sábado, 19 de junho de 2021

Novo Blog

 



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segunda-feira, 8 de março de 2021

Dia Internacional da Mulher



Hoje é o dia internacional da mulher.

Já li nesta data muitos textos exaltando criações de mulheres, provando que elas são tão capazes quanto os homens de inventar coisas. Não há dúvidas sobre isso.

Minha reflexão de hoje não é sobre competências, habilidades ou atitudes. Nem sobre motivações ou amor com que mulheres e homens trabalham ou fazem qualquer coisa.

Quero falar da força psíquica que sustenta todas as fêmeas humanas. Segundo li uma vez, essa força pode ser chamada na psicanálise de id ou Self; e na biologia, ela seria chamada de natureza fundamental.

A fêmea saudável é dotada de emoções, intuição, ela é arte! Ela é ideias, sensações, impulsos. Ela vive fascinada com o rico material do seu inconsciente, com garra e prudência. A fêmea é aquela que sabe fazer a pergunta certa e a partir disso transformar-se.

É aquela que sabe por intuição que deve perseguir tudo que fica por trás do que é observável facilmente. É aquela que vê numa boneca um símbolo que se conversa com a sabedoria intrínseca na sua própria psique. Que é como é por natureza.

A fêmea em seu estado normal sabe separar pensamentos e sentimentos. Entende que não pode forçar a cultura a se tornar amigável, sensata, como muitos gostariam. Mas sabe que pode se reinventar a partir das próprias raízes, que estão lá na terra, sempre viva. Pode curar suas feridas, e sair da clausura.

Aprendi que essa força psíquica pouco tem a ver com capacidades. A psique da mulher pouco tem a ver com tudo que se prega a respeito da mulher moderna.

Desejo que toda aquela que nasceu dotada dessa psique seja feminina. Que é diferente de ser feminista. Assim como ser macho é diferente de ser machista. Aproveitem a benção gratuita que já vem pré-instalada no hardware da sua alma. Seja poesia, e escolha suas batalhas com sabedoria. Olhe ao redor e desafie cada fórmula pronta que tira de si sua essência mais virtuosa.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Resenha do Livro Mulheres que Correm com Lobos


Depois de me encantar com o livro A Ciranda das Mulheres Sábias, de Clarissa Pinkola Estés, resolvi me dedicar a leitura de seu outro livro: Mulheres que Correm com Lobos.

As duas leituras foram gratas surpresa! Não dava nada por nenhum deles, não conhecia a autora, e de antemão julguei que seriam livros feministas, pelo tema “mulher” entre os mais vendidos ..., no entanto, o livro é uma joia para quem souber apreciar belos tesouros. Como expresso a seguir:

A importância do papel da mãe (matriarca)


Do alto da maturidade dos seus 47 anos (idade em que escreveu o livro em 1992) a autora descreve com sua sabedoria de contadora de histórias a relevância de reconhecer o equilíbrio entre masculino e feminino para a psique humana, os perigos da maternidade da mulher imatura, que ela chama de mãe-criança ou mãe sem mãe, que é a mulher que cresceu sem a presença materna com todas as funções que se espera de uma mãe.

O livro alerta da fragilidade da mulher que dá à luz sozinha, sem a figura do pai, e por isso tem o seu próprio papel de mãe prejudicado no desenvolvimento da própria psique e da psique dos filhos. O que perpetua pessoas com baixa capacidade instintiva, pressentimentos ingênuos, ou pouco desconfiômetro para prever situações de risco.

É inegável que gerações passadas de homens e mulheres, em especial a feminina, possuía muito mais expertise para prever perigos, identificar pessoas não confiáveis, ou mesmo pressentir quando algo não ia bem com alguém próximo. Nada disso era movido pelo acaso. Eram situações que sua condição externa proporcionava, permitindo à mente ficar mais alerta aos instintos, enquanto o pai ou marido cuidavam do ganha-pão.

Embora danosa, a deficiência causada por gerações de mães-sem-mãe, de corpo presente, mas ocupadas demais para cuidar da construção psicológica dos filhos, apesar de crescidos submersos por estímulos de terceiros (escola, TV, internet, amigos, padrastos, avós, tias etc.) nada disso é impossível de desfazer, apesar de exigir um certo esforço de autoconhecimento.


A importância das atividades domésticas


“Todas essas ações ligadas às ‘prendas domésticas’, cozinhar, lavar, varrer, significam algo além do rotineiro. Todas essas imagens sugerem modos de se pensar na vida da alma, de avaliá-la, alimentá-la, nutri-la, corrigi-la, purificá-la e organizá-la.”

Mais que um estorvo rotineiro, que muitas lutam por impor como obrigação compartilhada, e outras com sucesso já deixaram a atividade exclusivamente para os homens, as ações domésticas segundo a autora têm seu valor simbólico. Têm efeito de organização e limpeza mental. Durante a ação liberamos muitas substâncias no organismo que auxiliam na organização da psique.

Quem já não ouviu falar que o ambiente reflete nosso estado interno? Quem nunca percebeu que uma preguiça sobrenatural de arrumar o guarda-roupa era um reflexo de um desânimo causado por outros problemas? Ou quem não se sentiu mais leve após completar uma faxina que vinha sendo adiada há semanas?

Será que essa luta para que o homem contribua com as atividades domésticas, é só uma questão de equalizar direitos, ou reflete o medo de se encarar, avaliar, organizar, e nutrir a psique sedenta de atenção?

Poucos hábitos das matriarcas não tinham razão de ser. Pode ser que elas não tivessem essa consciência dos porquês. Mas não há nada mais pernicioso que lutar por romper padrões sem ter consciência de sua utilidade, só porque acham que está ultrapassado para os tempos modernos.


