O primeiro livro que li na vida foi um romance de Érico
Veríssimo chamado Música ao Longe e a
história era narrada por Clarissa, uma professora do curso
elementar, ou pré-primário; foi meu primeiro referencial de professora. Logo o
conceito saiu dos livros para a vida real, e embora parte do romantismo tenha permanecido
neles, outros professores e professoras surgiram.
Cursei o fundamental e o médio em contato com personas
especiais, alguns fascinantes! Tive ainda a sorte de cursar um técnico com o melhor
time de mestres possível e imaginável. De onde prematuramente deduzi que era
daí para melhor, que quanto maior o grau de ensino, melhor a qualidade dos
queridos professores. Será?
Aprendi que a interpretação dos fatos por um único ponto de
vista gera falácia ou injustiça. A soma das partes não corresponde ao efeito do
todo em conjunto, já diria o conceito de sinergia. Mesmo assim, pelo que vejo e
ouço, não dá para permanecer totalmente indiferente.
O grau aumenta, mas as circunstâncias embotam-se, tanto faz
o local onde atuam os professores do topo da hierarquia, tanto eles próprios
estão meio mumificados em suas consciências, quanto a paisagem tornou-se
concreta. No ano de 1977, Mario Quintana, poeta apresentado a mim por uma
dessas professoras fascinantes que ainda existiam até aqui, escreveu em seu
livro A Vaca e o Hipogrifo, o seguinte Poema:
Oh! Aquele menininho que dizia
“Fessora, eu posso ir lá fora?”Mas apenas ficava um momentoBebendo o vento azul...Agora não preciso pedir licença a ninguém.Mesmo porque não existe paisagem lá fora:Somente cimento.O vento não mais me fareja a face como um cão amigo...Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.
Tudo cimento. Prédios monstruosos arranha-céus, bem
diferente do monstro com vinte janelas e uma boca que cuspia crianças na hora
da saída, descritos pela professora Clarissa no romance. E não porque apenas
não sou mais criança, nem os universitários o podem ser, mas a arquitetura mudou.
Tudo mudou, e se fosse só essa a mudança tanto fazia...
As relações são mais frias. Como no poema de Quintana não é
necessário pedir licença – um sinal notório de educação – para sair da sala,
posso inclusive não só beber o ar lá fora, como ir embora e deixar o professor
a ver navios como se ele fosse uma coisa qualquer. Muitos dizem: o importante é
pagar a mensalidade. Os bolsistas dizem: Pago os impostos! O mesmo é dito por universitários
de instituições federais.
Gabriel Chalita, renomado educador, descreve três características
fundamentais aos professores: competência, coragem e amor. Mas aqui me
interessa sua definição de competência, presente no livro Pedagogia da Amizade:
“Não é possível ensinar sem aprender. O mestre é aquele que aprende o tempo todo, que estuda, que busca ampliar o repertório em respeito à confiança que o aluno deposita nele. A competência deve levar em consideração o conteúdo e a forma. Há que se perguntar àquele que se propões a ensinar o que é de fato essencial para que o aluno siga a sua jornada. (...) Competência não deve ser sinônimo de prepotência e arrogância. Ao contrário. O professor competente tem a simplicidade de buscar o que há de melhor para partilhar com os alunos. Sabe que não basta ensinar somente o conteúdo da disciplina. Sabe que é preciso ter um olhar ampliado. Dialogal. (...) A interdisciplinaridade ou transdisciplinaridade precisa sair do gabinete de teóricos e chegar à sala de aula. (...)”
Aprender o tempo todo, não ser prepotente ou arrogante e
dialogar. Eis o mistério, o segredo que tão poucos apreendem; uma porção reduzida
a têm por completo, outros têm em parte, outros sequer sabem do que se trata,
contando que recebam o salário percentual das mensalidades ao final do mês!
Claro que nos lugares mais inóspitos sempre é possível
encontrar uma fonte, um manancial... Algo que represente de longe um conforto.
A estes os acomodados estranham e dão apelidos, por que fogem do comum, são
encantadores num ambiente onde o encanto é a extrema exceção e não a regra
geral. Tão bom quando em meio ao concreto aparece alguém e diz: “suave?”
Não, suavidade é o que não há. Por quê? Eis a questão! Acaso
esses mestres não foram crianças, e não tiveram professores? Acaso estes
significaram tão pouco assim? Não na geração em que foram formados. Atualmente
é escandalosamente natural ver alunos revoltosos contra professores, se sentindo
cheios de razão. Não na época em que meus professores de todos os tempos se
formaram.
Ser professor é uma benção, seja de crianças, adolescentes,
jovens ou adultos. Ser professor não é só repetir teorias, forçar alunos a decorá-las,
dar uma nota e pronto! Está acabado. Não! Se os alunos são crianças o preparo é
um, adolescentes outro, jovens idem, adultos também.
Certa vez ouvi dizer que as escolas a distância são o
futuro. Talvez sim. Lamentavelmente o ser humano cria as coisas para sua
própria danação! Pela completa incapacidade de manter firmes e saudáveis os
contatos sociais, o destino das escolas será um simples computador... Se
pessoalmente não podemos tirar dúvidas de uma forma completa como com o Google,
danem-se os professores! Que eles sirvam apenas para aplicar minha avaliação e
nada mais, até que inventem um robô que o faça. (Continua)
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