sábado, 4 de agosto de 2012

O Monge e o Executivo - Parte I


“Nada é mais forte do que o hábito”
Ovídio

 Achei razoável esta epígrafe para introduzir este post sobre o livro O Monge e o Executivo, de James C. Hunter. Ela me faz lembrar outro adágio popular que reza que o hábito faz o monge. Na verdade esse hábito de usar epígrafes eu aprendi há muito tempo no ensino médio lendo as obras de Guimarães Rosa, e as resenhas sobre o modernismo que desvendavam sua utilidade.

O Monge e o Executivo é um livro pequenino, com sete capítulos mais o prólogo e o epílogo, e cada um deles vêm com uma citação de uma personalidade famosa, colocando no mesmo patamar Margaret Thatcher e Jesus Cristo! Independente disto, porém o livro é bastante instrutivo para quem é adepto da administração e preza pela saúde de seus relacionamentos.
O tema central de todo o livro é a liderança servidora, e logo no primeiro capítulo, quando apresenta as definições de liderança, autoridade e poder, diferenciando-a de gerência, não posso deixar de entreter-me com algo que me parece um ato falho. A distinção de gerência e liderança segundo o autor é:
Gerência não é algo que você faça para os outros. Você gerencia seu inventário, seu talão de cheques, seus recursos. Você pode até gerenciar a si mesmo. Mas você não gerencia seres humanos. Você gerencia coisas e lidera pessoas.”
Bonito, não? Só há um porém: posso gerenciar a mim mesmo, mas não posso gerenciar seres humanos. Acaso não sou humana?  Ato falho à parte, os conceito de gestão de pessoas ministrado pelo autor é patente, pois liderança é apresentada como uma habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio do caráter.
Sendo uma habilidade, pode ser adquirida.  Isso dá uma esperança aos peões, como vulgarmente são chamados os operários de chão de fábrica, os funcionários, os soldados de linha de frente, qualquer um que não está no topo da hierarquia mandando, sem por as mãos na massa. O que também é um pensamento errado a respeito dos administradores, que tem suas próprias arenas de disputa, e não é porque não sujam as mãos na graxa que sua função tem menos valor, e vice-versa.  

O livro, no entanto, desmistifica alguns métodos das políticas de plano de carreira, e promoção de funcionários. Muito recentemente eu ouvi sobre uma empresa que lá só trabalhava no setor administrativo quem fosse “da casa”, ou seja, geralmente quem fosse vendedor, ou algo semelhante.
Há uma confusão entre capacidade técnica e liderança. Muitos trabalhadores competentes tecnicamente não possuem as habilidades de liderança, e muitos líderes não tem habilidades técnicas, a vantagem é que o líder/gerente precisa entender a função que leva determinado produto a ser fabricado ou vendido, deve reconhecer as capacidades necessárias para a função, mas como líder ele pode delegar com eficácia a função àqueles que têm a habilidade técnica. Se ele não for um bom líder por sua vez, não saberá reconhecer a quem delegar, como, quando, nem por quê.
J.C. Hunter cita o exemplo do operador da retroescavadeira que foi promovido a supervisor, e no final passaram a ter um mau supervisor e ainda perderam o melhor operador de retroescavadeira! Isso é muito comum. Não quer dizer que um bom vendedor não pode ser um bom gerente/líder, desde que tenha desenvolvido a habilidade necessária, o que o autor sugere é que o fato de ser um bom vendedor, operador, caixa, telefonista, faxineiro não deve ser determinante para a promoção, mas o reconhecimento das habilidades humanas. (Continua)


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