Ocorreu-me uma oportunidade de falar sobre esse
conceito que aparece muitas vezes perdido nas aulas de história nos tempos do
ensino médio, e mesmo hoje não tenho certeza se ele ainda é abordado como
teoria. Na prática ele está para quem quiser ver, de representante de sala a
líder de torcida, de um simples vereador de um município inóspito da zona leste
a um grande deputado ou líder partidário nos tribunais do mensalão!
Para tanto posso continuar compartilhando os
conhecimentos de J. C. Hunter em O Monge
e Executivo e seu posterior manual teórico a respeito do mesmo. A definição
de demagogia é: manipulação das paixões e sentimentos do povo para conquista
de poder; o bem da coletividade figura sempre em segundo plano. O demagogo é a
pessoa que dá voz aos medos e preconceitos do povo por meio da retórica, palavra
esta definida como artifício que modifica
a expressão do pensamento.
Parece complicado? Vejamos. A Democracia é caracterizada
pelo poder do povo por meio do voto, o problema é que quando analisados os
conceitos de poder e autoridade vemos que poder nas mãos de qualquer um não dá
boa coisa. Nem sempre a opinião geral pode dar voz às reais necessidades
coletivas, mas apenas às suas vontades.
Uma questão levantada pelo ex-presidente americano Harry Truman foi: “até onde
Moisés teria ido se fizesse uma pesquisa de opinião pública no Egito?”
Para quem já leu o Livro de Êxodo na Bíblia sabe
o sufoco que Moisés passou com os israelitas que embora tivessem sido
escravizados no Egito, quando enfim conseguiram sair de lá, passando pelo Mar
Vermelho como em terra seca (Hebreus 11:29), sendo alimentados com o Maná que
caia do céu todo dia, bebendo água de uma rocha, ainda assim eles lamentavam a
perda do conforto que achavam que tinham no Egito. Sua zona de conforto fora
abalada e se Moisés não tivesse permanecido firme com a autoridade que Deus lhe
conferira, eles teriam dado um jeito de tornar ao Egito. Logicamente não
conseguiriam, pois o mar não se abriria para eles, e pela desobediência muitos
pereceram no caminho.
A questão é que Moisés sabia que o necessário
era voltar para casa, pois o Egito não era o lugar de habitação do povo de
Deus. E ele não fez sua própria vontade, nem dos israelitas, mas daquele que o
pos sobre o cargo de liderança. Esse é o problema das eleições a qualquer cargo
ou sobre determinados assuntos. Quando alguém perde a consciência do por que ou
para que foi eleito vem a corrupção do poder. Quem faz as vontades do povo se
torna popular, bacana, e se corresponde aos seus desejos mais vis melhor ainda.
Quem não curte um bom barraco? Uma fala rebuscada e moralista, ainda que
retórica – ou seja, contrária a real expressão do pensamento de quem fala? Um
bom demagogo é perito em explorar esse lado da condição humana. E quem responde
a ele de maneira mais veemente, concordando, tem em si o mesmo espírito, só não
domina a retórica...
“A isto se
chama falha de caráter”, afirma J. C. Hunter. No sétimo capítulo de seu
livro (Como se tornar um líder servidor)
o autor diferencia personalidade de caráter. Personalidade vem de persona, nome utilizado hoje para as máscaras que simbolizam o teatro. Ou seja, são os disfarces que usamos para
o mundo ver, nas palavras do próprio. Persona é nossa imagem social, a pessoa
que fingimos ser. Alguns com menor ou maior sucesso, como diria Abraham Lincoln
“pode-se enganar algumas pessoas todo o tempo; pode-se enganar todas as pessoas
algum tempo; mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo!" Uma
hora a máscara cai, e eu diria que a queda depende muito do que a sustenta, ou
seja o caráter.
Caráter é a firmeza moral de um indivíduo, sinal
de sua natureza interior. Uma acepção que considero fácil de gravar dada neste
livro foi que caráter é a disposição para
fazer a coisa certa, independente de nossos caprichos, vontades e preferências.
Claro que a pretensão do primeiro casal
da história – conhecer o bem e o mal – é relativa até hoje! Ninguém pode
afirmar com certeza o que é bom ou mal para alguém. Mas desenvolver o caráter é
ampliar o rol de informações para cometer o mínimo de erros possível, é
racionalizar.
A serpente, o tinhoso, foi o primeiro mestre em oratória.
“Sereis como Deus”, ele disse (Gênesis 3:5); apelou para a curiosidade de Eva,
para sua inocência, e acrescentou: “certamente não morrereis”. “Quem nunca
ouviu a frase “nem Cristo agradou a todos, porque eu teria que agradar?”A
primeira vez que ouvi isso eu tinha 13 anos de idade e até hoje eu ouço. Dá
para imaginar o bafo quente da serpente soprando no ouvido dessas pessoas:
sereis como Deus! Todo ateu sabe que o fundamento do cristianismo é que Cristo
é Deus, quem não confirma isso é anátema (Gálatas 1:8).
Embora esteja muito popular essas teorias sobre
o lado humano de Cristo, como o próprio livro aqui mencionado aborda o
comportamento de Cristo, com a vantagem de não se escandalizar com o fato. Não
dá para esperar menos de Jesus, pois ainda que humano, era Deus. O assunto aqui
é bem outro, O Monge e o Executivo
aborda a liderança do ponto de vista servidor, que teria sido o estilo adotado
por Cristo e indicado por ele aos seus discípulos: quem quiser ser o maior deve
servir.
Não consta que Cristo estivesse querendo agradar
a todos. Imaginem Deus querendo agradar a pecadores! Ele nos ama e por isso
mesmo faz a Sua vontade e não a nossa. Se colocar no mesmo patamar que o Senhor
é uma postura herética, quando não irracional, e ignorante. Se alguém cuida que
pode citá-Lo de tal maneira, deve saber o mínimo a Seu respeito, como, por
exemplo, que Ele disse: “não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me
enviou.” Antes do Calvário o Senhor falou aos discípulos “tende bom ânimo”, em
seguida Ele não lhes disse nem eu agradei a
todos... Apenas concluiu: “eu venci o mundo” (João 16:33). O propósito de
Cristo não era agradar a todos, ao contrário, era vencer o mundo e suas devassidões
e não há dúvidas de que Ele saiu vitorioso, agradando somente a Deus.
O pior do demagogo não é somente ele jogar para
a plateia, é abusar da inocência da mesma, e ainda explorar suas fraquezas para
autoafirmação. O melhor é que o fundamento (caráter) demagógico tem tempo
determinado e curto, pois por trás das máscaras do povo existem outros tantos com
caráter o suficiente para contradizê-lo, resisti-lo, opor-se-lhe, ou
simplesmente sair do seu raio de influência.
"Vossa excelência provoca em mim os
instintos mais primitivos"
Roberto Jefferson
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