domingo, 17 de maio de 2020

Geração Ching Ling


Nesse tempo de pandemia da Covid-19 fui forçada a refletir sobre muitas coisas, entre elas o fato óbvio que preço baixo não é sinônimo de melhor valor. E preço alto também não equivale a qualidade. Como profissional de processos, com foco cada vez maior na experiência do cliente, é inevitável concluir que coisas boas possuem custo, coisas muito baratas são paliativas ou não duráveis. Mas o preço tem mais a ver com a oferta e procura – comportamento do cliente – que com o custo ou qualidade.

Sou de uma geração classe média que sei lá por que, foi acostumada a utilizar produtos baratos, em grande quantidade e muitas vezes sem utilidade nenhuma. Embora, pessoalmente eu nunca fui consumista por diversas razões, passei a adolescência ouvindo falar das famosas lojas de 1 real, que eram a sensação do momento! Vários produtos pela bagatela de 1 real a unidade!

Também vi nascer outra geração que curte uma obsolescência, mas com um preço um pouco maior. O pessoal do Smartphone. Troca de smartphone como quem troca de roupa ou sapatos. E a necessidade é exatamente trocar o produto por uma versão mais moderna com as exatas mesmas funcionalidades práticas e uma corzinha diferente, ou nem isso.

Somos a geração Ching Ling. O mercado de produtos obsoletos captou o princípio inerente da geração: não importa o preço, mas o significado emocional. O mesmo fator que leva um cliente a se esbaldar numa loja de 1 real e sair com sacolas cheias de quinquilharias, é o mesmo que leva outro cliente a parcelar a perder de vista um smartphone novo e encostar outro em condições de funcionamento, só porque não é a versão mais moderna.

Se dar ao luxo de comprar umas inutilidades de vez em quando não é o problema. O problema é quando vira um hábito de consumo. Quando não se tem consciência no longo prazo do prejuízo econômico de consumir produtos com durabilidade programada ou inexistente. O tal do isolamento social colocou em xeque a “necessidade” de tais objetos. Tanto por um dos principais países produtores, a China, que está com o status comprometido para alguns grupos de analistas, quanto pela crise econômica que está trazendo a tona o real valor de 1 real multiplicado por vários outros reais que se gastado em vão pode deixar alguém com fome no dia seguinte.

Não ter a lojinha do China aberta para ao passar por ela, entrar e comprar algo só porque é legal e não porque precisa, está fazendo a população poupar como nunca. O ruim é que em contrapartida, os preços no estabelecimentos ditos essenciais, devido a alta demanda de alguns produtos, estão maiores, ou seja, em grande parte fica elas por elas. Mas, espero que esse cenário, salvo o espectro apocalíptico que muitos querem aplicar, traga um pouco mais de sabedoria a todos. Que nossas necessidades de consumo passem a ter correlação com nossos valores e não com nossas emoções pura e simplesmente. Nossas emoções são vulneráveis a falsos estímulos, nossos valores são ancorados em nossos princípios e crenças.


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