segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tempo Presente

"Timeo Et dona ferentes"
"Temo os que trazem presentes... " Eneida, de Virgílio


A única vez que revelei esta minha crença à alguém, resultou que este alguém nunca me deu uma bala de presente. Entretanto, este mesmo alguém não deixou de ser especial para mim, posso inclusive dizer ao contrário, pois por nada dever à ele, nem favores, nem retorno de presentes, o afeto que sinto tornou-se muito mais genuíno, mais sincero. É tão bom amar a troco de nada!

Presentear tornou-se uma ato mecânico e não mais uma demonstração de carinho. é um ato globalizado, basta observar os feriados pascais, Natal, Dias dos pais, das Mães, dia disso, daquilo...Virou um pretexto para o consumo, pouco importa a intenção de quem vai presentear, este muitas vezes também já está condicionado ao que eu chamo de "datas específicas".

Presentear virou obrigação, e qual de nós já não se sentiu desvalorizado por não  ter ganho um presente material? Por mais que o valor do presente não represente nada mais do que a disponibilidade de gastar de quem presenteou, muitas vezes associamos nosso valor ao presente. 

Pensando assim, quão baratos somos! Valemos algo quantitativo, temos um valor monetário no mercado? Não, eu não sou assim, não estou em liquidação, também não estou inflacionada. Muito mais valor deu a mim, aquela pessoa que não me deu nada material, mas muitos anos de amizade, companhia, atenção e amor... de um jeito muito peculiar (à distância), mas amor! Sua atitude não significa egoísmo, mas o quanto dera valor ao que eu pensava e sentia.

Mas as pessoas não sabem mais pensar assim. Felizes ainda são as crianças que não trabalham, logo não se sentem culpadas por não poderem presentear ninguém. Quantos de nós já não recebemos presentes de pessoas que mal falavam conosco, e "lembraram de você no dia do seu aniversário"; no ambiente de trabalho isso acontece muito, fica bonito mostrar que podemos gastar até com quem não admiramos tanto assim.

A verdade é que eu gostaria de presentear todas as pessoas que eu amo. Mas o valor do meu presente jamais vai corresponder ao tamanho do meu afeto - por mais caro, é muito pouco! - Se eu pudesse me valer das palavras para presentear a todos... palavras são gratuitas, ninguém cobra para dizê-las (os psicólogos cobram para ouvi-las), eu diria a todos que me leem neste exato momento, que eu escrevo porque necessito dizer que os amo, se for seu aniversário: parabéns, se não, parabéns também! Pra quê esperar o tempo para desejar que sejas feliz? 


Quanto a mim, também, todo o meu amor. E se aprendi alguma coisa nessa vida foi que nem sempre quem mais gasta por você é quem mais te gosta. E nem sempre quem não tem a mesma facilidade de expressar sentimentos que eu tenho, não sabe amar, ao contrário. 

Deem afeto, o resto é vanitas, vanitatum, et omnia vanitas! 
("Vaidade, vaidade, é tudo vaidade!" - Eclesiastes 1:2)  
  

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