sábado, 14 de maio de 2011

Norma culta?

Livro didático de língua portuguesa adotado pelo MEC (Ministério da Educação) ensina aluno do ensino fundamental a usar a forma popular da língua portuguesa”.

Tiririca estava enganado. Pior do que “tá” fica! Afinal “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”, ou seria “tá emprestado”, como dizia o slogan de sua excelência o deputado Francisco Everardo Oliveira Silva? O assunto gerou muita discussão, muitas pessoas sequer sabem do que estão falando, ou seja, não temos noção da proporção do estrago que iniciativas “antielitistas” como esta pode provocar, principalmente se virar moda.


Uma das autoras alega que não pretende ensinar o uso incorreto da língua, apenas a proposta da obra é que se aceite dentro da sala de aula todo tipo de linguagem, ao invés de reprimir aqueles que usam a linguagem popular. Segundo ela “para que ensinar o que todo mundo já sabe?”

E para que ensinar o que todo brasileiro não sabe? Se falar de modo incorreto ou inadequado, como lhes aprouver, é o que todo mundo já sabe, qual utilidade de ilustrar isto em livros didáticos, que como sugere a palavra tem por fim instruir? Outro argumento de defesa, diz que se tratava de um capítulo introdutório, explicando que não importa se foi dito certo se o interlocutor entendeu.

Pra bom entendedor meia palavra basta; creio que foi deste ditado que nasceu a linguagem do MSN: “vc”, “msm”, “td”. Quando penso que assisti a uma palestra na semana passada, onde o palestrante falava sobre isso, sobre como estamos falando e escrevendo errado, e como uma coisa é reflexo da outra! Não é decorando normas que aprendemos a escrever, é escrevendo que aprendemos as normas, desde que elas sejam ensinadas corretamente, ou que possamos lê-las descritas corretamente nos livros de qualquer natureza.

Foi dito que o livro em questão vai com um manual ao orientador, para que o mesmo saiba diferenciar a norma popular da culta. Aqui entram duas outras questões: não existe NORMA popular, apenas costumes, hábitos adquiridos pelos iletrados, eu, por exemplo, quando criança não sabia metade das regras que aplico fluentemente hoje, tudo porque era iletrada, ou não-alfabetizada, coisa que naturalmente mudou quando fui matriculada numa escola, e com um pouquinho de vocação para preencher autodidaticamente as lacunas do ensino fundamental e médio.

Normas são regras estabelecidas, que seguem critérios, e costume popular não chega a ser um critério – e por que tudo que é vulgarmente denominado popular é tido como sagrado, adequado, bonito? – homem do povo, língua do povo. Ora! A norma culta também pertence ao povo, aos habitantes da nação seja ele rico ou pobre (nem me aprofundarei nas descrições, pois tudo termina sendo tomado por preconceito). A escola é pública para que os pobres não justifiquem suas deficiências pela ausência dela, logo se esse é o real problema, ao invés de permitir certas coisas, o governo deve (ria) buscar corrigir isto, o nosso Ministro da Educação Fernando Haddad já conseguiu fazer decair a qualidade do ENEM, agora aprova o uso de livros desse tipo, aonde vamos parar?

A outra questão diz respeito ao termo "diferenciar", outro tema polêmico por causa da construção do metrô em Higienópolis. Lá os diferenciados são os de classe baixa, os iletrados, cá os diferenciados são os cultos, os que se esforçam para fazer valer a língua pátria. Vai entender...

“Meu peito parece sabe o quê? Taubua de tiro ao Álvaro, não tem mais onde furar”...E prá esquecê nóis cantemos assim: Saudosa maloca, maloca querida, dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas”.

Postscriptum: No meu tempo as canções Saudosa Maloca e Tiro ao Álvaro, de Adoniram Barbosa usavam de licença poética. Mas agora nóis pode, qual o pobrema? Os livro que ensinava certo tá tudo emprestavel.

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