sexta-feira, 17 de julho de 2020

Desistir


“Eu não deixaria você desistir”. Certa vez ouvi isso de alguém quando contava um episódio em que terminei um relacionamento duradouro. Talvez essa pessoa poderia ser de ajuda para remediar e jogar luz em muitas situações turbulentas. Certamente é sempre melhor consertar que descartar, mas também precisamos saber quando desistir de alguém significa não desistir de nós mesmos.

Um relacionamento requer frequentes doações de si próprio, é preciso relevar muitas coisas, balancear comportamentos. E parte disso se sustenta com base nos objetivos em comum do casal, nos planos juntos, ou na ideia que se tem do potencial daquela conjunção entre duas pessoas. Com exceção de um casamento firmado, qualquer outro relacionamento amoroso é passível de desistência, se não for possível olhar muito além na perspectiva do horizonte juntos.

Muitas vezes carregamos relações vazias e sem sentido, só porque estamos acostumados com aquela pessoa ao nosso lado, temos carinho, amizade, e atração física por ela. As carícias são familiares e ele – ou ela, já conhece seus piores defeitos, poupa tempo e energia de construir uma nova história do zero.

O tempo passa, e percebe-se que não se trata mais de amor, se é que um dia foi. Os planos de futuro de cada um vai para um lado, as conquistas da pessoa não te faz feliz também, é indiferente. Um está confortável num encontro uma ou duas vezes por semana, o outro quer a semana toda juntos. Um queima em brasas silenciosas, o outro é frio feito uma pedra de gelo. É mais que ser opostos, os opostos até se atraem. Os indispostos repelem.

Não basta um dos dois buscar ajuda e compreender o que acontece. Não adianta alguém de um lado só ajudar a não desistir. Não desistir do que? De quem? De alguém por quem o sentimento morreu à mingua em meio a tantos desencontros, perdidos na babel da linguagem do amor? De alguém que faz uma cena a cada tentativa de libertação e que nos faz sentir culpados por não ser tão controlados e compassivos ao ponto de entender a fragilidade daquela pessoa que amamos tanto, mas não tanto quanto a nós mesmos?

Eu sou adepta da luta. Buscar sempre todos os meios de contornar, reparar, corrigir. A culpa de uma relação arruinada nunca é de uma pessoa só. Mas o desejo pela solução precisa ser comum. Depois de muitas tentativas de nada adianta se sacrificar por uma relação, e deixar os olhos se distrair ao redor pelo que não tem. Até onde vale a pena ir e voltar, ou persistir numa história? Por que persistir ao lado de quem não consegue enxergar seu próprio caminho, e cujas pegadas nos levariam para longe de onde gostaríamos de estar? Que comunhão tem a luz com as sombras?


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