quinta-feira, 29 de abril de 2010

Alice no País das Maravilhas


Alice no País das Maravilhas do diretor Tim Burton, é um filme que já nasceu repleto de preconceitos. Primeiro pela falsa ideia de que se trata de um roteiro puramente infantil, coisa que nem os livros originais de Lewis Carrol são. Segundo por dizerem ser um filme para meninas.

Através das cenas nonsenses de Alice, Carrol fez críticas ferrenhas à sociedade britânica do século XIX. Críticas que se arrastam até o século presente, e dizem respeito a todas as sociedades ocidentais, conservadoras, escravas da rotina, do tempo, cada vez mais envelhecidas nas suas crenças.

Confesso que não tinha muita intimidade com as histórias de Alice, nunca havia feito uma análise sobre o tema, pois só conhecia algumas tiradas como o "estou atrasado" do coelho branco e "cortem-lhe as cabeças" da rainha vermelha (ou rainha de Copas, na versão original de Carrol). Sendo que só estas tiradas já dão pano pra manga!



É muito comum ouvir frases como "estou atrasado" ou "estou ocupado" diariamentte. Que geralmente vem de pessoas condicionadas ao tempo, à obrigação de serem sérias, e muitas vezes tornam-se automatizadas, afastam-se da condição humana e tornam-se máquinas.

"Cortem-lhe a cabeça" no século XIX fazia alusão as decaptações frequentes daqueles que discordavam de alguma forma do despotismo imperial. Atualmente funciona como metáfora contra a razão. "Tirem-lhe a razão!" Gritam as rainhas vermelhas de hoje, e a forma de decaptar é através da desmoralização de indivíduos e ideias que contrariam as elites (isso soou meio comunista... O comunismo vermelho também pretendia desmoralizar a burguesia e cortar-lhes as cabeças!).

Alice na versão cinematográfica, é uma releitura das duas obras de Lewis Carrol Alice no País das Maravilhas e Através do espelho e o que Alice encontrou lá; é uma síntese de algumas ideias centrais. Ao contruir a personagem principal aos 20 anos, diferente da original que não passa de 7 nos dois livros, Tim Burton não ficou devendo em nada à essência de Alice, pois manteve na jovem a pureza e o frescor da criança, sem contar os traços angelicais de Mia Wasicowska.

O repúdio aos códigos de conduta vigente, mostrados logo na primeira cena em que a jovem aparece, quando se recusa a usar espartilho e meias como julgam adequado,e Alice lança a frase: "se fosse adequado usar um bacalhau na cabeça, você usaria?" Mostra o lado sapeca, cheio de razão, embora fora dos padrões das crianças.

Alice é levada a Wonderland pelo coelho branco (dediquei um post a simbologia do white rabbit), a personagem mais parecida com as pessoas reais, justamente por viver em função do relógio. Lá encontra situações e figuras típicas do mundo dos sonhos.


O chapeleiro maluco (Jonnhy Deep) que na versão original tem menor importância na história e é um contador de enigmas, no filme ganha maior destaque e atém-se a um único enigma, que ao final ele mesmo revela não fazer a mínima ideia do que significa.

O chapeleiro com suas maluquices peculiares, e extravagância (fora a beleza plástica da personagem), me causou profunda empatia. Pessoas autênticas, poéticas e sensíveis são muitas vezes tomadas por loucas e são marginalizadas, daí sua quase irrelevância na trama original de Alice no País das Maravilhas. Chapeleiro propositalmente, já que estes profissionais na época eram acometidos por distúrbios neurológicos devido a intoxicação por mercúrio, que lhe exigia o oficio.

O chapeleiro original justificava seus enigmas de maneira insatisfatória, Tim Burton atribuiu-lhe a dignidade de admitir que não fazia a menor ideia do que dizia, coisa que muitos "sábios" também não fazem ideia, porém não admitem.

Alice é minha mais recente pérola adquirida de Hollywood. Através do filme penetrei na terra das maravilhas e descobrí que lá também existe o bem e o mal, só que tudo é reversível se cultivarmos o hábito de acreditar em seis coisas impossíveis no café da manhã... 

