sexta-feira, 12 de junho de 2020

Como uma rosa


“Como é se abrir para o mundo como uma rosa?” Li essa frase certa manhã numa mensagem. Consequentemente lembrei de muitos episódios da minha vida onde usei a imagem da rosa para descrever meus sentimentos, e minhas ideias. Lembrei também de uma fábula muito linda, O Pequeno Príncipe, que aliás já escrevi aqui nesse blog uma série de textos falando sobre vários personagens, e não falei, olha só, da rosa!

Há um capítulo onde o autor narra exatamente o desabrochar da rosa:

“Pude bem cedo conhecer melhor aquela flor, sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém. Apareciam certa manhã na relva, e já à tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o principezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. Podia ser uma nova espécie de baobá. Mas o arbusto logo parou de crescer, e começou então a preparar uma flor. O principezinho, que assistia à instalação de um enorme botão, bem sentiu que sairia dali uma aparição miraculosa; mas a flor não acabava mais de preparar-se, de preparar sua beleza, no seu verde quarto.

Escolhia as cores com cuidado. Vestia-se lentamente, ajustava uma a uma suas pétalas. Não queria sair, como os cravos, amarrotada. No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer. Ah! sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado.

E ela, que se preparara com tanto esmero, disse, bocejando: - Ah! eu acabo de despertar. . . Desculpa... Estou ainda toda despenteada... O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto: - Como és bonita! - Não é? respondeu a flor docemente. Nasci ao mesmo tempo que o sol... O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era tão comovente! - Creio que é hora do almoço, acrescentou ela. Tu poderias cuidar de mim ... “
O Pequeno Príncipe, Antoine de Sant Exupéry

A rosa do pequeno príncipe nasceu toda metida, se sentindo única e merecedora dos cuidados do principezinho. O principezinho acreditava que ela era única no mundo, até que um dia encontrou um jardim cheio de rosas iguais a sua, e chorou frustrado, se sentindo enganado. Até que encontrou a raposa que disse: “A gente só conhece bem as coisas que cativou” e a clássica frase, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!” Explicou em outras palavras que o que tornava a rosa única não era sua espécie, eram os laços de afeto e cuidado que ele tinha com ela.

Ah, por que será que omiti a rosa na série de posts anterior? Será que era porque eu não acreditava que existia a possibilidade de achar um pequeno que cuidasse dessa rosa afetada, cheia de manias, e sedenta por cuidados? O principezinho, apesar de príncipe, não tinha nada de encantado, dos romances, ele era totalmente encantador. Cheio de ternura e amor. Realmente, talvez haja quem tolere a insegurança por trás da formosura da rosa, talvez haja quem entenda sua vulnerabilidade e quem até releve o efeito dos seus espinhos ... Realmente eu não sei o que é me abrir para o mundo - com todas as ressalvas que essa expressão precisa ter – como uma rosa. Muito menos sob os cuidados de alguém com quem pudesse criar laços! Mas sempre há esperança.

- Ah! meu pedacinho de gente, meu amor, como eu gosto de ouvir esse riso! - Pois é ele o meu presente ...

Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto ...


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