sábado, 27 de outubro de 2012

Geração Hambúrguer - Final





Para a geração hambúrguer Roberto Carlos é brega. Thiaguinho é a vibe do momento! Independente dos estilos distintos, algo que me chamou muito atenção ultimamente foi a nova canção de Roberto, “Esse cara sou eu”, que de imediato me levou a fazer uma impossível comparação com “Sou o cara pra você” do pagodeiro Thiaguinho.

Primeiro porque a matéria prima é a mesma, o tema é o mesmo. Ambos se dizem a pessoa certa para uma mulher, ambos dizem que a aceitam do jeito que ela é. O contexto é idêntico, só que Roberto compôs uma música, uma poesia, e o Thiaguinho... Não deve ter tido nem a intenção. Vejamos:

ESSE CARA SOU EU – ROBERTO CARLOS  
“O cara que pensa em você toda a hora/ Que conta os segundos se você demora/ Que está todo o tempo querendo te ver/ Porque já não sabe ficar sem você/ E no meio da noite te chama/ Pra dizer que te ama/ Esse cara sou eu”
“O cara que pega você pelo braço/ Esbarra em quem for que interrompa seus passos/ Que está do seu lado pro que der e vier/ O herói esperado por toda mulher/ Por você ele encara o perigo/ Seu melhor amigo/ Esse cara sou eu/ O cara que ama você do seu jeito/ Que depois do amor você se deita em seu peito/ Te acaricia os cabelos, te fala de amor/ Te fala outras coisas, te causa calor”
“De manhã você acorda feliz/ Num sorriso que diz/ Que esse cara sou eu/ Esse cara sou eu/ Eu sou o cara certo pra você/ Que te faz feliz e que te adora/ Que enxuga seu pranto quando você chora/ Esse cara sou eu/ Esse cara sou eu”

 SOU O CARA PRA VOCÊ – THIAGUINHO

Volta então pra mim, sei os seus defeitos/ Quero mesmo assim, pra mim tá perfeito/ O que foi fazer? Se arriscar pra quê?/ Só olhar pra ele que você vai perceber/ Ele não te ama como eu, te quer mais do que eu/ Duvido que ele faz amor gostoso como eu/ O seu tempo tá no fim, é melhor você se decidir
Tem uma novinha atrás de mim
Ê ê ê ê ê ê eu sou o cara pra você/ Ê ê ê ê ê ê e só você que não quer ver/ Ê ê ê ê ê ê eu sou o cara pra você/ Ê ê ê ê ê ê eu melhor que eu não vai ter

Comparação humilhante, não? Porém, não desproposital, para quem curte meus respeitos, mas é importante que se saiba que é possível fazer algo bom com o mesmo conteúdo espúrio de algumas músicas que atormentam nas rádios, nos carros e celulares da vizinhança por aí.

Quem diria que o sexo poderia ser descrito numa música chamada “Cavalgada”? Não disse Eguinha Pocotó, mas a belíssima Cavalgada de Roberto Carlos: “Vou cavalgar por toda a noite/ Por uma estrada colorida/ Usar meus beijos como açoite/ E a minha mão mais atrevida.”

Para finalizar eu nem acredito que vivi para escutar alguém muito próximo dizer que não sabia que a canção Monte Castelo da Legião Urbana era uma fusão do capítulo 13 da 1ª carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, na Bíblia, com o poema de Luiz Vaz de Camões, uma linda compilação de sabedoria, poesia e música:

Ainda que eu falasse a língua dos homens 
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria;
É só o amor, é só o amor 
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece;
O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente; 
É dor que desatina sem doer;
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente; 
É cuidar que se ganha em se perder;
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor; 
É um ter com quem nos mata a lealdade;
Tão contrário a si é o mesmo amor;
Estou acordado e todos dormem todos dormem todos dormem. 
Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor. 
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens. 
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria

ISSO É POESIA

Geração Hambúrger


“Os jovens vivem a geração do ‘hambúrguer emocional’. Detestam a paciência. Não sabem contemplar o belo nas pequenas coisas”.

Augusto Cury


 Quando o filme Sociedade dos Poetas Mortos foi lançado em 1990, e eu o assisti 9 anos depois na escola, não imaginei que seu título seria um prenúncio da realidade dali há 13 anos. Com o diferencial de que no referido filme, ao menos o professor não zombava da poesia, e acreditava na sua eficácia para ajudar os jovens a sair do labirinto emocional a que a sociedade o submete. 
                                   
 Hoje está mais crítico. Quando me assumo poetisa, geralmente ouço um coro debochado: “Ó, ó, ó, ó, ó!” Como quem diz: “Que costume arcaico! Que utilidade tem?”. Para a geração do hambúrguer emocional, realmente pode ser difícil compreender a mais simples poesia. Por essas e por outras o cantor Roberto Carlos lançará um cd com apenas quatro músicas, dentre elas um funk chamado Furdúncio...

Para o chamado rei precisar sair da suas origens românticas para obter público a coisa está realmente séria. Sabemos que música e poesia têm uma íntima ligação, pois ambas tem ritmo, só que na música o ritmo é realçado pelos instrumentos, e a poesia só conta com a voz e a emoção do leitor, ou entoador.  