Post Scriptum: Por que Alice atravessou séculos como sendo um conto infantil?
Porque somente as crianças, ou quem cultiva certa innocence, sabe ler nas entrelinhas sem precisar que os críticos lhe expliquem. Aos adultos os fatos históricos, às crianças o mundo, a beleza, a poesia - presença constante nos livros e que é compensada pela estética do filme. 

  

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Bê-a-bá do Brasil

Certa vez, li num livro didático que as crianças francesas, a partir dos 7 anos, só podem ser consideradas alfabetizadas se conseguirem elaborar uma redação com no mínimo 15 linhas com o tema "Minha Vida".

Aí podemos questionar: Que vida é esta que pode ser contada em 15 linhas? Está certo que o teste é aplicado a crianças, sendo que o primeiro ano já está descartado, pois nenhum de nós tem a menor consciência do que é feito da nossa vida neste período.

Do segundo ao quarto ano de vida, temos lápsos do que aconteceu. Restam então,  três anos para serem contados se a criança for honesta e relatar somente o que ela sabe sobre sí própria e não o que falam que ela é.

Considerando ainda, que existem pessoas tendenciosas a viver na ilusão daquilo que dizem que elas são, se a honestidade for um fator obrigatório pra legitimar a redação, aí não lhes resta nada a contar, pois sua vida foi moldada em cima de crenças, preconceitos e expectativas alheias; não existe nada de seu pra legitimar o "Minha" proposto pelo tema.

Por falta de conteúdo então, todas as crianças (francesas ou não) podem ser consideradas analfabetas???

Já pensou se essa moda pegasse, e só quem soubesse elaborar uma redação fosse considerado alfabetizado? Muita gente tava na roça! De aluno primário a Presidente da República!     





Inesquecível



Pensei em fazer um discurso apaixonado, assunto não falta quando o tema é Michael Jackson. 

Mas em vez disso recomendo que leiam o post escrito por Rodman em http://rodman.blog.terra.com.br/, não foi escrito com menos paixão do que eu faria. (Evita acusação de plágio também!)

As músicas de Michael Jackson falam por sí, por isso deixo a mensagem de Man In The Mirror:

"Eu vou fazer uma mudança
De uma vez em minha vida 
Vai ser bom de verdade,
Vou fazer a diferença,
Vou fazer isso direito...
Eu dobro a gola do meu casaco favorito,
E o vento sopra na minha cabeça,
Eu vejo as crianças nas ruas
Sem nenhuma comida,
Quem sou eu? Estou cego?
fingindo não perceber suas necessidades.
O verão é ignorado como
Uma tampa de garrafa quebrada,
E como a alma de um único homem
Eles seguem uns aos outros ao vento,
Porque eles não têm lugar pra ir.
É por isso que eu quero que você saiba

Eu estou começando com o homem no espelho
Eu estou pedindo à ele pra mudar seus caminhos
E nenhuma mensagem pode ser mais clara:
Se você quer fazer do mundo um lugar melhor
Olhe pra sí mesmo, e então faça uma mudança
(...)
Porque quando você fecha seu coração 
Você perde a sua razão!
Então faça uma mudança."




Michael não era um velho decrépito como a mídia insistiu em pintar até seu último minuto(...)Tudo bem, ele tomava remédios pra dor. Mas, vai ensaiar num ritmo frenético pra uma turnê ( e com o perfeccinismo digno do melhor artista do mundo), após muito tempo parado e com cinquenta e uns anos... Por muito menos eu estaria dolorida!!



Só me resta fazer coro com Paris Michael, sua filha:
Michael, I love you so much!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pérolas da cultura musical brasileira

"O bicho vai pegar
A selva toda vai chegar para deitar e rolar
Se o bicho homem aparecer vai ter muvuca
A selva toda vai gritar Filho da P....!"


Zoodstock - Grupo Inimigos da HP
compositores: Sebá e Gui



"Vou Construir minha casinha
Lá no alto do cerrado
Mas eu só levo a Rosinha
Depois de tudo acabado
É feita de pau-a-pique
Colada com eucatex
E na parede tem quadrinhos
Presos com fita durex
Tem fios pra todo lado
Só falta eletricidade
Mas não demora ela chega
Vem junto com a cidade
Aí eu vendo essa merda
E encho o C.. de dinheiro
E a Rosinha que se Foda
Eu vou morar no puteiro!"

