sábado, 12 de março de 2011

Game Over

“Meus heróis morreram de
overdose! Meus inimigos estão no poder. Ideologia! Eu quero uma pra viver.”
"Ideologia"- Cazuza e Frejat


Essa é uma teoria que parece bonita, principalmente porque os inimigos que estão no poder genericamente são inimigos de toda a nação e eles são comumente conhecidos como políticos. Virou praxe maldizer políticos, o que acaba criando generalizações errôneas, nem todos eles são desonestos, mas, no entanto, são eles que dão ibope, são suas más ações que aparecem na mídia e não as boas ações do remanescente honesto – sim, eles existem! – com algumas poucas exceções.


Mas o enfoque aqui é outro: os heróis que é uma idéia bem semelhante aos ídolos. São seres dotados de características inacessíveis a pobres mortais... A própria palavra do latim “heros”, no princípio foi usada para designar mortos que eram divinizados e tidos por protetores; a esses hoje chamamos santos, os heróis primeiro mitificaram-se, depois se popularizaram e hoje viraram quadrinhos. Mas ainda consideram todas as espécies de “heróis”, até os que morreram de overdose!





Os heróis ou ídolos adotados são chamados reis, fenômenos, imperadores, qualquer coisa que os coloque acima da grande maioria. Ledo engano, pois eles são homo sapiens iguais qualquer um de nós. Temos o rei do pop: meu amado Michael Jackson, que apesar de me valer às vezes desse título para denominá-lo, de modo algum o elevo acima do que ele é, e sempre será. Temos o rei do rock: Elvis Presley; a rainha do pop: Madonna; temos o rei Pelé; a rainha dos baixinhos (?): Xuxa; o rei Roberto Carlos entre outras categorias menores, ou a baixa-realeza como as rainhas de bateria, que não passam de um acessório dispensável num movimento idem. Dentre todos estes, o único que mantém uma aparente reputação ilibada é Roberto Carlos, mas Deus o sabe.




Os heróis que morreram de overdose dentres os citados, provavelmente são Elvis e Michael (até porque os demais estão vivos!), como é sabido, overdose não necessariamente implica em drogas alucinógenas como as usadas pelo autor da epígrafe Cazuza. E nenhum deles vivos ou mortos são exemplos a ser seguidos com devoção como fazem algumas correntes de pessoas. "But I only human!" Já dizia Michael Jackson em sua famosa canção “Will you be there”. Este eu creio que jamais teve a pretensão de ser coisa alguma além de um excepcional artista, como foi; também não creio em suicídio. Mas o ser humano parece ser idólatra por natureza, precisa ver algo, e sobrepujá-lo a si mesmo, sem questionar os por quês de certas ações.


Citei a mídia, e apesar desta música Ideologia já ter me dado idéias pra escrever, foi justamente por causa da mídia, ou de uma novela que eu acabei buscando inspiração para dissertar sobre o assunto. A novela é Ti-Ti-Ti de Maria Adelaide Amaral, e a cena em questão foi protagonizada por Drica Moraes e Clara Tiezzi, uma atriz mirim de onze anos. Teresa Batalha (Drica) faz apologia aos seus heróis mortos por overdose citando a música e Mabi (Clara) salienta que se seus heróis morreram de overdose, era melhor Teresa rever seus conceitos quanto aos heróis escolhidos.

Mabi é uma garota prodígio com a qual me identifico, não por ser um prodígio, mas por se negar a cair na banalidade, no comum, ela não é uma adolescente igual as outras 'porque tem de ser', ela tem personalidade. Nunca tive heróis, mas passei bem perto de ter ídolos, até manter contato com sua humanidade a ponto de torná-lo um irmão.


Eu posso ser seu herói, baby
Eu posso beijar e afastar a dor
Eu vou te esperar pra sempre
Você pode me deixar sem fôlego”

Música “Hero”de Enrique Iglesias
Deus sabe, é difícil ir atrás dos sonhos
Mas não deixe ninguém destruí-los
Se mantenha firme, haverá um amanhã,
No tempo certo você achará o caminho

Refrão:
E então um herói surgirá, com força para prosseguir
E você deixará seus medos de lado, sabendo que pode sobreviver
E quando sentir que sua esperança se foi
Olhe dentro de si e seja forte
E finalmente verá a verdade que existe um herói em você”

Música “Hero” de Mariah Carey

“Nós éramos os reis e as rainhas da promessa
Nós éramos as vítimas de nós mesmosTalvez os filhos de um deus menorEntre o céu e o inferno
Céu e inferno

Dentro de suas vidas
Sem esperança e capturados
Nós roubamos nossas novas vidas
Através de sangue e dor
Na defesa dos nossos sonhos
Na defesa dos nossos sonhos


Música “Kings and Queens” de 30 Seconds to Mars.
A maior angústia do homem é crer que Deus é um mero espectador de suas batalhas e sofrimentos, e de uma maneira muito suspeita é ingênuo a ponto de achar que pode fazer o que Deus – segundo eles – se nega a fazer. Na primeira canção Enrique Iglesias se faz herói, no clipe da música ele morre cantando a frase “eu posso ser seu herói...” Doce ilusão? Mariah Carey, por sua vez como fiz questão de enfatizar coloca Deus olhando passivo para seus esforços intrapessoais de aquisição da heroicidade. 30 Seconds to Mars, tenta utilizar linguagem bíblica pra assinar sua total confusão a respeito do assunto: Somos herdeiros da promessa? A Bíblia prometeu terra ao povo de Israel, e ao que me consta o compositor Jared Leto é americano. “Filhos do deus menor”: essa expressão foi inventada pra explicar a diferença entre o Deus do Antigo Testamento e o Deus que Jesus pregou no Novo Testamento, também não tem nenhum fundamento, e nem preciso estudar teologia.


A frase mais sensata da canção é “Nós éramos as vítimas de nós mesmos”, e conforme o grifo, “a defesa dos nossos sonhos”, ninguém consegue explicar a natureza humana a partir do próprio homem, e toda idolatria começa nos desejos humanos, e não pode resultar em boa coisa.


Em resumo o egoísmo é o pai desse movimento de súditos e ídolos, e ele está cada vez menos exigente, ao menos num passado contemprâneo, era necessário um talento muito grande pra que um artista, por exemplo, adquirisse súditos, atualmente basta ser bonitinho e imitar o Michael Jackson, como Justin Bieber e Chris Brown, este segundo nem importa se ele dá umas surras na namorada famosa de vez em quando.





No Brasil então, nem beleza é necessário, basta cores, muitas cores, e fazer coraçãozinho com as mãos. Perdoem-me! A maledicência não é uma virtude, e é interessante chegar aqui dessa forma, pois assim volto ao início: a falta de argumento gera a falácia e as personagens do momento acabam sendo o foco, aqui os “emos”, lá no início os políticos, mas nem estes, nem aqueles são o real problema, mas os rumos da evolução humana cada vez mais egoísta e sem propósito, seguindo qualquer herói de origem duvidosa. Eu posso afirmar que não é Deus que não nos vê, nós que não vemos a Deus.




PostScriptum: Nenhum dos nomes citados auto denominaram-se heróis ou reis, mas muitos deles receberam súditos voluntários e carentes. E muitos deles crêem inocentemente em super poderes, quem nunca ouviu que Elvis não morreu? E quem não viu a sombra de Michael Jackson na parede após sua morte?

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