sábado, 26 de junho de 2010

Ação de Cidadania





Vivendo e aprendendo!


A vida tem me dado boas oportunidades de evoluir espiritualmente. Uma delas foi uma visita à Casa de Repouso Amigos do Coração de Jesus, em Francisco Morato/SP. A ação beneficente foi promovida pela ETEC da cidade, pela turma de Administração, na disciplina de Ética e Cidadania.

Antes de um possível questionamento sobre o que uma visita como essa tem a ver com administração eu respondo: Tudo! Uma empresa que se preze tem o dever de prestar assistência às pessoas que contribuíram tanto com a sociedade como os idosos. Foi uma experiência perturbadora e ao mesmo tempo maravilhosa.

Após arrecadarmos com as turmas de Informática, Ensino Médio, Contabilidade e Secretariado da mesma ETEC algumas doações de Alimentos e produtos de higiene pessoal, com a colaboração generosa de um amigo pessoal e do estabelecimento local no qual ele trabalha, vulgo Supermercado ITALIANOS, fomos num sábado à tarde visitar nossos amigos idosos.

Quantas histórias! Uma das cuidadoras do lar, D. Cleuma, nos atendeu gentilmente e nos apresentou essas pessoas, deixando-nos a vontade para interrogá-los, coisa que alguns fizeram com muito boa vontade, ao passo que outros não. Até isso soou bem, vindo da parte deles! A primeira delas foi D. Genilda M. Laranjeira, 75 anos, trabalhou com serviços gerais no Hospital de Sabará/SP, Ela era uma das mais lúcidas, porém não me detive a ela, e busquei desvendar os segredos dos mais tímidos e dos mais despojados.

Entre as desinibidas encontrava-se D. Loló, ou Heloína Rodrigues Machado, 66 anos, engraçou-se logo com os rapazes, com seu jeito cativante, apelidou-os de "neném", Bem vivida, D. Loló, teve 13 filhos, dos quais 8 sobreviveram, segundo ela: "Quatro machos e quatro fêmeas". Disse que tinha quatro paqueras na casa de repouso, e afirmou ser uma mulher bonita. Impressionante sua alto estima!

Entre as mais tímidas estava D. Edna Venturini de Cristo, 53 anos, acometida de uma depressão crônica só cosnseguimos descobrir que ela tinha trabalhado como faxineira e costureira em São Paulo, teve quatro filhos e netos, e gostava muito de rezar, isso após explicar à ela que não tínhamos visto o Elvis Presley, mas ela o tinha visto bem ali!

Outro que falava pouco, era o Seu Abel, com esquecimentos, ele sabia pouco além de seu nome, alegava estar "surdo da cabeça", mas sabia que havia trabalhado na roça, com gado. Também justificou que não fora ele quem matou Caim, (pouco importa se na história original foi Caim que matou Abel). D. Francisca Rodrigues, 80 anos, também falou pouco, morava em Jundiaí, trabalhou numa fábrica de tecidos, era viúva, tinha dois filhos e três netos. Gostava de forro e samba.

Entretanto as histórias que mais me tocou, deixei para o final, sendo que uma eu deixo para o próximo post em caráter especial. Um dos nomes pelo qual não dormirei em paz enquanto não atender seu pedido é José Duarte Marcolino, aproximadamente 59 anos, um senhor que veio do Ceará com 10 anos de idade, morou no bairro do Brookling sozinho, trabalhou como taxista por 20 anos em Santo Amaro (local que ele considera o melhor de São Paulo).

Além de taxista Seu José trabalhou numa fábrica de bicicletas Monark, "na Chácara Santo Antonio, perto do Borba Gato". Ele relatava sua vida com uma facilidade, através de seus olhos tristes, que eu e minha a amiga Bruna viemos a saber mais tarde que eram cegos, quando ele disse que havia ficado com sequelas da diabetes.

Após narrar seu gosto pelas praias de Santos, e Peruíbe aos finais de semana em que não trabalhava Seu José que nunca havia se casado, no entanto disse ter vivido dez anos com uma, moça, Rosana Araujo, segundo ele professora da USP, sendo que ele havia apenas completado o "ginásio". Ele perguntou se eu tinha papel e caneta pra escrever uma carta pra um determinado endereço que ele passou de Santo Amaro, pediu que nós escrevêssemos uma carta pra Rosana, professora de biologia da USP afirmando que estava tudo bem com ele, disse que ele mesmo não fazia porque era cego (foi aí que soubemos!).

D. Cleuma a cuidadora disse que quem o levara para o abrigo foi uma vizinha dele, e não uma namorada como ele afirmava no entanto o nome correspondia, e agora só me resta descobrir o CEP para encontrar a Professora Rosana, ela pode não ser o amor da vida do Seu José, mas ela o conhece, e ele quer se comunicar com ela. Quem sabe por que ela não mais o procurou?

O segundo nome é bem mais alegre que o Seu José: Rovilson Cardoso Sales, 64 ano, Morava na Vila Formosa antes de vir para a Casa de Repouso trazido por uma sobrinha. Seu Rovilson afirmou ter sido goleiro do Atlético MG no final dos anos 70, no entanto seu nome não consta na lista dos jogadores de toda a história do time, porém existe uma suposta justificativa, Seu Rovilson é um ex-presidiário, cumpriu 5 nos de sentença em Pedra Azul/MG por assalto.

Após sua vinda para São Paulo Ele trabalhou como ajudante de pedreiro, de pintor e prensista numa empresa por dez anos. Disse ter conhecido o Pelé e o Roberto Carlos, e posso supor que ele tenha estado presente no time do Atlético, no amistoso entre Atlético e Flamengo, em 1979, quando Pelé vestiu a camisa do Flamengo. Mas é só uma suposição. Sou capaz de revirar a história do futebol para achar um registro de Rovilson Cardoso Sales.

Um terceiro nome não foi tão difícil ser encontrado... mas isso é assunto para outro post!


Faça suas doações de alimentos não perecíveis e produtos de higiene (inclusive fraldas geriátricas):
Associação Amigos do Coração de Jesus
R. Jandira, 481, Jardim Eliza - Francisco Morato/SP

Fone: 4608-1257




2 comentários:

  1. realmente como vc escreve bem.... parabéns...saiba q o talento ñ se encontra na sua mente mais em seu coração que acalenta a mente e organiza a inspiração .........aplausos Camila bjus ....se tiver tempo acesse vai gostar http://recantodasletras.uol.com.br/duetos/2497176

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  2. Boa tarde Cammy.
    Faço parte de uma grupo as Tricoteiras Solidárias, e ontem estivemos neste abrigo, para poder fazer doações de mantas, que são feitas por muitas de nós.
    Confesso que foi chocante e ao mesmo tempo revigorante.
    Eles são lindos e merecem toda nossa atenção.
    Amanhã pela manhã irá um grupo para levar as mantas e ficar um pouco ao lado deles.

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