sábado, 10 de dezembro de 2011

A menina que roubava livros - Ilsa Hermann


Nos meus tempos de escola o acesso a livros não era tão fácil como atualmente. Vejo cada obra espetacular sendo distribuída aos alunos, então lamento muito já ter completado o ensino médio antes dessa maré de boa sorte. 

Dói tanto quando vejo esses mesmos livros jogados no lixo, nas ruas, sem a menor consideração daqueles que receberam e são ignorantes demais para notar a riqueza que menosprezou. Isso me faz sentir menos culpada ou menos envergonhada por num passado tão, tão distante... ter me apropriado inadequadamente de livros da biblioteca da escola, o que me enquadra na categoria de Liesel Meminger. 

Livros. Ler e escrever, desde que fui alfabetizada, tornou-se minha vida, sempre lia, à vezes escondida porque irritava alguma pessoa a minha volta. Liesel  Meminger era uma menina sofrida pela lembrança da morte do irmão e ausência da mãe biológica, o meu sofrimento era a ausência de mim mesmo. 





Encontrei-me nas palavras, nos versos, nos diários, nos símbolos. Em a menina que roubava livros algumas pessoas alimentaram esse dom em Liesel: Hans, Max, e uma em especial a esse post: Ilsa Hermann. Claro que sempre há aquela pessoa que batalha para que tudo dê errado, na melhor das intenções, mas cheio de fel no coração, como fazia Rosa Hubermann, que não incentivava a leitura da menina, que acabava por fazê-lo a noite com o pai enquanto a mãe roncava.

Ilsa Hermann, a mulher do prefeito possuía uma biblioteca variada, a qual diponibilizou para Liesel usufruir. Após um mal entendido entre as duas, porém, Liesel puniu-se não visitando mais a biblioteca, mas a roubadora de livros não resistiu quando notou certa facilidade em adentrar o local por meios escusos. Todavia era Ilsa que em silêncio, facilitava seu acesso e seus furtos, e foi ela quem presenteou Liesel com o caderno de capa preta onde a menina escreveria sua história.

Em minha vida, quem me deu o livro que definiria meu destino foi a diretora da escola onde eu estudava, D. Conceição, no ano de 1996 (ou 1997. Pois é, o tempo passa!). O livro era uma antologia poética de Mario Quintana.






Pelos versos do poeta gaúcho fui aprendendo a compor meus próprios versos, e poeta precisa de conteúdo e inspiração, e para tanto me vali de mais livros, dessa vez lícitos, e muitos sonhos inspiradores, meu portfólio poético possui 300 poesias. É pouco, mas optei pela qualidade, posso dizer que é pouco, mas bem feito, embora ainda aguarde alguma devolutiva dos que leram a obra completa.

A morte (no conto de Zusak) pegou o livro de Liesel, guardou e o olhou milhares de vezes ao longo dos anos. Até a morte se comove com uma menina que escreve livros, ou como o próprio autor diz: "até a morte tem coração". Se você escreve e alguém lhe diz que é besteira, a morte não concorda, e você não vai querer discutir com ela! 

Acredito que a morte e as palavras têm uma relação estreita, tanto que a obra mais brilhante do ex-presidente Getúlia Vargas, foi sua carta póstuma: "saio da vida para entrar na história!"  

(Considerando os devaneios de um suicída e a licença poética do termo "brilhante")




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