A vida de David Gale é um filme brilhante. Muito bem construído, o enredo tende a levar os espectadores ao objetivo principal: crer que se trata de uma reflexão sobre a pena de morte. No entanto, após um longo estudo sobre o filme, debates, análises, apresentações e feedbacks, a conclusão é que se trata apenas da história da vida de David Gale mesmo.
Como
assim? O filme não fala da luta de David Gale contra a pena de morte? Na minha
mais singela opinião, não. Veremos.
O filme começa mostrando o perfil do professor de Filosofia, daqueles que se destacam dos demais professores, e por isso mesmo polêmico. A princípio, este destaque parecia algo positivo, tirando o personagem da mediocridade, do faça o que tem que ser feito e nada mais. Na verdade, esta característica foi o viés que permitiu o desenrolar de toda a trama.
Realmente, Gale (Kevin Spacey) pertencia a um grupo de ativistas que se colocavam contra a pena de morte, afirmando com veemência que inocentes eram condenados à morte. O que não fala no filme e em nenhum lugar é onde estão as provas que fundamentam este argumento? Acaso estes ativistas fizeram parte das investigações? O que o comportamento de Gale dá a entender é que prisioneiros eram condenados sem um maior cuidado quanto à investigação dos fatos.
Isso é irônico, pois Gale, sob a sua perspectiva, não precisava de provas, para mostrar que inocentes eram condenados sem provas. Vemos aqui a distorção dos fatos, em função da personalidade (ou ego) de um sujeito. Por ser um professor renomado, o mesmo exercia influencia sobre uma gama de Maria-vai-com-as-outras, que proclamavam a mesma opinião, sem conhecer os fundamentos. Incluo aqui sua amiga e professora Constance (Laura Linney).
Constance e David Gale |
Após ser expulsa da universidade, Berlin vai até uma festa onde o professor alcoólatra estava, e sensualmente o seduz no banheiro, conduzindo o sexo de forma violenta de modo a caracterizar um estupro, conforme o planejado. Assim o ego ferido da aluna vai ferir cruelmente o ego exaltado do professor. Berlim o acusa de estupro, e tal crime era passível de pena de morte no Texas. Enfim Gale era realmente uma vítima inocente do sistema.
Em seguida, o filme mostra o personagem há 4 dias de sua execução, no entanto, o crime era outro. A aluna havia retirado a queixa, e o caso foi arquivado. O prato cheio do professor para comprovar seus argumentos fora retirado, ali ele poderia ser desmentido, ou seja, as investigações poderiam comprovar que ele era inocente, ou ele seria morto como um herói, (ao menos em sua consciência), pois seria uma vítima da tese que defendia.
A simples acusação destruiu a reputação de Gale. Estupro ou não, um professor transou com uma aluna, se universitária, portanto, maior de idade. Logo, um homem e uma mulher. Sem entrar no mérito da questão, Gale, com sua moral manchada, viu sua vida social e sua liberdade e influência prejudicada, suas opiniões não estavam sendo consideradas. Seu ego estava em colapso. Após perder a família, o emprego de professor, o respeito dos colegas ativistas, a admiração de seus alunos, e se entregar ao alcoolismo, seu egocentrismo tem enfim um insight.
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