CANÇÃO
DO FUNDO DO POÇO
Não o tinha visto
tão de perto
Quanto naquela
manhã triste
Com coração aflito
me viste
Como eu fosse água
no deserto!
E se achegou a mim
devagar
E desfrutou do meu
remanso
Calou-se e pôs-se a
divagar,
Tão perto e longe
do meu alcance;
E eu te contava
meus rumores,
E teu olhar
confessava junto;
Mas vez em quando
tu fugias,
Olhava firme em teu
reflexo,
Pagava pedra e se
feria
Retirando-as do teu
regaço!
Mas num esforço vão
e estranho
Somente a mim que
tu atingias!
Minhas lágrimas
revolviam-se
Num gesto amargo,
por teu espanto;
No entanto tu
voltavas rindo,
E se assentava
sobre o muro,
E dizia coisas sem
ouvir
O meu chamado lá do
fundo...
Do poço d'onde eu te gritava
E me lançava nas paredes
Eu via um sinal que me animava:
Ao meu redor o musgo verde!
Tu me vias lá
embaixo e calava,
Não dizia mais do
que um olhar,
No entanto tu me
visitavas,
Não se permitindo
escapar;
Mas meu sorriso
esvaiu-se,
Assim que
abandonaste o muro,
E para bem longe
partiste,
Sem nunca beber do
meu poço!
E nem disseste:
“Adeus, querida!”
Como se eu fosse
uma cisterna
Impura!E Foi matar
a sede
Numa outra fonte
mais segura...
No entanto tu
sempre retornas
Fugaz, a me acalmar
as mágoas
E desfaz com tua
graça eterna
Dores que do poço
deságuam
Minh’água
refrescante e límpida
Reflete agora
outros olhares
Mas mantêm em sua
forma vívida
Lembranças ternas
de tua imagem
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