sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

"Baseado" em fatos reais

Um americano de 21 anos ligou para a polícia para reclamar sobre a péssima qualidade da maconha que tinha acabado de comprar. A polícia disse que o jovem declarou ter comprado a substância naquele mesmo dia, e que “foi horrível” quando fumou. FOLHA.COM


“Senhores defensores da lei, melhor dizendo, supostos defensores da lei: dirijo-me a Vs. Ss. Para denunciar um fato que reputo da maior gravidade.

Como muitos outros, sou um regular consumidor de maconha. Caso Vs. Ss. Não saibam do que estou falando, e suspeito que não saiba mesmo, porque não se pode confiar no conhecimento das chamadas autoridades, explico-me: estou falando da Cannabis sativa, planta herbácea da família das Canabiáceas.

Ela é muito cultivada em várias regiões do mundo e caracteriza-se pelas folhas finamente recortadas em segmentos lineares, pelas flores unissexuais e, sobretudo, pelo fato de fornecer esta substância que tão grande papel tem em nosso mundo, a maconha, capaz de proporcionar um barato que, ao menos no meu caso, constitui-se experiência insubstituível.

Isso, bem entendido, quando a maconha é de qualidade pelo menos razoável. Não foi o caso do produto que adquiri. Fumei o primeiro baseado, fumei o segundo e nada, senhores policiais, nada, absolutamente nada, nada de nada! Normalmente, sob a ação da maconha, eu vejo o mundo diferente e muito melhor, um lugar de paisagens deslumbrantes, de pessoas agradáveis e simpáticas. Mas, com aquela maconha, nada disso acontecia. O mundo continuava sendo exatamente o mesmo, feio, triste, asqueroso.”


Estive estudando o Código de Defesa do Consumidor, e após ler esta coluna do Moacyr Scliar no Jornal Folha de S. Paulo, passei a imaginar como seria se houvesse a legalização da maconha. Certamente, seus consumidores estariam protegidos pela lei. Mas, que espécie de regulamento haveria de ser criado para garantir o “barato” deles, e quem seriam os fornecedores se não os traficantes?

Existe um jogo de interesses que manipulam a situação de modo que o comércio da maconha permanece na ilegalidade, o que deve gerar mais lucro do que o comércio de cigarros a base de tabaco, por exemplo. É fato que o “charme” das drogas está justamente na sua ilegalidade – a curiosidade não mata apenas o gato, como diz o ditado.

Por outro lado, será que a sociedade está preparada para lidar com as conseqüências de ter drogas nocivas tão acessíveis a partir de um decreto ou, que seja de um plebiscito? Plebiscito lembra o desarmamento. O cidadão comum foi proibido de portar arma de fogo, e realmente este não saberia usá-la, mas continuamos a mercê dos criminosos que não obedecem a plebiscitos: eles sim sabem utilizar armas.


Os mesmos traficantes de drogas são os cidadãos que portam armas ilegalmente. Sem o seu ganha-pão o que será da sociedade sujeita a eles? O real problema da legalização da maconha não são os usuários que não passam de doentes, vítimas do vício, mas o comércio próspero que sobrevive destes viciados, que permite que criminosos subornem seus “clientes”. Uma vez legalizada, um preço fixo será imposto, impostos serão arrecadados, e o viciado sairá das mãos do traficante pra desembocar diretamente na sarjeta com aval da lei.


Mas a criminalidade não vai acabar aí. A saúde pública não vai acabar aí. Há de piorar... Pessimista, eu? Nem tanto. Se algum interesse obscuro for capaz de movimentar forças em favor da saúde pública, como fizeram o governo e a polícia se movimentar contra os traficantes das comunidades do Rio de Janeiro, então eu apoiarei a legalização da maconha.

Sem esse “porém”, essa idéia não passará de paranóia delirante de algum representante federal fiel consumidor da Cannabis Sativa.
Foto: "Gnomos" de Leopoldo Plentz

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