sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Pequeno Príncipe - Parte I Que quer dizer "cativar"?



"O simples dá crédito a cada palavra, mas o prudente atenta para os seus passos". Provérbios 14:15




"- Bom dia, disse a raposa.
-Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.

- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”? 

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços”... 
- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... Cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
Assim o principezinho cativou a raposa. 

(...)


E voltou, então, à raposa:


- Adeus, disse ele...
É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. ’

(Trecho da fábula "O Pequeno Príncipe" de Atoine de Saint Exupéry






Certamente este capítulo é um dos mais comoventes. Retrata a solidão da criatura e sua total falta de habilidade em relacionar-se. E o principezinho veio dar-se conta disto no nosso humilde planeta Terra!


Embora as regras já estejam estabelecidas desde os fundamentos do mundo, regras que alguns chamam mandamentos, princípios ou ideais, não obstante o homem falha na manutenção dos seus relacionamentos ou seus laços...



Existem duas frases que se destacam para mim no trecho acima:



"É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços”... " e "O essencial é invisível para os olhos." Essa última virou popular em comentários nas redes sociais, mas não é bem entendida, porque nada há mais superficial do que as redes sociais! Hoje as amizades são trocadas como celulares, por um modelo mais interessante, alguém na "moda", pessoas reservadas geralmente são invisíveis aos olhos das demais, a menos para outras pessoas também reservadas ou qualquer pessoa com substância. 

É maravilhoso contemplar a beleza da criação, um sorriso de uma criança de colo, ou ainda é prazeroso apaixonar-se, confraternizar com amigos e familiares. Perigoso, porém, é deixar-se “cativar”. Não sei afirmar quando esta palavra passou a ser utilizada como algo positivo, mas o fato é que ainda assim seu sentido é o mesmo. Do latim captivo, raiz de onde nasce também a palavra capturar, cativar de um jeito ou de outro significa aprisionar, encarcerar.

Sem exageros, os noticiários dão vários exemplos de cativos na concepção doentia do modo de relacionar-se. Temos feito de nosso próximo o nosso deus, matando e morrendo por eles, ou degradando aos poucos nossas vidas, sujeitando-nos a simples humanos, como se a vida não fizesse sentido sem eles, o que é uma mentira que se dissemina no mundo contemporâneo.

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