sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O Pequeno príncipe - Final - Aos administradores:


Este é o último capítulo que trago a baila, desta curta porém intensa obra literária francesa. Trata-se do capítulo que se refere ao “homem de negócios”, ao administrador que se julgava muito sério.



- Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu : " Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério ! " e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo! "









"O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
- Bom dia, disse-lhe este. O seu cigarro está apagado.
- Três e dois são cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia. Quinze e sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não há tempo para acender de novo. Vinte e seis e cinco, trinta e um. Uf! São, pois quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e dois mil, setecentos e trinta e um.



- Quinhentos milhões de que ?
- Heim ? Ainda estás aqui ? Quinhentos e um milhões de... Eu não sei mais... Tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias ! Dois e cinco, sete...
- Quinhentos milhões de que ? Repetiu o principezinho, que nunca na sua vida renunciara a uma pergunta, uma vez que a tivesse feito.

O homem de negócios levantou a cabeça :
- Há cinquenta e quatro anos que habito este planeta e só fui incomodado três vezes. A primeira vez foi há vinte e dois anos, por um besouro caído não sei de onde. Fazia um barulho terrível, e cometi quatro erros na soma. A segunda foi há onze anos, por uma crise de reumatismo. Falta de exercício. Não tenho tempo para passeio. Sou um sujeito sério. A terceira... É esta! Eu dizia, portanto, quinhentos e um milhões...
- Milhões de que ?

O homem de negócios compreendeu que não havia esperança de paz :

- Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os ociosos. Eu cá sou um sujeito sério. Não tenho tempo para divagações.
- Ah! Estrelas ?
- Isso mesmo. Estrelas.
- E que fazes tu de quinhentos milhões de estrelas ?
- Que faço delas ? Nada. Eu as possuo.
- E de que te serve possuir as estrelas ?
- Serve-me para ser rico.
- E para que te serve ser rico ?
- Para comprar outras estrelas, se alguém achar.

- E que fazes tu com elas ?
- Eu as administro. Eu as conto e reconto, disse o homem de negócios, É difícil. Mas eu sou um homem sério !
O principezinho ainda não estava satisfeito.
- Eu, se possuo um lenço, eu posso colocá-lo em torno do pescoço e leva-lo comigo. Se possuir uma flor, posso colher a flor e levá-la comigo. Mas tu não podes colher as estrelas.
- Não. Mas eu posso colocá-las no banco.
- Que quer dizer isto ?
- Isso quer dizer que eu escrevo num papelzinho o número das minhas estrelas. Depois tranco o papel à chave numa gaveta.
- Só isto ?
- E basta...
É divertido, pensou o principezinho. É bastante poético. Mas não é muito sério.
O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, ideias muito diversa das idéias das pessoas grandes.





- Eu, disse ele ainda, possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe. É útil para os meus vulcões, é útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não é útil às estrelas...




O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder, e o principezinho se foi...
As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso da viagem. "






Nem discutirei a simplicidade do homem que acreditava possuir as estrelas, e ainda cria que isso pudesse fazê-lo rico. É comum pensar que o que não tem dono podemos tomar posse, mas quem disse que as estrelas não têm dono?


Mas o enfoque aqui é outro, pretendo exercitar minha profissão. Existe o Código de Ética do Administrador, que regula a conduta dos profissionais desta área. Analisando o dito “homem sério” sob as normas deste código, superficialmente ele estaria dentro do regulamento.

Primeiro, segundo os Deveres, dentro do Art. 1º, §XI, o homem cumpria fiel e integralmente as obrigações e compromissos assumidos, relativos ao exercício profissional; e cumpriu seu dever de acordo com o Capítulo I, Art. 1°, §IX, ao informar sua incapacidade, ainda que momentânea, para o exercício da função devido ao reumatismo. Creio que lhe caberia uma indenização não fosse um porém, que citarei adiante.


O homem era realmente muito eficiente, mas era de um egoísmo enorme, criou uma empresa pra si, trabalhava só pra si e isso fere diretamente o Código de Ética do Administrador; no preâmbulo, §III, consta que o CEPA (Código de Ética do Profissional de Administração) é um estimulo para que os profissionais ampliem sua capacidade de pensar, visualizar seu papel e tornar suas ações mais eficazes diante da sociedade, ou seja, era seu dever como cidadão e como profissional, contribuir para o incessante progresso das instituições sociais e dos princípios legais que regem o país, ou no caso da fábula, o Universo.


Aquele cogumelo, como bem disse o principezinho, palavra sinônima de parasita, que vive à custa alheia, tomou para si as estrelas, que não foram fruto de trabalho seu, e julgando administrá-las formou uma empresa que não contribui com coisa nenhuma, que se impõe como se fosse algo não sendo nada, e aqui está a razão de que nem uma indenização pelo reumatismo esse homem pode requerer, uma vez que sua empresa não está sujeita a nada, a quem recorreria?


Nem a si próprio, uma vez que aquilo que ele faz questão de possuir não tem valor material. “É poético”, disse o principezinho. Ele quis ser dono das estrelas e não possuía a si mesmo; daria uma amarga elegia. E por fim, para um administrador ele tinha uma visão demasiado curta, seu negócio não tinha para onde prosperar, Le Petit Prince ao menos visitava as estrelas e asteróides a fim de se instruir e o “homem sério”?








Então, a nós administradores: Cresçamos e ampliemos nossos horizontes pelo bem da classe, a menos que nos contentemos em ser meros cogumelos.

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