Há um profundo grito de desespero contido na garganta. Há uma lágrima sedenta e lamuriosa que quer escapar, mas não encontra o caminho. “Solte-se solte, libere suas travas” – alguém me disse. Isso me deu mais angústia, além do desespero e da lamúria, acrescentou a vergonha, a timidez ante a figura até então desconhecida que me fitava.
“Não estou olhando, solte-se”. Riso. A expressão rir para não chorar é muito verdadeira. “Pare de rir!” Ora! Deixe meu sorriso, é o que tenho de melhor! “É preciso soltar o que você tem de pior” ... Meu sorriso é uma farsa que esconde tudo de ruim que eu não consigo me livrar!
Apago a luz e só então, na solidão do quarto escuro, é que consegui soltar urros de raiva, e golpes imaginários no ar. De joelhos no chão tento arrancar as lágrimas, mas elas não vêm ... e outro dia, luz apagada, água do chuveiro caindo nas costas, urros, tristeza, ira. Nada das lágrimas.
Mesmo sabendo que a dor maior ainda ficou, houve alívio. Leveza no respirar, sono sem pesadelos. Quando não tomamos cuidado com o que guardamos dentro do peito, corremos o risco de sofrer para arrancar o desespero que acumulamos sem perceber.
SENTIDO SOLIDÃO
Rodopiando, o anjo calado mira;
Quem é que me guarda as chamas eternas?
O meu cantar triste, apenas suspira,
Nem mais alcança as nuvens do céu etéreas;
Aqui tudo é solidão, minha guia
Eu corro estrada afora sem retorno,
Nem Deus quer conter a minha fúria...
E me alimenta pela veia com soro;
Senão, serei em breve como um céu estrelado,
E cada ano vivido – sem ternura -
Trará em si o clamor de um astro apagado;
Então, no fim de uma insana procura,
Verei em mim um imenso céu nublado,
Com a sombra entristecida da loucura
Não se ponha o sol sobre a vossa ira. Efésios 4:26
Mais um texto que era para ser uma ficção.
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