Rosinha - Grupo Jeito Muleque
Compositor: Ary Toledo



"Eu Vou mudar tudo que não me convém
Hoje tenho tudo que podia querer mas,
dinheiro não é tudo, tenho muito a fazer
(...)
Ame seu pai mesmo se ele for um porco capitalista
(...)
Eu não sei fazer poesia... Mas que se foda!
Eu odeio gente chique, eu não uso sapato... mas que se foda!
Eu odeio hipocrisia... Mas que se foda!"


Não uso sapato - Charlie Brown Jr.
Compositores: Chorão, Marcão, Champignon e Pelado
.



Há neste festival de "canções", uma específica, que passa despercebida pelos ouvidos mais conservadores, pela alquimia perfeita entre letra e música, mesmo contendo uma palavra que em tempos remotos era tida como de "baixo calão". Palavra esta que eu, certo dia, falei brincando que 'já constava até no dicionário'. Brinquei porque não havia consultado todos os dicionários! Nos mais tradicionais como o Aurélio, não consta mesmo, mas no dicionário "Priberam" europeu (Portugal) existe a definição da palavra: Foda (ó) s.f: Derivação regressiva de foder; que por sua vez significa ato sexual, coito, cópula...("Oh! Não diga?")


Ainda pra complementar, o dicionário cita um sinônimo geral: Fornicar. OK, após essa aula geral sobre palavrões, voltarei a música que me inspirou este post. "Me Adora" é a música em questão. Interpretada pela cantora Pitty, e composta por ela própria junto com Derrick Green e Andreas Kisser. Me adora, é um rock romântico, de melodia agradável, e letra quase eloquente, não fosse por um detalhe: A PALAVRA!


"Tantas decepções eu já vivi/ aquela foi de longe a mais cruel/ Um silêncio profundo e declarei:/ Só não desonre o meu nome(...)
Você que nem me ouve até o fim/ injustamente julga por prazer/ Cuidado quando for falar de mim/ E não desonre o meu nome.
Não sei o que eu tenho que fazer pra você admitir/ que você me adora/
Que me acha foda/ não espere eu ir embora pra perceber(...)
Não importa se eu não sou o que você quer/ não é minha culpa a sua projeção/Aceito a apatia, se vier/ Mas não desonre o meu nome(...)
Que você me adora/ me acha foda(...)



Na letra ela faz questão de honrar seu nome forçando-o a admitir que a acha Foda! O que seria achar alguém foda, segundo a definição do dicionário? Seria achar a pessoa sexualmente atraente (pra ser razoável...)? Até aí tudo bem, nem soa tão mal assim! Século XXI... Passa! Seria esta a mensagem da música? Qual seria o conceito de honra ao nome proposto pela música? Duvido que a Pitty tenha parado para ler a definição da palavra, nem eu polemizo tanto, a questão é onde vamos parar? Coisas sem nexo passam a fazer sentido, e se não fazem sentido, também não tá fazendo diferença! Chorão mesmo admite que não sabe fazer poesia!

Há porém na música, uma mensagem quase subliminar que tem a ver com a definição do Priberam: "Será que eu já posso enlouquecer/ ou devo apenas sorrir?" Ou seja se ele admitir...


segunda-feira, 19 de abril de 2010

Às voltas com a Língua Portuguesa


'As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão.' Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 foi assim:
 



Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.Responderam-me: "Por que é que um chapéu faria medo?" 

Meu desenho não representava um chapéu. Mas uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. (...) 

Meu desenho número 2 foi assim:



As pessoas grandes aconselharam-me a deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas,e dedicar-me à geografia, à história, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2."

"O Pequeno Príncipe" Antoine de Saint Exupéry


Corrí um risco semelhante com a minha primeira poesia:


Quando fores dormir
Sonharás comigo
E neste sonho mostrarei
Que não há nenhum perigo


Que por mais perigoso que seja
Me amar é tudo que você deseja


Quando acordares
Seu primeiro pensamento será eu
Pensará também que
Todo seu medo se perdeu


Se perdeu por nossas entranhas
E não sobreviveu a nossa façanhas


Quando saíres então
Para me encontra
Me acharás no campo do amor
Prontinha para te amar


E assim sempre estarei
Em todos os momentos de sua vida
E para sempre serei sua doce querida



Quando terminei este conjunto de palavras rimadas, senti-me a mais nova revelação da literatura poética brasileira, uma verdadeira descendente de Cecília Meirelles! (Minha avó se chamava Cecília, mas não a Meirelles...) Era em tese minha primeira poesia, após outras tentativas.


