sábado, 29 de agosto de 2020

29 de Agosto: Em 48 horas Seu Destino Vai Mudar Para Sempre



“É 29 de Agosto. Em 48 horas o destino de Amelie Poulain vai mudar, mas por ora ela não sabe disso...”

Todo dia 29 de Agosto fão do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain lembram de uma cena onde ocorre uma virada na vida da personagem.

Uma vez ouvi La valse d’Amélie uma das músicas temas do filme e me encantei. Li a sinopse do filme dirigido por Jean-Pierre Jeunet e me apaixonei ainda mais. Sempre simpatizei com arte francesa. Mesmo vendo apenas algumas cenas no Youtube, aquele sutileza e doçura cativou meu coração. Isso foi há mais de dez anos.

Só assisti no ano passado. A trama não ficou devendo nada para minha impressão sobre o trailer ou as resenhas que li.

A narrativa começa contando a história de Amélie criança, protegida em excesso pelos pais, alfabetizada pela mãe. Logo a mãe morre e Amélie fica em casa isolada, com o pai. Não tinha como não me identificar com esse enredo.

O destino de Amélie era fazer o bem aos outros e aceitar o seu jeito estranho. Coisa de quem cresceu isolada do convívio social por um suposto problema de saúde.

Seus fantasiaram que ela tinha uma problema do coração.

Quando adulta, Amélie encontra um grande amor. Ela passa por várias situações embaraçosas até se assumirem e viverem sua paixão. Nem o desenrolar moderninho das escolhas amorosas da personagem tiram a beleza e a fotografia da trama.

Amélie era uma menina doce e amorosa. Muito otimista e que quase não enxergava maldade nas pessoas. Foi por essa leveza que o filme ganhou vários prêmios e conquistou o coração do público.


sábado, 22 de agosto de 2020

Saia da Bolha Antes de Que Seja Tarde


Você já reparou o quanto nossa realidade é limitada?

O quanto enxergamos as coisas do ponto de vista das nossas próprias experiências e do meio em que vivemos?

Já se perguntou o quanto tudo isso molda nossas escolhas e nossa vida?

Uma História para Ilustrar

Assisti uma vez, o filme Never Let Me Go, do diretor Mark Romanek, baseado no romance de Kazuo Ishiguro. A história tem três personagens centrais: Kathy, Tommy e Ruth. Começa citando uma experiência médica que teria estendido a vida de pessoas em 100 anos. Em seguida mostra um local onde vive um grupo de crianças, parecido com um orfanato, tutelado por pessoas de ética duvidosa, isolados do convívio com a sociedade que não é mostrada no filme.

A Revelação

Num dia, Lucy, uma professora, revela às crianças que elas eram clones destinadas a doação de órgãos. Quando chegassem à sua última doação possível, sem que pudessem manter-se vivas elas completariam sua “missão”. A professora sai de cena logo depois, demitida por ter revelado um segredo às crianças.

Com a descoberta, Kathy, Tommy e Ruth, três amigos, se aproximam ainda mais na ânsia de tentar adiar seus trágicos destinos.

Nesse intervalo, uma cena muito intensa e melancólica ocorre:

Crianças eufóricas com a chegada de um caminhão ao local onde estavam. Era um momento recorrente para elas. Para o espectador era a primeira vez que a cena aparecia.

O que o caminhão trazia?

O veículo estaciona e descarrega vários brinquedos e objetos velhos e quebrados. As crianças, sem nenhuma referência da realidade, fascinadas, se atiram sobre os objetos, curiosas e felizes capturam coisas para si. Kathy toma para si um tocador de fitas, que tocava a música tema Never Let me Go.

Tommy era um artista, e por um tempo pensou que sua arte servisse para adiar o seu desastre, uma vez que não tinha sido chamado para nenhuma doação. Kathy o amava, mas Ruth, insegura e manipuladora, seduziu o amigo Tommy, que a escolheu ao invés de Kathy. E assim os amigos se afastaram. E a trama sofre uma mudança cronológica.

Conformadas com Seu Destino

O ponto trágico do enredo é que apesar da revelação da professora Lucy, a maior parte das crianças não se espanta com seu destino. Elas se sujeitam, e até acham sublime ter a missão de se doar a pessoas, que nem aparecem na trama.

A introdução já tinha citado um experimento para aumentar a sobrevida de pessoas, mas quais? Que grupo de pessoas eram beneficiadas em prejuízo de outras?

O filme também fala de clonagem de humanos, que por sua vez eram tratados de forma desumana. Nada disso é posto em xeque, pois a proposta do filme é justamente mostrar o poder do condicionamento humano, quando isolados de outras realidades.

Apenas três crianças conseguem superar o efeito manada e furam bolha...

A importância de furar a bolha antes de tomar decisões

Será que a paixão pelo lado B em oposição ao A tem lógica, ou estamos apenas sendo guiados por interesses desconhecidos, sem nem perceber? 

Será que fomos doutrinados desde criança a crermos em certas ideias, costumes, opiniões? 

Será que o presente é melhor que o passado em todos os sentidos, só porque é novo? 

Será que o novo é tão novo assim, ou existem livros de séculos passados prevendo tantas ocorrências de hoje, com precisão quase cirúrgica?

Se fontes antagônicas dizem versões diferentes de um mesmo assunto, como validar qual delas está falando a verdade?

