quarta-feira, 27 de junho de 2012

Poesia






CANÇÃO DO FUNDO DO POÇO



Não o tinha visto tão de perto
Quanto naquela manhã triste
Com coração aflito me viste
Como eu fosse água no deserto!

E se achegou a mim devagar
E desfrutou do meu remanso
Calou-se e pôs-se a divagar,
Tão perto e longe do meu alcance;



E eu te contava meus rumores,
Ao mirar teus olhos no fundo,
Eu confessava meus amores
E teu olhar confessava junto;

Mas vez em quando tu fugias,
Olhava firme em teu reflexo,
Pagava pedra e se feria
Retirando-as do teu regaço!




Mas num esforço vão e estranho
Somente a mim que tu atingias!
Minhas lágrimas revolviam-se
Num gesto amargo, por teu espanto;

No entanto tu voltavas rindo,
E se assentava sobre o muro,
E dizia coisas sem ouvir
O meu chamado lá do fundo...




Do poço d'onde eu te gritava
E me lançava nas paredes
Eu via um sinal que me animava:
Ao meu redor o musgo verde!


Tu me vias lá embaixo e calava,
Não dizia mais do que um olhar,
No entanto tu me visitavas,
Não se permitindo escapar;




Mas meu sorriso esvaiu-se,
Assim que abandonaste o muro,
E para bem longe partiste,
Sem nunca beber do meu poço!

E nem disseste: “Adeus, querida!”
Como se eu fosse uma cisterna
Impura!E Foi matar a sede
Numa outra fonte mais segura...

No entanto tu sempre retornas
Fugaz, a me acalmar as mágoas
E desfaz com tua graça eterna
Dores que do poço deságuam

Minh’água refrescante e límpida
Reflete agora outros olhares
Mas mantêm em sua forma vívida
Lembranças ternas de tua imagem


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