segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Poesia - Manoel Bandeira

                                                    (Louvre)
Adeus, amor







O amor disse-me adeus, e eu disse: “Adeus,
Amor! Tu fazes bem: a mocidade
Quer a mocidade.” Os meus amigos
Me felicitam: “Como estás bem conservado!”
Mas eu sei que no Louvre e outros museus, e até no nosso
Há múmias do velho Egito que estão como eu bem conservadas.
Sei mais que posso ainda receber e dar carinhos e ternura.
Mas acho isso pouco, e exijo a iluminância, o inesperado,
O trauma, o magma... Adeus, amor!
Todavia não estou sozinho. Nunca estive. A vida inteira
Vivi em tête-à-tête com uma senhora magra, séria,
Da maior distinção.
E agora até sou seu vizinho
Tu que me lês adivinhaste ela quem é.
Pois é. Portanto digo: “Adeus, amor!”
E à venerável minha vizinha:
“Ao teu dispor! Mas olha, vem
Para a nossa entrevista última,
Pela mão da tua divina Senhora
- Nossa Senhora da Boa Morte”.




Manoel bandeira






















Post Scriptum: Guardo o poema pela beleza dos versos, não prezo a referência a nenhuma "nossa senhora". 


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