Estamos nos permitindo olhar ao redor para ver o que dizem aqueles que discordam, ou estamos bebendo sempre da mesma fonte?

Qual o risco de cairmos na armadilha dos clones de Hailsham, (local onde se passa o filme) doando de forma simbólica nossos órgãos (coração, olhos, estômago, fígado) por uma causa que não é nossa, só porque fomos condicionados assim?

Saindo da Bolha

Felizmente, não precisamos ser cordeirinhos destinados ao matadouro. Ou pelo menos não precisamos ir para o abate, sem conhecer o que nos levou até ali.

Hoje temos
 informações a todo tempo na internet. Poucos estão off line numa realidade paralela como Kathy, Tommy e Ruth. O encontro com outras pessoas de fora da nossa bolha está fácil, basta que nossa mente comece a questionar ideias, e que o algoritmo perceba isso.

Claro, que se navegar por temas que alguma organização global não gostar muito, o algoritmo vai te distrair o quanto puder...

Também é uma opção desligar a TV ou o rádio onde se lê as manchetes como se fossem notícias. Manchete não é notícia. Experimente conectar o conteúdo de um texto a sua manchete e vai descobrir o encantado mundo do click bait, o formador de opinião moderno. Chama atenção pelo título, porque quantidade de views é audiência. Quando percebemos que o texto não diz nada que a manchete prometia, a visualização já foi monetizada para o site em questão. Eles não estão preocupados. Quem tem que se preocupar somos nós!

O Caminho do Meio

Na dúvida entre dois pólos extremos, siga o caminho do meio.

O que não significa isentar. Não seja um isentão, que é aquela pessoa que tem um lado, mas não tem coragem de admitir e fica vagando como assombração pelo outro lado, sem de fato acreditar na causa.

Você pode ter um lado, só não precisa ser inocente ao ponto de achar que todos que se colocam daquele lado estão sempre certos, são fontes fiéis, ou não podem nunca errar sem serem canceladas. E não acredite que tudo que está do lado de lá daqueles valores que mais preza, é por natureza ruim ou indigno de nota. Ambos têm seu valor sob algum aspecto.

Se privar daquelas fontes de costume, nem que seja por pouco tempo, e observar o ambiente com os olhos mais atentos, perguntador como uma criança, é uma excelente forma de furar a bolha.

Aos poucos percebemos com esse hábito, que estávamos apaixonados por ideias que não eram nossas. Defendendo causas que não nos dizem respeito. Compartilhando hashtags que não mudam em nada a vida de ninguém, mas nos faz parecer mais aceitáveis por aderir um tema comum e popular.

Mas o que vale mais é estarmos conscientes das nossas escolhas. Aderir só o que causa impacto direto na nossa vida, ou na vida de pessoas próximas pelas quais zelamos. Mais que isso, exige um campo de visão muito mais alto para entender o que sustenta aquela causa. Sem saber disso não vale a pena.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Sem Filtro


Diz-se que pessoas sem filtro são aquelas que falam o que pensam, sem se importar a quem ou como. Muitas vezes elas invadem pessoas ou situações sem antes se perguntar se alguém requisitou o seu pensamento sobre o que quer que fosse.

O filtro é sinal de polidez, suavidade sobre o que é rústico, purificação. Em fotografia o filtro tem a função de alterar a luz. É um facho de luz onde há trevas... A palavra filtro tem a sua origem na mesma raiz da palavra amor (philon = amor fraterno) e era o nome dado a uma espécie de poção do amor. Talvez a modernidade abuse de vários tipos de filtro em busca de amor, em busca de auto aceitação, em busca de enxergar uma imagem melhor de si, menos invasiva, menos bruta, mais próxima da arte e mais longe da realidade.

Não é de todo ruim, embora existam os críticos do filtro e o excesso no controle das palavras. A novilíngua, que muda uma série de palavras para não ofender minorias imaginárias, é uma espécie de excesso, onde nada mais pode ser dito porque o melindre é demasiado e ninguém aguenta uma simples brincadeira. O que não justifica a ausência total de autocontrole no que se diz em relação aos outros. O exagero de filtro nas fotos, por sua vez, pode tornar a imagem uma aberração. Por outro lado, é uma forma de não expor o que não se gosta aos outros. É oferecer o que se tem de melhor.

Há quem discorde. Quem pense que é belo expor as marcas da vida, e qualquer outro sinal poroso da pele. Há quem pense que o aspecto porcelanado de um filtro torna a pessoa muito mais próxima de uma estátua que de um ser humano. E talvez não esteja longe da verdade. Existem marcas de expressão que não revelam as experiências e estão em total desacordo com a realidade. Uma escultura pode ter tantas experiências de vida quanto a imagem de alguma foto de rede social, só que o tempo precisou passar assim mesmo, mas só uma delas tem o dom de ser sempre estática.

Tudo pode ser equilibrado. Se todos fossem exímios fotógrafos, ou perfeitos modelos, não existiriam profissionais dedicados ao ramo. Como uma bebida, um café coado. Depois de filtrado o rústico grão torna-se mais saboroso. E os motivos de cada um, cada alma por trás daquela imagem exibida, a história daquela foto ou até o porquê daquele filtro, certamente não estará tão obvio na legenda, mas nem por isso torna aquela imagem menos digna de curiosa consideração.