Augusto Cury afirma que os jovens gostam de músicas agitadas porque seus pensamentos são agitados. Eu também sou jovem, mas me sinto uma estranha no ninho. Nada do que faço e julgo importante tem valor para a geração Mc’!  

Num passado não muito distante, apesar das guerras, das crises, da ditadura e outros sistemas repressivos havia poetas, que às vezes, tudo que podiam fazer no exílio eram suas poesias. Posso citar o poeta da escravidão Castro Alves, do exílio, Gonçalves Dias, Fernando Pessoa que não se bastava em si e criou vários heterônimos como Ricardo Reis e Alberto Caeiro, meu mestre Mario Quintana... o poeta da guerra Vinícius de Morais com sua Rosa de Hiroshima.

Não posso esquecer os poetas cantores do regime militar, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Lamentável que a mais conhecida canção cantada por Caetano atualmente seja “Sozinho”, que não é sua composição, mas do Peninha. Lamentável!  

Hoje, apesar das facilidades, da democracia, da economia um pouco mais favorável, as pessoas perderam a noção do belo... e nem estou falando do cantor de pagode romântico! O normal é ser superficial, ninguém imagina o esforço e o prazer que dá compor uma boa poesia. O diferencial não é a matéria prima, é o dom do artista, que pode fazer do mesmo tema várias composições diferentes e igualmente belas! Com que intuito? Experimente ensinar um jovem triste a transformar sua dor em versos e teremos menos um suicida no mundo.

Não é exagero. 

sábado, 20 de outubro de 2012

O Mundo é dos Espertos



Era uma vez um rei que tinha um fiel escudeiro chamado Urias. Urias era casado com uma bela moça chamada Bate-Seba.
Certa vez, o rei encantado com a esposa de seu escudeiro, deitou-se com ela, não contava, porém, que ela fosse engravidar.  Então num gesto de esperteza, para reparar seu erro sem sair com sua imagem real lesada, o rei diligentemente, armou com outros soldados, para que Urias fosse colocado na linha de frente da batalha, e deixado vulnerável a morte. Assim, o fiel escudeiro do rei foi morto em batalha.
Logo em seguida, o rei casou-se com Bate-Seba, e ela deu a luz a seu filho. Entretanto, a criança logo adoeceu, levando o rei a se contristar, ficou em jejum e com o rosto prostrado em terra até que a criança morreu. O fruto do seu erro, do seu pecado não vingou. Foi a lição que o rei merecia pela sua maldade.
 

Esta história retrata a aparente esperteza do rei Davi (2 Samuel 11: 1-27), que para se retratar e casar-se com a amante, colocou o mais fiel dos teus soldados na mira do inimigo, para que morresse.

Os mais incrédulos podem dizer que ele foi realmente esperto, pois embora a criança tenha morrido, ele ficou casado e ainda gerou outro filho que lhe sucedeu no trono: Salomão. Mas não. Como diz o título deste, o mundo é dos espertos, e Davi era um escolhido de Deus, portanto, não era do mundo. E é fácil notar que embora astuto, ele não tenha sido tão mundano assim. Vejamos.

Se ele fosse esperto, segundo o mundo, ele daria um jeito de matar a mulher e não seu soldado mais fiel, pois este lhe defendia a vida. O rei poderia encontrar milhares de outras concubinas para ocupar o lugar de Bate-Seba. Morta, ninguém descobriria sua gravidez, pois não existia necropsia naquela época.

Se ele não fosse um escolhido de Deus, ainda que não matasse a mulher, ele a enviaria para longe, e sequer assumiria a criança. Mas ele casou-se com a amante e sofreu feito um condenado quando seu filho adoeceu (2 Sam. 12:16). Este episódio mudou a vida de Davi. Dali em diante ele seria o homem segundo o coração de Deus (Atos 13:22). Ele se arrependeu.  

O que essa história nos diz, é que não adianta querermos atingir os mesmo objetivos que qualquer pessoa no mundo, pois não raro nos daremos mal, ou nos frustraremos, sofreremos, porque simplesmente não é isso que Deus requer de nós.

Se um dia eu tiver filhos ou alunos, me dedicarei a torná-los inteligentes e espertos. Pois se forem apenas inteligentes, eles fatalmente serão usados e se esforçarão para os espertos. Se forem só espertos, eles acabarão usando e magoando os inteligentes e sensíveis.

Porém, se forem inteligentes e espertos serão livres para dar de si o que tiverem de melhor. Serão espertos (perspicazes) o suficiente para não serem usados em detrimento de si mesmo, e inteligentes para desenvolver projetos e compartilhar com todos.

Acima de tudo, no entanto, é preciso que eles saibam que o mundo não é tudo que existe, para que não utilizem suas inteligências e espertezas em prejuízo de outros. Pois quem só vê o aqui e agora, não se importa com danos a longo prazo, tão longo que chega a ser eterno!

Se eu nunca tiver filhos ou alunos, que esse conselho sirva para quem os tiver.