terça-feira, 19 de abril de 2011

Procurando-me em Nemo





Alguns fatos recentes fizeram-me lembrar de Dory, ou Dóris como na dublagem de Procurando Nemo. Na verdade o filme inteiro é genuíno e muito familiar apesar de eu não ser um peixe-palhaço como Nemo e seu pai, nem um Paracanthurus hepatus (cirurgião patela) como a Dóris.



Nemo é um peixinho com uma deficiência em uma das nadadeiras que por isto mesmo era superprotegido por seu pai, que acreditava que ele não podia fazer certas coisas como um peixinho qualquer. Nemo virou chacota no meio social (bullying) como todo ser estranho, e não era por sua deficiência, mas pelo que ele acreditou que de fato não podia fazer, até tomar coragem para nadar em mar aberto, o que o fez ser capturado por um nadador e ser posto num aquário.

Os mais pessimistas dir-me-iam agora: “Viu só? Ele não podia sair mesmo, se ele não tivesse saído nada disso teria acontecido.” Verdade, se ele não testasse suas reais aptidões não teria filme, e no filme ele jamais teria chance de se tornar o herói do aquário. O que acontece com uma bexiga sufocada de ar? Ela explode. Marlin, pai de Nemo sufocou tanto com seu amor o pequeno Nemo, que ele explodiu, a ponto de fugir ignorando os perigos do mar aberto. Se bem que como um peixe, os perigos do mar faziam parte da sua vida natural, como o próprio Marlin constatou mais tarde superando todos eles!


A procura de Nemo, Marlin encontra uma figurinha carismática chamada Dóris, aí vem outra familiaridade, ela sofria de perda de memória recente, tinha pequenos lapsos que em nada atrapalhavam sua rotina. No meu caso, não sofro de perda de memória, mas de ausência, ou lapsos de consciência, é bastante parecido e não menos engraçado para os não adeptos de tragédias Shakespearianas.



É curioso ouvir o relato de fora, e baseado nisto recuperar a memória do instante em que minha consciência não estava apta para isso. Eu só perco mesmo a lembrança do momento quando não há ninguém que se indigne a me contar com bom humor o que se passou. Sim, porque dependendo do tom, não é um relato, e sim uma crítica, como se eu fosse culpada de algo – quem mandou querer nadar em mar aberto?


Essa relação com o filme eu recebi recentemente. É estranho como pessoas que caem de paraquedas no assunto, lidam melhor com a situação do que outras versadas no tema há pelo menos uns quatorze anos... Disseram-me que a memória de Dóris era estimulada pela companhia de Marlin, com a fuga de Nemo ele já havia aprendido a lição de que não se deve subestimar a capacidade das pessoa apenas por pequenas deficiências ou dificuldades, então seu carinho por ela foi o grande agente transformador de sua própria vida e da dela, afinal ela até conseguiu decorar o endereço que estava na máscara de nadador no fundo do mar, que indicava o destino do barco que levara Nemo: “P. Sherman, 42, WallabyWay, Sidney”.



É tudo uma questão de bom senso com uma leve pitada de generosidade, sabe o velho ditado que diz que de boas intenções o inferno ta cheio? É por aí. O importante é saber que todo ser humano “dá defeito” uma vez ou outra, enxaqueca crônica, por exemplo, é um defeito, não dá pra avisar assim que amanhecemos: “Hum, hoje vou ter enxaqueca!”, a menos que despertemos com a dor, o que é fato corrente pra quem padece do mal.

Talvez possam me criticar por estar falando de doença, mas ora! Eu não estou falando de doença, estou falando de uma história cômica que guarda íntimas relações com meu Eu, meu superego, talvez o único que realmente saiba com riquezas de detalhes o que ninguém nunca me contou, por maior o esforço, afinal, uma cena vista de fora, não é a mesma cena vista de dentro. Concordam?


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