quarta-feira, 10 de julho de 2013

Malandragem


“Quem sabe eu ainda sou uma garotinha, esperando o ônibus da escola sozinha”.


No início da adolescência, quando fui fazer meu primeiro curso de informática para aprender o b-a-bá  do Office, uma das coisas que me lembro foram as aulas sobre atalhos como o Ctrl T, Ctrl +,  Ctrl H, Ctrl C, Ctrl V. Curiosamente nunca tive o hábito de utilizar esses atalhos pelo teclado, tanto que depois de um tempo eu que estava acostumada a usar o botão direito do mouse, nem associava a função copiar e colar com os atalhos Ctrl C e Ctrl V. Passei todo o meu período escolar fazendo meus trabalhos com o office, mesmo no técnico onde os trabalhos requeriam muito esforço de raciocínio, e o copia e cola exigia a identificação da fonte e uma série de regras da ABNT.
Na universidade, porém, percebi o retrocesso intelectual dos hábitos dos estudantes.  ABNT, o que seria isso? Identificar a fonte? Que fonte, Times ou Arial? Então, mais de 15 anos depois tive meu reencontro com o Ctrl C e Ctrl V, num descontrole obsessivo, naquela mesma ideia de novidade, e sensação de que enfim, podemos copiar algo sem precisar reescrever tudo. O estranho é que esse atalho em vez de “cortar caminho”, está poupando raciocínio, ou preenchendo um vazio profundo.
Podemos aproveitar uma ideia para construir outra? Sim, devemos. Todo novo conhecimento parte de uma ideia pre-existente, mas foi dito: CONSTRUIR outra. Noto atualmente uma preguiça que impede o ser humano até de utilizar sinônimos para disfarçar. Graças ao bom Gates e ao São Jobs, já existem softwares contra plágio. Mas enquanto alguns professores ainda estão desatualizados com a tecnologia, enquanto muitos perdem seu precioso tempo de costas para seus alunos passando numerosos conteúdos a giz na lousa (giz!), e de vez em quando aparece com uma CPU para mostrar slides (na era do notebook!), enquanto as universidades estiverem há anos-luz das escolas técnicas, estes parasitas se criam.
Não adianta argumentar com essas pessoas que é útil usar a cabeça sem ser para colocar o capuz da blusa ou um novo corte de cabelo. É revoltante. O pior é que os discursos dos professores não ornam com a prática dos alunos, como li num material de apoio de uma das professoras atualizadas “a aprendizagem depende da aptidão e das capacidades de cada pessoa”.  Eis a questão. O QI (Quociente Inteligente) das pessoas está em coma profundo. Não duvido de suas competências, o difícil é exercitar suas habilidades, incitar suas atitudes. A única atitude previsível é a malandragem, e mesmo isso não dá para considerar uma atitude, maria-vai-com-as-outras não tem autonomia, age por impulso. E como unir a teoria do espírito de equipe misturando educação e malandragem? É de causar indigestão, ânsia e anemia.


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