Me lembro bem, estava com 14 anos de idade, quando confiante, fui mostrar minha obra para minha professora de língua portuguesa:


- Huum... - Ela leu rapidamente. - Muito Boa!


Lembro também que ela fez uma objeção referente ao diminutivo "prontinha" da penúltima estrofe. Eu exultei de felicidade, afinal "o único defeito da minha poesia era um diminutivo mal empregado!"

Ledo engano! Anos mais tarde pude pilhar a professora em seu ardil. Quando passei a cultivar a autocrítica, ou quando pela prática, aprendi a escrever versos melhores, (embora sempre possa melhorar!) pude perceber que de "muito boa", minha singela poesia não tinha nada!

Tinha sim, sérios problemas de concordância pronominal, ausência total de métrica e outras carências de estilo. Mas eu era uma adolescente! A minha ignorância sobre certas coisas era totalmente compreensível, já a professora...

Pergunto-me até onde ela agiu pedagogicamente correto? Até onde tinha consciência de seus atos? Se me conheço bem, uma crítica certamente me desencorajaria a escrever o que quer que fosse. Até minha assinatura eu hesitaria antes de fazê-la! Assim como o narrador de "O Pequeno Príncipe" fora desencorajado de sua carreira de pintor, pelas críticas e incompreensão dos adultos, comigo não seria diferente!

A princípio, parece que eu deveria dar meus parabéns à professora; no entanto, não tenho total garantia de sua honestidade. Eu a considerava a melhor em gramática, e minha poesia era um pretexto e tanto pra ela me apresentar uma série de regras da Língua Portuguesa (Ó Codigo Secreto!). E não foi o que aconteceu. Só porque não estava no currículo, ou porque o tema não havia sido discutido no conselho de classes, eu não merecia uma atenção extra, tendo solicitado? Afinal, professores servem para ensinar, ou não?

Muito do que eu sei, aprendi por meus próprios esforços, e recentemente aprendi mais algumas regras "sugeridas" por um conhecido formado em Letras, que gentilmente me perguntou se eu conhecia o recurso da licença poética... Ou seja, se não era licença poética, era ignorância mesmo!

Foi-me dito mais que isto. Recebi sutilmente instruções de pesquisa que sequer soou como correção ou crítica, mas como uma menina aplicada que sou, pesquisei e me flagrei em pequenos erros, que até então nenhum mestre havia tido a dignidade de me alertar.

Não fosse por este episódio, eu hoje não desconfiaria das boas intenções da professora. Ela quis me poupar de críticas ou apenas se livrar de mim?


Post scriptum:
"L'Enfer est plein de bonnes volonte" / O inferno está cheio de boas intenções.
 São Bernardo 

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Poesia


Lamentações


Ó céus por que choras assim?
Se já é tão grande o meu lamento!
Se me exasperam os tormentos
Que me desatinam sem fim...

E sem sorver tuas doces lágrimas,
Sim céus, porque choras assim,
Das minhas dores não me lavo
Minha agonia não tem fim

Mesmo esta chuva que me busca
Na insanidade desta casa
Seduzindo-me a ganhar asas
Nem ela detém-me de outra fuga...

De tantas chuvas de feições
Várias, nublada, clara, escura
Nunca veio a mim uma tão pura
E estranha às minhas ilusões

Longe demais de qualquer sonho
Fechei as comportas do meu mundo
Pra que a enchente não me leve
Todos os medos mais profundos...

Ó céus o que será de mim?
Se os relampejos que em meu peito
Ardem, espantam os apelos
Da cantoria dos passarinhos?

Pego de Surpresa II


Nem sabes como foi naquele dia...   

Nem sabes como foi naquele dia...
Uma reunião em suma tão vulgar!
Tu caístes em estado de posia          
Quando o Sr. Prefeito ia falar...

O mal sagrado! que remédio havia?
E como para nunca mais voltar,
Lá te foste na tarde de elegia,
Por essas ruas a perambular.

