terça-feira, 26 de maio de 2020

Uma Palavra



Numa conversa totalmente inusitada, embora esperada, alguém me fez uma provocação: “defina-se em uma palavra”, disse. Ah, essa é fácil, pensei. Pergunta clichê! Para meu espanto fui tomada por um terrível branco, um vácuo existencial, e não encontrei nenhuma resposta! Como assim? Logo eu, consumidora voraz no passado de livros de Auto Ajuda (mentira, eu só lia o que chegava em minhas mãos, é que chegavam muitos!)? Logo eu que já tive três psicoterapeutas – que pelo que me lembre nunca me fizeram essa pergunta? Logo eu que ensaiei tantas vezes respostas para perguntas tipo “cite uma qualidade ou pontos a melhorar” para processos seletivos internos? Logo eu?

Horas depois da conversa terminada, o vácuo continuava. Nem uma mísera palavra para definir a mim que brincava com as palavras desde muito jovem. Ora, ora palavras vocês não foram legais comigo! Muito depois surgiram várias possibilidades: criativa, teimosa, chata..., mas elas não me pareceram a definição, eram apenas características acessórias. Qual seria então a palavra?

Resolvi ir à fonte, lá nas minhas poesias, que comecei a escrever aos 13 anos, e vim lapidando até por volta dos vinte e poucos anos, até nascer este blog, e poesia virar artigo démodé. Virei bloguerinha e abandonei minhas poesias... não foi uma boa ideia, mas tinha perdido minha inspiração. Procurei pela palavra mais repetida, e achei sonho:



Todos os sonhos que sonhei,

No louco abrigo do meu mundo,

Tantos amores que criei,

Imagens sem plano de fundo,



Nada mais vale ante o real,

Sonho mais belo ao horizonte...

Que nada traz do vão ideal,

Porém carrega luz de instantes,



Iluminando-me à sacada,

Como um sorriso que me acolhe,

Onde eu sonhava só e acordada;



Temo, e outra vez mais sempre vale,

Renunciar a era sonhada

Pelo momento que se escolhe.



Sonhadora. É a palavra perfeita! Ela serve para definir quem eu fui lá atrás quando escrevi essa poesia, serve para hoje, e certamente servirá para amanhã, a menos que algo muito inesperado me roube os sonhos! Sonho acordada (muito), dormindo, e tenho aqueles sonhos que nessa conversa revelei pelo menos um deles, que na verdade é um combo, um leva ao outro. Confesso que tenho medo de que esse sonho esteja prestes a ser roubado pelo tempo e pela biologia. 

Foi uma conversa curiosa e deliciosa, onde o resultado saiu fora de qualquer plano, ou expectativa. E a intenção estava mais fora do contexto ainda! Pelo menos eu acho. Desse dia, fica a lição: cuidado para quem você pede ajuda. Você pode conseguir, até mais do que você pediu, e aí não vai ter mais desculpa para continuar carregando velhos problemas!

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