O perigo da relação sexual casual


Segundo Clarissa Pinkola, a doação do corpo deve ser uma das últimas fases do amor. Quando a relação começa pela fase carnal, fica mais complicado construir alicerces na relação, porque o ego do prazer precisa ser afastado à força do seu interesse carnal. É difícil perceber o real caminho em que estamos quando afetados pelo prazer.

Ela ainda explica, de forma interessante, que “fazer amor é fundir a respiração e a carne, o espírito e a matéria. Um se encaixa no outro. Existe um vínculo imortal de alma para alma que mal conseguimos descrever, ou talvez que mal consigamos decidir, mas que vivenciamos em profundidade.”

Para quem é cristão, é fácil entender o que acontece numa relação sexual, mesmo antes de experimentá-la. Mas independentemente da fé, esse é o relato de uma psicanalista, explicando o efeito do sexo no self profundo da psique humana. Convém, não banalizar essas relações. Não adianta considerar apenas “meu corpo, minhas regras” e negligenciar os efeitos dessas regras na mente.

É extremamente vantajoso deixar a experiência corpo-a-corpo chegar na hora certa. Com uma relação estruturada, de cooperação, onde ambos estejam conscientes do que pretendem e da influência que têm sobre a alma do outro. Por mais simples e banal que possa parecer, há uma troca na relação sexual que faz com que percamos muito ao se doar para quem não está comprometido em cuidar do reino da psique feminina.

Um companheiro deve ser escolhido pelo profundo anseio da alma. “Escolher só porque algo apetitoso está à sua frente não irá satisfazer nunca a fome do Self da alma. É para isso que serve a intuição. Ela é a mensageira da alma”. É essa união de almas que sobrevive na fartura ou na pobreza, que passa pelos momentos mais simples e mais complicados. É a união de poderes das duas almas num único indivíduo.

TPM: ausência de criatividade e de solidão positiva


Pela sua experiência como analista de mulheres, a autora afirma que a TPM que atinge grande parte da mulher moderna, não é apenas uma síndrome física, mas um sintoma da mulher frustrada, que não tem tempo suficiente para se revitalizar e se renovar. Elas se veem bloqueadas pelo excesso de trabalho, de lazer, pela fadiga ou pelo receio de fracassar, ou perturbadas por casos de “amor”.

A mulher precisa deixar temporariamente o mundo, se permitindo a solidão, estar-se inteira para si, sentir sua essência. O que é diferente de fugir e sair de férias sem os filhos depois da pandemia, como já ouvi histórias de algumas mulheres. 

É preciso um tempo para se dedicar a si, olhar para o mais íntimo e permitir se inspirar, se concentrar, se organizar, e criar coisas úteis. Quanto mais criativa, e consciente de si mesmo, menos necessidade o organismo tem de reagir negativamente aos hormônios do ciclo natural da menstruação. 

A importância da arte na manutenção e restauração da mulher


Poesia, pintura, canto, qualquer tipo de arte, segundo o livro têm o poder de restaurar e aproximar a mulher do núcleo instintivo da psique. Por experiência própria, os períodos em que mais estive desconectada de mim mesmo, sem consciência das funções da minha mente, foram os períodos de secura criativa.

O inverso também vale. Saí várias vezes do lamaçal da depressão por meio da criação de textos. Tive um período curto em criei artesanatos também. Bloqueios criativos, geralmente são reflexos de bloqueios psicológicos, como medo da rejeição, medo de dizer o que se sabe, a preocupação com a própria competência, entre outras coisas.

O fluxo de criatividade se libera quanto mais nos conectamos à nossa verdade, nossa fé, nossa essência. Quando rompemos com o ciclo vicioso do ego, de olhar demais para a imagem que representamos para os outros, e passamos a olhar quem somos, ou quem Deus quer que sejamos, que está implícito nos dons que ele nos dá, nas circunstâncias na qual ele nos coloca. 

Citações 


"O arquétipo da Mulher Selvagem, bem como tudo o que está por trás dele, é o benfeitor de todas as pintoras, escritoras, escultoras, dançarinas, pensadoras, rezadeiras, de todas as que procuram e as que encontram, pois elas todas se dedicam a inventar, e essa é a principal ocupação da Mulher Selvagem. Como toda arte, ela é visceral, não cerebral. Ela sabe rastrear e correr, convocar e repelir. Ela sabe sentir, disfarçar e amar profundamente. Ela é intuitiva, típica e normativa. Ela é totalmente essencial à saúde mental e espiritual da mulher."

"A melhor atitude para vivenciar o inconsciente profundo é a do fascínio sem exagero ou retraído, sem excessos de admiração ou de cinismo; com coragem, sim, mas sem imprudência".

"Fazer a pergunta certa é o ponto central da transformação — nos contos de fadas, na psicanálise e na individuação."

"A mulher sábia mantém seu ambiente psíquico organizado. Ela consegue isso mantendo a cabeça limpa, mantendo um local limpo para seu trabalho e se dedicando a completar suas idéias e projetos."

"Será que um aspecto negativo da psique pode ser reduzido a cinzas só por ser alvo de observação constante? Pode. Pode, sim. Mantê-lo sob o olhar inflexível do consciente pode fazer com que se desidrate".

"Em vez de conversar sobre o problema, as pessoas preferem "dar um tempo". É uma versão adulta de "o cachorro comeu meu trabalho de casa" ou "minha avó morreu..." pela quinta vez".

Fico feliz que as obras de Clarissa Pinkola Estes estejam entre as mais vendidas. Espero que quem comprou tenha feito bom proveito da leitura, e tenha compreendido e resgatado o sentido da mulher selvagem, da mulher natural, com os dons e habilidades com as quais foram criadas e que se perpetuam e alimentam pelos costumes e atividades que a natureza feminina tem mais afinidade e aptidão.