segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Chocolate:Doce Pecado

O roteiro do filme Chocolate, extraído do livro homônimo de Joanne Harris é um brilhante instrumento para iniciar uma discussão sobre a verdadeira relação entre pecado e prazer. Lasse Hallström traçou um elo entra cada personagem junto a estes dois elementos, onde cada um viveu-o de uma maneira distinta.

Todos pecadores, guardados e até mesmo escondidos sob a cruz de Cristo, como se a religião pudesse torná-los perfeitos ou menos humanos, porque ao que parece, quanto mais fugimos da nossa condição humana mais incorremos em erros, caímos na hipocrisia de nos achar melhores que os outros, ou passamos a acreditar-nos guardiões da moral e boa conduta da humanidade. Não há engano maior que este.


O que não quer dizer que a imoralidade é consentida, mas quanto mais endurecemos nossos corações mais imoralidades veremos até nas mais inocentes intenções. Qual de nós em sã consciência consegue fugir do prazer a vida toda? Sem referir diretamente à sexualidade, que num primeiro momento aparenta ser a maior expressão de prazer, fato que até os mais cautos sabem.



Mas os pequenos prazeres da vida que nos acodem desde a mais tera infância, o prazer de mamar, do colo da mãe, de brincar, entre outras incontáveis possibilidades. O prazer de comer chocolate – heis aí um mistério. O Cacau já foi usado como moeda de tão precioso que era na antiguidade, devido aos efeitos de suas propriedades. Infelizmente o produto se popularizou e hoje desfrutamos desta delícia de forma tão mecânica que mal sentimos seus efeitos, sua essência.


Chocolate hoje é evitado por causa da obesidade, das estrias e fatores estéticos, mas um sábio antigo já alertou que “o que faz mal não é o que entra pela boca, mas o que sai”, então pouco importa o que comemos se nossa conduta estiver de acordo com nossos desejos. Todos os prazeres são condenados por razãos deturpadas da realidade.


Tudo é ilegal, imoral ou engorda, já disse outro poeta. Qual a real necessidade de subverter as sensações que causam gozo? Por que até o castigo ao pecado original foi descrito por meio do ato sexual, onde a consciência de Adão e Eva foi manifestada através da vergonha de sua sexualidade (perceberam que estavam nús) e a mulher sofreria as dores do parto? O que é outro grande prazer: gerar outra vida!

No entanto, quantas leis seguimos sem reflexão só por serem leis? Deste modo na origem da palavra pecado (do grego hamartia) que significa erro, ou desviar o alvo, a probabilidade de os legisladores terem errado a interpretação das leis que criaram é grande, e os que a seguem erram com eles, logo, pecam. Sem fazer referência às leis Divinas, mas somente às humanas.




Palavras vão sendo modificadas e agregam-se valores a elas com o decorrer do tempo, uma análise simples da palavra pecado elimina qualquer influência malígna, uma vez que nasceu para designar erros puramente humanos. “Doce pecado”, portanto, não é uma agressão aos bons valores, nem uma promoção da imoralidade, mas apenas uma expressão que está em consonância com os valores atuais: Se prazer é considerado algo errado, mas poucos se furtam de alguns erros, na medida de nossas limitações, então desfrutar um doce pecado nada mais é do que assumir nossa humanidade, e romper com esse ciclo de falso moralismo que domina a sociedade; sociedade tolerante com a corrupção, mas que se insurge contra leves manifestações em favor do prazer (que no presente contexto não quer dizer prostituição, ou coisa que o valha), prazeres revelados através do consumo desta especiaria, a que chamamos chocolate!


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