quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Resenha do Livro Gota D'Água - Cézar Vaz


“Haverá sempre pessoas pretendendo decidir a vida dos outros, aceitar é uma opção nossa”.

Gota D’Água é um romance de “arrepiar os cabelos do fiofó”, como bem avisa o autor Cézar Vaz no início da obra! Com estilo que não deixa nada a dever para os clássicos de novelas das 18 horas da TV, o enredo passado no interior de Pernambuco narra uma história de lendas e misticismos envolvendo a família Pessoa e suas terras num lugarejo chamado Gota D’Água.


Toda a trama gira em torno do nascimento de um bebê horripilante, rejeitado no parto pela mãe e salvo por Maria de virar comida de bichos selvagens numa encruzilhada. Maria, mãe de muitos filhos, adota o menino apesar de sua aparência peculiar que assusta a todos em sua casa. O pobre do menino parecia filho do tinhoso! No entanto, aquele seu semblante guardava mistérios e uma missão digna de uma boa novela, que nos prende até o último capítulo para ver qual será o desfecho.


Críticas Sociais


Por trás da história, o autor aborda várias críticas às pessoas que julgam pela aparênciaaos religiosos só de boca e não de coração, à figura austera de alguns pais dominadores e violentos, que vulgarmente hoje é generalizado como “patriarcado”, mas que assim como qualquer desvio de caráter, depende mais do indivíduo que das tradições de família, no próprio livro, Salomão Pessoa é uma exceção à regra dentre os “machos opressores” do clã dos Pessoa.


A trama também mostra a frágil personalidade de jovens que foram mimados, que tiveram tudo nas mãos e não aprenderam a dar valor para o pão nosso de cada dia. Também mostra que caráter não depende do amor com que se cria um filho, e o sangue não torna ninguém mais filho que um adotivo no coração de uma mãe, que é sempre “a âncora, o porto seguro, o início do parágrafo e o ponto final”.

Citações

Com um texto singular, a história é repleta de citações com as quais podemos nos identificar e até refletir. Como por exemplo, Maria “sempre deixava tudo organizado para o dia seguinte, um hábito de gente ansiosa”... Como ansiosa que sou, não poderia deixar passar essa graciosa nota no meio da narrativa! Ou ainda: “Joana acreditava em príncipe encantado daquelas histórias para enganar as mulheres”, controvérsias a parte, me identifico com Joana. O problema não está em acreditar em príncipes encantados, são personagens valorosos e dignos de apreciação. O problema é que seus valores não são mais admirados pela maioria dos homens. Mas assim como os pais torrões e violentos, há exceções.


Tem também a citação da epígrafe deste post: “As pessoas sempre irão afastar-se daquilo que é diferente, tratar mal, diminuí-las, desprezá-las, mesmo assim, não podemos deixá-las decidir os caminhos que trilhamos. Haverá sempre pessoas pretendendo decidir a vida dos outros, aceitar é uma opção nossa”. Não podemos deixar a falatório alheio decidir o caminho que seguiremos. Opinião todo mundo tem. Só que cada um tem seus princípios e valores e não dá para adotar uma regra geral, como se o ser humano fosse um objeto de produção em massa. Crer na própria opinião não a força a ser verdadeira só por causa da sua boa fé. Aceitar os rumos que as pessoas pretendem dar às nossas vidas, como diz o autor, é opcional.

Percebi também em certo capítulo a referência ao grande poeta Fernando Pessoa, que tinha mais nomes que existia de almas na família Pessoa! Escritor português sem igual, de muitas faces e talento único. Para quem como eu é apaixonada por poesia, não poderia deixar passar, ainda que o nome não tenha sido citado explicitamente.


O Autor

Precisava dessa pausa, para fazer uma breve resenha sobre o livro do Cézar Vaz, meu professor da disciplina de História da adolescência! Sempre uma figura forte, determinada, ainda não tinha dedicado meu tempo para conhecer sua profundidade com a literatura, apesar de não ser seu primeiro livro publicado. Grata surpresa!


Sempre espirituoso e divertido, Cézar era um dos professores mais queridos por todos na minha época de aluna, desde os pais, os alunos e as turmas das séries menores que a minha. Era uma unanimidade. Cheios de conflitos e histórias pessoais, porém, certamente com uma pitadinha de pimenta, foi isso que construiu sua habilidade de escritor. Para quem gosta de uma boa ficção com um gostinho de suspense, e cheia de referências simbólicas das tradições das gentes do campo, recomendo a leitura.

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E já fico no aguardo da próxima obra que ficou prometida ao final: Gota D’Água: A Mulher de Vermelho.

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