misericórdia.
Alguns céticos poderiam dizer que esta palavra deve se aplicar ao amor que fez Deus sacrificar Cristo para nos salvar, um amor imerecido, mas Cristo nos fez merecedores da graça de Deus, nós os que cremos, porque Cristo levou sobre si todos os nossos pecados na cruz, já não há mais culpa (diferentemente de responsabilidade), razão pela qual a palavra grega que define o amor de Cristo não é a mesma que Deus usaria para com Sodoma e Gomorra, lá ainda que houvesse dez justos, não haveria justificados pelo sangue do Cordeiro de Deus. O amor do Justo concede a graça.


“Ninguém tem maior amor (αγαπην) do que este, de dar alguém a sua vida pela vida de seus amigos (φιλων)”. Jo.15:13
“E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, (Cristo) Teríamos nos tornado como Sodoma, e teríamos sido feitos como Gomorra.” Rom.9:29; (Is. 1:9)

Enfim, as palavras são limitadas e os tradutores por mais que abusem da liberdade de interpretação, não podem conter a cerne da Palavra de Deus, mesmo repetindo vocábulos, ora traduzindo amor, ora amizade, ora graça, Deus sabe o papel que nos cabe. A mim a palavra “amigo” ganhou mais importância ainda, então a quem me desafiou resta muito para preencher todo o seu significado, mas aos poucos o tempo molda aquilo que o amor nos faz chamar alguém de amigo de graça!  

“O que repreende o homem gozará depois mais amizade (χαριν) do que aquele que lisonjeia com a língua”. Prov. 28:23

 Para arrematar um versículo com as três ideias:

O que ama (αγαπα) a pureza de coração, e é amável (χαριν) de lábios, será amigo (φιλος)  do rei.  Prov. 22:11


Fontes: 
http://www.bibliaonline.com.br/
http://dicionariobiblico.blogspot.com.br/2007/10/amor.html
http://dicionariobiblico.blogspot.com.br/2007/09/amigo.html
http://www.etimo.it/

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Minha Galeria - Cândido Portinari




















Memorial da América Latina - Portinari




Estou encantada!

Nunca fui grande apreciadora de artes plásticas, dentre as grandes obras eu conhecia no máximo Guernica de Pablo Picasso, Monalisa de Leonardo Da Vinci e Abaporu de Tarsila do Amaral, até porque já viraram clichês em todas as provas acadêmicas, concursos, ENEMs e afins. Parece que não sou a única limitada artisticamente.  
No entanto, certo dia alguns contratempos me levaram a mudar o roteiro e resolvi assistir a exposição de Portinari no Memorial da América Latina, entrei sozinha da primeira vez, um pouco cética, com minha opinião preconceituada sobre esse tipo de arte, e fui me encantando, primeiro com o ambiente.

Niemeyer é um sábio da arquitetura, aquele edifício e suas linhas são uma obra prima em si, sem os quadros de Portinari já são um show à parte. Com os quadros vale realmente como uma turnê!

Trata-se da exibição Guerra e Paz, quadros imensos que estavam expostos na sede da ONU em Nova York, acrescentados os ensaios feitos para a elaboração da obra encomendada especialmente para a inauguração da sede, marcando o fim da Segunda Guerra Mundial, lá eu descobri um fato interessante que mostra a face real de projetos humanitários como essa “Organização de Nações Unidas”.

Após visitar e estudar os traços de Portinari rumo a perfeição, antes mesmo de ver a obra completa e de pasmar frente a sua dimensão, assisti ao vídeo que conta a história do pintor, sua relação com o que fazia, seu posterior óbito por intoxicação devido ao chumbo das tintas, e o mais triste ele não pode estar presente na inauguração de seus painéis na celebrada inauguração por ser comunista, nem ele nem um dos arquitetos responsáveis pelo edifício da ONU, Oscar Niemeyer.

Ele morreu por sua arte e sequer recebeu os louros em vida. Recentemente seu filho único João Cândido Portinari viu a oportunidade de homenagear postumamente o pai e reuniu painéis nunca antes expostos, além de aproveitar a reforma do local original dos painéis Guerra e Paz, para trazê-los ao Brasil, onde seu pai certamente seria reconhecido.
Curiosamente, me identifiquei mais com o painel Guerra, por suas cores vibrantes e o cavalo negro, apesar de todo sofrimento ilustrado (ou talvez por isso mesmo) Guerra pareceu-me mais atraente, identifiquei-me com o retrato. Paz tem suas nuances claras, seu contexto é de dança e brincadeiras, isso para mim não é paz, é ilusão.   

Parece que o sofrimento é uma matéria prima mais fértil para os artistas do que a alegria, embora os painéis tenham dimensões semelhantes (Guerra é maior  os traços e a beleza de um sobressaem a do outro. Talvez Portinari soubesse que o destino da Paz que ele pintava não correspondia a paz que ele sonhava.  

Graças a Deus João Cândido conseguiu trazer essa exposição para o Brasil, para São Paulo a princípio, mesmo com a resistência dos americanos que queriam convencê-lo de que os painéis estavam fixos na parede, contradizendo os vídeos da montagem na época. E Graças a Deus também,  eu pude assistir! 

Dedico aos meus leitores a galeria de fotos que consegui no próximo post.