Paraste enfim junto a um salgueiro doente,
Um salgueiro que espiava sobre o rio
A primeira estrelinha... E, longamente,


Também ficaste à espera (quanta ânsia!)...
Mas a estrelinha, como um sonho, abriu,
Longe, no céu azul da tua infância!


Mario Quintana




Quanta delicadeza: "Estado de poesia", nada mais adequado!

Pego de Surpresa... Ou epilepsia.

"Sim eu tenho a doença das quedas, a qual não é vergonha pra ninguém. E a doença das quedas não impede a vida". Dostoiévski




O que é epilepsia creio que todos saibam, ou tem uma ideia do que seja. Pelo menos eu conheço poucas pessoas que não tenham um outro conhecido com o mesmo problema. Há estudos que indicam que a cada 100 pessoas uma tem epilepsia, logo é bastante comum, no entanto o preconceito é tão grande! Aliás se eu for falar em preconceito vou entediar o leitor, porque este assunto vai beirar na hipocrisia da humanidade.


De mal-sagrado a mal demoníaco  tudo se fez contra os epiléticos desde os tempos mais remotos. Hoje evita-se jogá-los na fogueira como no tempo da inquisição, não é politicamente correto. Hoje marginalizam-nos, quando os próprios não o fazem por si! No entanto não é um bicho-de-sete-cabeças, é mais fácil do que se imagina conviver com algumas crises, as mais comuns como as ausências e crises parciais simples e complexas por exemplo, quando não há presença de convulsões.


Machado de Assis, nosso grande literato fundador da cadeira número 23 da ABL(Acadêmia Brasileira de Letras) era portador de epilepsia, no entanto escondia isto de todos pois sentia vergonha, poucas pessoas assistiram suas crises, segundo consta em suas biografias. Nada o impediu, contudo de trabalhar (vendia relógios na rua quando jovem),estudar, nem exercer magistralmente sua carreira de escritor, de livros e crõnicas que publicava nos jornais. Acho que sua obra foi a única coisa verdadeiramente crônica na vida de Machado.

Não consta em nenhuma fonte que Joaquim Maria M. de Assis tenha se privado do que quer que seja por ser epilético. Acho esta afirmação tão fúnebre: "Você é epilético!" Não! Prefiro: "Estou epilético". Também não gosto do termo "doença crônica". Quem sabe o dia de amanhã?  
Existem muitas personalidades que fizeram história, como o imperador Dom Pedro I, que passou a ter crises aos 18 anos. Imaginem se tivessem impedido o menino de andar a cavalo por causa das crises? Quão estranha não ficaria a cena do Grito do Ipiranga? Não teriamos sequer o "dia do fico", anterior a independência - "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação: Digam ao povo que fico em Portugal mesmo porque sou doente!" Valha-me Deus!


Agora pensem no Rock sem a guitarra de Eric Clapton? Viajar em turnês, ensaios com a banda... Nada disso seria possível se ele se limitasse pela doença (que eu, como Machado de Assis não gosto de chamar assim).Voltando a literatura, tantos outros nomes podem ser citados Dostoiévsk (escritor russo) Agatha Christie, Lord Byron (poeta inglês).


Alexandre não seria nem médio que dirá Grande! Napoleão que dominou a França por 16 anos, estaria isolado na ilha de Córsega. "O Lago dos Cisnes" não teria a brilhante cançâo de Tchaikovsky . Enfim, não é muito difícil  imaginar como a história seria diferente se todos os epiléticos fossem marginalizados. Aliás se todas as pessoas com qualquer tipo de deficiência fossem marginalizadas, pessoas que não são "normais" como dizem.(Gostei de figurar em meio a estas "celebridades" todas!)



Post Scriptum:É engraçado, eu que sofro minhas ausências mas o povo que tem visão distorcida da coisa. Primeiro fazem um dramalhão mexicano que Deus me livre! Depois agem como se eu fosse surda... Falam de mim, quando estou nesta condição e ignoram que a crise dura segundos às vezes, mesmo quando dura mais, existe uma tal de memória que registra certos fatos, pra ilustrar darei um exemplo: Você já se pegou meio sonolento e ao mesmo tempo ouvindo o que as pessoas falam ao redor? Você não participa da conversa, está mais pra lá do que pra cá, mas quando enfim desperta, se lembra do que foi dito? Pois é, cuidado com o que dizem pessoal, muito cuidado!

