terça-feira, 7 de agosto de 2012

Demagogo - persona grata, até o capítulo 2




Ocorreu-me uma oportunidade de falar sobre esse conceito que aparece muitas vezes perdido nas aulas de história nos tempos do ensino médio, e mesmo hoje não tenho certeza se ele ainda é abordado como teoria. Na prática ele está para quem quiser ver, de representante de sala a líder de torcida, de um simples vereador de um município inóspito da zona leste a um grande deputado ou líder partidário nos tribunais do mensalão!
Para tanto posso continuar compartilhando os conhecimentos de J. C. Hunter em O Monge e Executivo e seu posterior manual teórico a respeito do mesmo. A definição de demagogia é:  manipulação das paixões e sentimentos do povo para conquista de poder; o bem da coletividade figura sempre em segundo plano. O demagogo é a pessoa que dá voz aos medos e preconceitos do povo por meio da retórica, palavra esta definida como artifício que modifica a expressão do pensamento.
Parece complicado? Vejamos. A Democracia é caracterizada pelo poder do povo por meio do voto, o problema é que quando analisados os conceitos de poder e autoridade vemos que poder nas mãos de qualquer um não dá boa coisa. Nem sempre a opinião geral pode dar voz às reais necessidades coletivas, mas apenas às suas vontades. Uma questão levantada pelo ex-presidente americano Harry Truman foi: “até onde Moisés teria ido se fizesse uma pesquisa de opinião pública no Egito?”
Para quem já leu o Livro de Êxodo na Bíblia sabe o sufoco que Moisés passou com os israelitas que embora tivessem sido escravizados no Egito, quando enfim conseguiram sair de lá, passando pelo Mar Vermelho como em terra seca (Hebreus 11:29), sendo alimentados com o Maná que caia do céu todo dia, bebendo água de uma rocha, ainda assim eles lamentavam a perda do conforto que achavam que tinham no Egito. Sua zona de conforto fora abalada e se Moisés não tivesse permanecido firme com a autoridade que Deus lhe conferira, eles teriam dado um jeito de tornar ao Egito. Logicamente não conseguiriam, pois o mar não se abriria para eles, e pela desobediência muitos pereceram no caminho.
A questão é que Moisés sabia que o necessário era voltar para casa, pois o Egito não era o lugar de habitação do povo de Deus. E ele não fez sua própria vontade, nem dos israelitas, mas daquele que o pos sobre o cargo de liderança. Esse é o problema das eleições a qualquer cargo ou sobre determinados assuntos. Quando alguém perde a consciência do por que ou para que foi eleito vem a corrupção do poder. Quem faz as vontades do povo se torna popular, bacana, e se corresponde aos seus desejos mais vis melhor ainda. Quem não curte um bom barraco? Uma fala rebuscada e moralista, ainda que retórica – ou seja, contrária a real expressão do pensamento de quem fala? Um bom demagogo é perito em explorar esse lado da condição humana. E quem responde a ele de maneira mais veemente, concordando, tem em si o mesmo espírito, só não domina a retórica...
A isto se chama falha de caráter”, afirma J. C. Hunter. No sétimo capítulo de seu livro (Como se tornar um líder servidor) o autor diferencia personalidade de caráter. Personalidade vem de persona, nome utilizado hoje para as máscaras que simbolizam o teatro. Ou seja, são os disfarces que usamos para o mundo ver, nas palavras do próprio. Persona é nossa imagem social, a pessoa que fingimos ser. Alguns com menor ou maior sucesso, como diria Abraham Lincoln “pode-se enganar algumas pessoas todo o tempo; pode-se enganar todas as pessoas algum tempo; mas não se pode enganar todas as pessoas o tempo todo!" Uma hora a máscara cai, e eu diria que a queda depende muito do que a sustenta, ou seja o caráter.
Caráter é a firmeza moral de um indivíduo, sinal de sua natureza interior. Uma acepção que considero fácil de gravar dada neste livro foi que caráter é a disposição para fazer a coisa certa, independente de nossos caprichos, vontades e preferências.  Claro que a pretensão do primeiro casal da história – conhecer o bem e o mal – é relativa até hoje! Ninguém pode afirmar com certeza o que é bom ou mal para alguém. Mas desenvolver o caráter é ampliar o rol de informações para cometer o mínimo de erros possível, é racionalizar.
A serpente, o tinhoso, foi o primeiro mestre em oratória. “Sereis como Deus”, ele disse (Gênesis 3:5); apelou para a curiosidade de Eva, para sua inocência, e acrescentou: “certamente não morrereis”. “Quem nunca ouviu a frase “nem Cristo agradou a todos, porque eu teria que agradar?”A primeira vez que ouvi isso eu tinha 13 anos de idade e até hoje eu ouço. Dá para imaginar o bafo quente da serpente soprando no ouvido dessas pessoas: sereis como Deus! Todo ateu sabe que o fundamento do cristianismo é que Cristo é Deus, quem não confirma isso é anátema (Gálatas 1:8). 
Embora esteja muito popular essas teorias sobre o lado humano de Cristo, como o próprio livro aqui mencionado aborda o comportamento de Cristo, com a vantagem de não se escandalizar com o fato. Não dá para esperar menos de Jesus, pois ainda que humano, era Deus. O assunto aqui é bem outro, O Monge e o Executivo aborda a liderança do ponto de vista servidor, que teria sido o estilo adotado por Cristo e indicado por ele aos seus discípulos: quem quiser ser o maior deve servir.
Não consta que Cristo estivesse querendo agradar a todos. Imaginem Deus querendo agradar a pecadores! Ele nos ama e por isso mesmo faz a Sua vontade e não a nossa. Se colocar no mesmo patamar que o Senhor é uma postura herética, quando não irracional, e ignorante. Se alguém cuida que pode citá-Lo de tal maneira, deve saber o mínimo a Seu respeito, como, por exemplo, que Ele disse: “não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou.” Antes do Calvário o Senhor falou aos discípulos “tende bom ânimo”, em seguida Ele não lhes disse nem eu agradei a todos... Apenas concluiu: “eu venci o mundo” (João 16:33). O propósito de Cristo não era agradar a todos, ao contrário, era vencer o mundo e suas devassidões e não há dúvidas de que Ele saiu vitorioso, agradando somente a Deus.
O pior do demagogo não é somente ele jogar para a plateia, é abusar da inocência da mesma, e ainda explorar suas fraquezas para autoafirmação. O melhor é que o fundamento (caráter) demagógico tem tempo determinado e curto, pois por trás das máscaras do povo existem outros tantos com caráter o suficiente para contradizê-lo, resisti-lo, opor-se-lhe, ou simplesmente sair do seu raio de influência. 

"Vossa excelência provoca em mim os instintos mais primitivos"
Roberto Jefferson


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