Nos
meus tempos de escola o acesso a livros não era tão fácil como atualmente. Vejo
cada obra espetacular sendo distribuída aos alunos, então lamento muito já ter
completado o ensino médio antes dessa maré de boa sorte.
Dói
tanto quando vejo esses mesmos livros jogados no lixo, nas ruas, sem a menor
consideração daqueles que receberam e são ignorantes demais para notar a
riqueza que menosprezou. Isso me faz sentir menos culpada ou menos envergonhada
por num passado tão, tão distante... ter me apropriado inadequadamente de
livros da biblioteca da escola, o que me enquadra na categoria de Liesel
Meminger.
Livros.
Ler e escrever, desde que fui alfabetizada, tornou-se minha vida, sempre lia, à
vezes escondida porque irritava alguma pessoa a minha volta. Liesel
Meminger era uma menina sofrida pela lembrança da morte do irmão e
ausência da mãe biológica, o meu sofrimento era a ausência de mim mesmo.
Encontrei-me
nas palavras, nos versos, nos diários, nos símbolos. Em a menina que roubava livros algumas pessoas alimentaram esse dom
em Liesel: Hans, Max, e uma em especial a esse post: Ilsa Hermann. Claro que
sempre há aquela pessoa que batalha para que tudo dê errado, na melhor das
intenções, mas cheio de fel no coração, como fazia Rosa Hubermann, que não
incentivava a leitura da menina, que acabava por fazê-lo a noite com o pai
enquanto a mãe roncava.
Ilsa
Hermann, a mulher do prefeito possuía uma biblioteca variada, a qual
diponibilizou para Liesel usufruir. Após um mal entendido entre as duas, porém,
Liesel puniu-se não visitando mais a biblioteca, mas a roubadora de livros não
resistiu quando notou certa facilidade em adentrar o local por meios escusos.
Todavia era Ilsa que em silêncio, facilitava seu acesso e seus furtos, e foi
ela quem presenteou Liesel com o caderno de capa preta onde a menina escreveria
sua história.
Em
minha vida, quem me deu o livro que definiria meu destino foi a diretora da
escola onde eu estudava, D. Conceição, no ano de 1996 (ou 1997. Pois é, o tempo
passa!). O livro era uma antologia poética de Mario Quintana.
Pelos
versos do poeta gaúcho fui aprendendo a compor meus próprios versos, e poeta
precisa de conteúdo e inspiração, e para tanto me vali de mais livros, dessa
vez lícitos, e muitos sonhos inspiradores, meu portfólio poético
possui 300 poesias. É pouco, mas optei pela qualidade, posso dizer que é pouco,
mas bem feito, embora ainda aguarde alguma devolutiva dos que leram a obra
completa.
A
morte (no conto de Zusak) pegou o livro de Liesel, guardou e o olhou milhares
de vezes ao longo dos anos. Até a morte se comove com uma menina que escreve
livros, ou como o próprio autor diz: "até a morte tem coração". Se
você escreve e alguém lhe diz que é besteira, a morte não concorda, e você não
vai querer discutir com ela!
Acredito
que a morte e as palavras têm uma relação estreita, tanto que a obra mais
brilhante do ex-presidente Getúlia Vargas, foi sua carta póstuma:
"saio da vida para entrar na história!"
(Considerando
os devaneios de um suicída e a licença poética do termo "brilhante")
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