terça-feira, 15 de setembro de 2020

Reprovação de Ano Letivo em Tempos de Pandemia: Vale a Pena?


Depois de escrever o último artigo Introdução ao Pensamento Crítico Nas Escolas, e acompanhando o desenrolar dos debates sobre reprovação do ano letivo nas escolas públicas, e sabendo da dificuldade de tantos pais e mães quanto a essa decisão, levantei alguns pontos importantes sobre o tema, para entender se vale ou não a pena reprovar uma criança de ano pela falta de instrução durante esse período do Covid-19. Separei 3 motivos e algumas possíveis soluções:

1 - A sensação de passar de ano sem aprender nada não é novidade desse período da pandemia


Conheço várias famílias que possuem a mesma crítica sobre escolas públicas, citei no post anterior inclusive. Não é de hoje que a escola pública não está sendo satisfatória para o ensino básico. Será que submeter a criança há um ano a mais nesse modelo que já está prejudicado vai ajudá-la?

2 - No Ensino Público desde 1996 já existe a Progressão Continuada, que em tese impede que o aluno reprove de ano, e compense seu  baixo desempenho escolar com recuperação.


Há muitas críticas prós e contras o método, mas uma coisa é certa, não é de hoje que o aluno passa de ano letivo sem saber alguma disciplina importante para seu desenvolvimento cognitivo e intelectual. Que diferença faz não reprová-lo devido à pandemia?

3 - A reprovação opcional de alguns pais ou mesmo alunos, vai causar mais um problema além da falta de conhecimento que não será sanado com a extensão do mesmo ano: o atraso escolar


Reprovar o aluno por não ter estudado devido a pandemia, na expectativa de compensar no próximo ano, pode ser um tiro na culatra tendo em vista o atual estado das coisas no ensino público.

E Agora, José?


Se existem crianças que foram religiosamente para escola por longos 3 anos e ainda não sabem escrever ou ler, que diferença faz mais um ano? Diante desse cenário o foco não deveria ser a reprovação opcional, como a opção de 15 alunos entrevistados pela BBC News Brasil, que alegam não ter aprendido nada no formato EAD. O cerne da questão é quais as formas eficazes de compensar o conhecimento perdido em qualquer período da vida da criança e não necessariamente nessa pandemia?


Adolescentes que já nascem com Smartphones nas mãos com dificuldade de aprendizado EAD talvez seja outro ponto de discussão. E o formato à distância é uma opção, mas “não é a disponibilidade de equipamentos e o acesso à internet que fariam diferença, mas sim, como a tecnologia é inserida no contexto escolar” (A Covid-19 e a volta às aulas: ouvindo as evidências; Scielo, 2020). Além dessa óbvia solução, que exigiria mais preparo dos professores para lidar com a tecnologia além do Tik-Tok e Instagram, o estudo citado também aponta outras soluções para pais, alunos e escolas com livre acesso para qualquer um:

Métodos fônicos

Os estudos sobre o método são bem positivos. Inclusive conheço um exemplo de um tio que alfabetizou o sobrinho por esse método durante esse período de pandemia. Aluno esse, o sobrinho, que já vinha com deficiência de aprendizado muito antes da incidência do Covid-19.

Leitura

Sem querer puxar sardinha para minha área, mas a leitura sempre será uma das melhores formas de estimular mais ainda a leitura e o enriquecimento do vocabulário. Sua criança (filho, sobrinho, vizinho, enteado, primo…) não sabe ler ainda? Leia para ele! Sabe ler um pouco, estimule-o a ler mais leituras específicas para essa frase de aprendizagem.

Avaliação diagnóstica

Avaliação com intuito de descobrir as dificuldades dos alunos e trabalhar nelas. Requer mais esforço de professores e escolas, mas é uma excelente saída para compensar o dano causado pela paralisação.

Ensino Estruturado

Tipo de ensino muito usado para compensar as dificuldades naturais do aluno autista, mas útil para dificuldade forçadas pela baixa qualidade do ensino ou suspensão compulsiva das aulas. É também chamado de ensino explícito e apoia-se na psicologia cognitiva, que diz que as competências cerebrais da criança que permite que ela faça cálculos, leia e escreve se dá em etapas: 1) Cognitiva, 2) Associativa e 3) Autônoma, e o ensino estruturado acompanha essas três fases.

Tutorias 

Tutorias realizadas fora de turno para alunos com mais dificuldades, uma espécie de recuperação, ou aulas extras. Também exigiria disposição dos professores para essa função. Ou quem sabe, voluntários dos cursos de pedagogia bolsistas do governo?

Dever de casa

O dever de casa é um certo tipo de tutoria dado pelos pais ou responsáveis pela criança. Se você foi um aluno cdf na escola, é sua hora de brilhar! Se não foi, vale a pena o esforço pela formação daquele ser humaninho sob seus cuidados!

Garantia da frequência escolar

E claro, tendo voltado à rotina normal vale um esforço por evitar que a criança falte às aulas por qualquer motivo não justificado. O que já deveria ser obrigação antes, mais ainda em tempos onde é necessário correr atrás do prejuízo.


E sobre o retorno às aulas, muito se diz que as crianças embora mais resistentes ao vírus podem levá-lo para casa e contaminar pessoas do grupo de risco. É verdade. Assim como qualquer outro profissional dos trabalhos essenciais que continuam indo e vindo, pegando transporte público lotado, e lidando com milhares de outras pessoas em suas funções. Talvez uma pessoa dessas lide com mais pessoas diferentes, que uma criança em sala, com 40 outras crianças. A questão é: fazer com que seu filho desenvolva capacidades básicas de aprendizado não é essencial? 



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