(Continua)



quinta-feira, 15 de abril de 2010

Meu verso





Risco

O idílio de um poeta é arriscado
É composto por letra e minúcias
Extrai do coração machucado
Cicatrizes e dores insanas
Nem portanto desfaz de correr
cada risco justifica a pena
Que depois de de traçado e polído
Vem a ser sua alegria mais plena


E abre os braços aos versos de amor

Que só espera rebelde e insistente,
E este esforço que tanto lhe exige
Purifica-lhe o gênio de autor

Pois a mesma dor que já sofreu
Doeu-lhe novamente ao compor.



Carpe Diem



"Carpe Diem quam minimum credula postero." Odes , Horácio (65-8 a.C)

"Aproveite o dia sem confiar no amanhã"

Carpe Diem - esta ideia fascina. É uma referência ao arcadismo de séculos passados, mas ainda assim é uma expressão sublime: Carpe Diem! Sem meu sotaque paulista fica melhor ainda. Atualmente existem ideias genéricas como "Viva o agora" de Ekhart Tole, mas a raiz é a mesma.

Desde que assisti pela primeira vez Sociedade dos Poetas Mortos, dois sentimentos pululam dentro de mim: o prazer (sagrado) da poesia e o gosto pela liberdade. A primeira eu já havia sido gentilmente apresentada pela diretora de uma das escolas onde estudei; fui introduzida a poesia através de Mario Quintana. Quanto a liberdade, ah... a liberdade! Um dia chego lá.

Contudo, uma coisa eu aprendi, enxergar as coisas de outro ponto de vista, sair do lugar comum do pensamento, já é um salto pra liberdade. O filme traz uma série de exemplos que mostram que "tradição, honra, disciplina e excelência" (lema da Welton High School, no filme) geram pessoas hipócritas e medíocres.





E se por um tempo relativamente grande, eu fui tradicional, disciplinada e excelente (sabe aquelas alunas que só tiravam nota 10?), desde então me reservei o direito de mudar meu ponto de vista, subir na mesa como Mr. Keating (Robin Willians) fez para apresentar aos seus alunos o pensamento livre.

Dizem que os grandes sábios da história não foram bons alunos; Einsten por exemplo. Não quero porém, desmerecer os bons alunos, nem afirmar à turma do fundão que seus nomes ficarão marcados na história; toda regra tem excessão. Mas que os C.D.Fs estão com um pé na mediocridade, ah, estão! (Ah, estão - Einsten. Creio que fiz um trocadilho!)

Mas a questão aqui nem é inteligência intelectual, quem assistiu "Gênio Indomável" compreende que nem sempre um aluno-problema tem deficiência intelectual, para não dizer quase nunca tem deficiência. A questão é inteligência emocional, o que na maioria das vezes falta aos "queridinhos dos professores". Aqueles que se esforçam para serem os primeiros porque jamais aguentariam uma crítica. Estes foram treinados sob o julgo da tradição, honra e blá, blá, blá.

Mas há a poesia! Certo dia ela me disse: "Venha até mim e eu a libertarei!' E como Mr. Keating eu não escrevo ou leio poesia porque é bonitinho, escrevo e leio porque sou humana. É uma forma politicamente correta de subir na mesa, não agride ninguém, até porque os medíocres só leem os poetas tradicionais que estão perdidos em museus de literatura. (Louváveis poetas mortos!)




Então aproveito meus dias escrevendo, deixando meu legado, assim fica a prova de que existi pra posteridade.

Post Scriptum:
"A vida existe, e a identidade, essa brincadeira de poder, continua e você pode contribuir com um verso" - Walt Whitman


Qual será o seu verso?


Links relacionados:

http://privadosempublico.blogspot.com.br/2010/04/meu-verso.html
http://privadosempublico.blogspot.com.br/2012/10/geracao-hamburger.html
http://privadosempublico.blogspot.com.br/2012/06/ser-professor_26.html

terça-feira, 13 de abril de 2010

Dobrando o Cabo da Boa Esperança



"Oba! Este ano tem Copa do Mundo! "


Parece que eu deveria estar neste clima de "salve à seleção" também. Porém a última Copa frustrou minhas ilusões a esse respeito, não só porque perdemos, ou melhor, a Seleção perdeu. Eu não perdi nada! Mas ficou explícito que o tempo em que se jogavam pela Seleção, pelo Brasil (se é que algum dia houve esse tempo mesmo...) ficou no passado. Agora times is money, game is money, cup is money.

