sábado, 23 de abril de 2016

A beleza está nos olhos de quem vê



- Eu te acho linda! – alguém me disse. - Eu também me acho linda!

Foi a resposta mais natural que me ocorreu. De onde surgiu outro comentário: Como você é “modesta”. Ironizou. O termo modéstia significa “moderado, que tem limites, sóbrio”. O que não tem limites parece ser a interpretação do uso adequado desta atitude.

A situação pitoresca acima acontece muitas vezes com várias pessoas, a qualquer sinal de autoestima lá vem o coro criticar a falta de modéstia, ou taxar de convencidos. Recentemente li o livro “A beleza está os olhos de quem vê” da psicóloga Camila Cury, e ao contrário do que sugere o título, ou da forma como essa expressão é atualmente usada, não justifica que quem ama o feio bonito lhe parece.

O texto de Camila Cury aborda exatamente a perspectiva interna, da autoestima que é a única referência que pode nos dar um senso de quem somos, e como estamos. Sem autoestima, os olhos de fora que nos veem jamais poderá nos convencer de quanto somos bonitos, inteligentes, atraentes e saudáveis se nós mesmos não nos vemos assim.

Claro que não estou falando de quem somos do ponto de vista espiritual, embora considerando a questão da autoestima fica até mais fácil de lidar, visto que tira do foco de nossos sentimentos o mundo e suas influências consumistas, profanas e fúteis.

O livro cita vários exemplos de pessoas com problemas de autoestima, ou muito bem resolvidas. Um trecho que me chamou atenção foi de Yoko Ono, que conquistou John Lennon exatamente por não se posicionar como uma poeira cósmica girando na órbita de uma estrela. Na exposição de sua obra, ela era a estrela (segundo relato da autora):

- “Você sabe quem eu sou? – disse [John Lennon], convicto que a jovem artista se derreteria simplesmente pelo fato de ele se dirigir a ela.

A moça olhou-o diretamente nos olhos. Sabia que se tratava de um cantor mundialmente famoso, mas para ela era apenas um artista como tantos, assim como ela era apenas uma mulher que produzia arte. Para surpresa dele, respondeu:

- Sim! E você sabe quem eu sou? – retrucou tranquila”.

Desconhecia esse detalhe singelo da história do casal Yoko e John, mas me recordava da sensação de hostilidade que o nome dela representava por quem quer que se referisse a ela. Consigo entender por que. A autoestima alheia incomoda.

Seguindo o raciocínio do início desse texto, Lennon ou todos em volta podem ter achado Yoko Ono muito convencida, de forma pejorativa. E por que não ele? Nada mais arrogante do que se ter algum tipo de reconhecimento e questionar aos demais “sabe quem eu sou?”.

Outros ícones foram citados no livro, como Susan Boyle e Michael Jackson. Sobre este último, não considerei a abordagem da autora das mais originais, ao contrário. Seguiu a linha do preconceito pela cor da pele, que definitivamente eu não acredito. Mas reconheço que Michael é um grande exemplo de baixa autoestima. 


Eu diria que a beleza está nos olhos de que “se” vê. Em muitas situações desejei emprestar meus olhos para algumas pessoas belas se enxergarem como eu as via. Mas infelizmente, não foi possível. Nesse mundo nebuloso é muito difícil enxergar qualquer beleza.

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