quinta-feira, 4 de junho de 2020

Banho de Chuva


Hoje o dia amanheceu chuvoso e nostálgico. Há alguns dias estou com vontade de tomar um bom banho de chuva. Recordo que na época da escola eu sempre levava comigo uma sacola de plástico para proteger meus cadernos em caso de chuva na hora de voltar para casa. Protegendo os cadernos o resto podia molhar! E mais de uma vez voltei caminhando debaixo de chuva, sei lá por que, pois carrego um guarda-chuva feito um terceiro braço até nos dias de sol! Naquele tempo devia ser diferente. Sei lá!

É uma sensação muito gostosa. Quase tão boa quanto um bom banho de mar. Se molhar com roupa é divertido! Desafiador. Essa é a palavra do dia. Nada é difícil, tudo é desafiador! Estou ressignificando velhos paradigmas, e olhar para o passado é algo muito legal, contagiante e me dá muitos elementos para ressignificar a vida.

Costumo dizer que não tenho uma série de experiências que a grande maioria das pessoas ao meu redor tem, e é verdade. Mas é verdade também que o inverso é válido. Ou seja, ninguém tem o privilégio de ver a vida da minha perspectiva. Muitas vezes parece desvantagem, mas nem sempre. Passar pelos vai-e-vens emocionais sem precisar trocar pneu com carro andando que é lidar com as responsabilidades de gente “normal” foi positivo. Por linhas tortas, como diz o ditado.

Eu nem consegui ser adolescente rebelde! Eu era uma medrosa, e isso me protegeu de muita coisa. O medo protege. Descobri que eu tenho muita história para contar, mesmo correndo o risco de ninguém querer saber... Faz dez anos que escrevo aqui, acho que já superei a ausência de um grande público. Mas fico muito grata por quem me lê, mesmo que só de passagem!

E mais uma vez tenho que admitir que toda minha história como blogueira começou graças ao meu irmão que criou esse blog aqui para mim! Engraçado como tem o dedo dele em tantas experiências boas da minha vida, direta ou indiretamente! Só que ele é do grupo de gente normal, que seguiu a vida com suas responsabilidades de gente adulta, enquanto eu fiquei aqui observando o mundo de dentro.

Talvez eu tenha me aventurado a tomar um banho de chuva porque eu sabia que aqueles momentos, aquele maravilhoso e simples trajeto da escola para a casa seria meu laboratório, onde eu acumularia uma série de histórias muito interessantes. E se minhas humildes experiências servirem de consolo para alguém, ou meu jeito meloso e nostálgico servir de estímulo para que alguém saia da própria crise existencial, já valeu a pena cada minuto vivido ou ansioso por viver.



LAMENTAÇÕES

Ó céus por que choras assim? 

Se já é tão grande meu lamento! 
Se me exasperam os tormentos 
Que me desatinam sem fim...

E sem sorver tuas doces lágrimas, 

Sim céus, porque choras assim, 
Das minhas dores não me lavo 
Minha agonia não tem fim

Mesmo esta chuva que me busca 

Na insanidade desta casa 
Seduzindo-me a ganhar asas,
Nem ela detém-me de outra fuga...

De tantas chuvas de feições 

Várias, nublada, clara, escura 
Nunca veio a mim uma tão pura 
E estranha às minhas ilusões!

Longe demais de qualquer sonho, 

Fechei as comportas do meu mundo 
Pra que a enchente não me leve 
Todos os medos mais profundos...

Ó céus o que será de mim?

Se os relampejos que em meu peito 
Ardem, espantam os apelos
Da cantoria dos passarinhos?


2 comentários:

  1. Tá cada dia melhor. Estou impressionado com seu blog.

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  2. Muito obrigada pelo feedback Marcos! Suas palavras me motivam a escrever cada dia melhor!

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