É muita estrela pra pouca constelação! Já dizia Raul. Se bem que eu já deveria ter caído na real antes do último ato, lá por volta de 2002, quando iamos empolgados pra escola após uma vitória do Brasil e um sábio professor nos alertou: "Vocês só se lembram que são brasileiros em tempos de Copa". Na verdade não é bem por aí, ninguém se torna patriota em tempos de Copa, o lance é o futebol, tanto faz se é a seleção, o São Paulo, o "Curíntia" ou o Mengão! A diferença é que pra seleção todas as tribos se unem, todos os rótulos e torcidas possíveis se tornam uma só. Quem diria...

Tudo bem, às vezes varia o esporte, mas a ideia é a mesma. Logo meu professor estava enganado, nem nesses tempos nos lembramos que somos brasileiros, exceto quando necessitamos de chavões como: sou brasileiro e não desisto nunca!



Este ano a Copa é na Africa do Sul, onde se localiza o Cabo da Boa Esperança da foto acima. Realmente este país está mesmo necessitado de uma Copa. Se o evento render para eles o que os jogos Pan-americanos renderam para o Rio de Janeiro, eles estão bem servidos! Os servidores públicos sulafricanos ja estão em greve, insatisfeitos com o evento promovido certamente a revelia da grande massa que trabalha a troco de amendoins. (Gazeta on line)

Do jeito que as coisas vão por lá, estamos mais no clima de "Salvem a seleção!" Sem contar que o Brasil não tem time. Se, repito, Se ganhar certamente não será por mérito... Money baby, money...


Post Scriptum: Até parece que existe algum ser patriota hoje em dia! Quando desavisadamente alguém canta: "Verás que um filho teu não foge à luta/ Nem teme, quem te adora, a própria morte/ Terra adorada..." Canta com a mesma emoção com que cantaria um funk qualquer. Vá lá, que não seja um funk pois a melodia não corresponde, mas Detalhes de Roberto Carlos. Não pela melodia mas pelo título...

Morrer pela pátria também não faz mais a cabeça de ninguém, nem deveria! Morto não se tem mais serventia nenhuma! Quem quiser fazer alguma coisa pelo vizinho que seja, não será morto que o fará.

Pátria amada Brasil...

Medos Privados em Lugares Públicos


Ninguém sabe o quanto me custou escrever este post. Talvez o título por si explicasse as razões. A mim explica. Do leitor não lhe exijo grandes esforços de raciocínio. 

Avante, vou pormenorizar o título para que a finalidade deste blog que vos apresento fique clara. Quem nunca sentiu um frio na barriga ao se expor voluntariamente (ou não) em público? Eu. Pra ser sincera, frio na barriga nunca foi um dos sintomas do meu nervosismo, já tremores, gagueira, lapsos de memória... Não convém continuar a imagem.

No entanto, a vida é um tablado e inevitavelmente nos vemos em público. Então já que não há fuga, atiro-me voluntariamente na jaula dos leões, mesmo que de felinos eu só entenda dos gatos domésticos! E quem melhor que a internet pra tirar alguém do anonimato a que certas circunstâncias nos obrigam?

Timidez, prudência, vaidade, arrogância, doença, tudo se resume numa só palavra: Medo. Não significa porém que usarei este espaço para dizer o quanto sou tímida, prudente, vaidosa, arrogante ou doente... (aff!) Mostrarei o que ninguém sabe justamente por isso, são ideias, opiniões e sonhos privados até então, sobre assuntos gerais que vieram aos borbotões em minha mente. Todos deveriam ter um lado jornalístico...

(Este post é a síntese do título, cuja única finalidade foi aplacar o meu medo de ser incompreendida.)


Post Scriptum: Dizem que semelhantes se atraem, estranho. Todas as pessoas a quem devoto um afeto acima da média são, de certo modo, livres, destemidos e determinados. Das duas uma: (ou ambas!) Ou eles são todos uns cínicos, medrosos, bem disfarçados ou eu sou mais corajosa do que imagino.


"Semelhante atrai semelhante... "