quarta-feira, 3 de junho de 2020

Sem pensar


Respire. Não pense. O corpo reflete os nossos pensamentos.

Aprender poesia foi um grande refúgio quando eu precisava dar ritmo, ou descanso para meus pensamentos. Muitos diziam que minhas poesias eram tristes. Elas me retratavam melhor que fotografias, onde eu estava quase sempre sorrindo.

Poesias tem pausas. Descobri há poucos dias que elas têm o mesmo efeito da respiração para quebrar o estado das coisas; sair de uma tristeza imensa, do medo e oxigenar o cérebro. Minhas poesias não me davam limites. Ao contrário, elas me davam asas. Elas me diziam “não pense, lapide os versos depois; apenas escreva”:


LUZ

Se o coração gritar,

Respira.

Se a vida faltar,

Inspira.

Se o homem suprimir,

Escreva.

Se as linhas se esconderem

Reflita.

Se uma luz surgir, siga-a.

Se uma voz calar,

Agradeça, e

Se o verso libertar-se,

Esqueça!



E assim eu segui. Ia guardando uma palavra aqui, uma ideia ali, uma frase, às vezes um verso, e num certo dia saía o poema inteiro. Bom ou ruim, não importava. Tenho poesias que me encantam e tenho muitas coisas bobas, mas que guardam a memória daquele momento.

Há poucos dias, reencontrei-me com os velhos conselhos das minhas poesias. Não em forma de versos, mas em forma de afinidade. Temos afinidades com quem faz fronteira conosco, quem circula dentro dos mesmos limites. Não físicos, elas podem estar muito distantes, em outra cidade, estado ou país, ao passo que na mesma casa podemos conviver como se estivéssemos em mundos distantes!

Temos afinidade com quem fala a mesma língua, não o idioma, a língua do coração. Aquelas coisas que são mais caras à nossa emoção. E essas pessoas não precisam ser iguais, afinidade não é igualdade, podemos ter afinidades com pessoas extremamente diferentes, mas que convergem em algum ponto com nossos princípios, valores, e sonhos mais ternos.

Tenho afinidade com pessoas que não gostei ao primeiro contato. E aprendi que a primeira impressão não precisa ficar se não quisermos que ela fique. Nosso coração é como uma sala de estar, podemos deixar ficar quem faz bem hoje e esquecer o ontem.

Os velhos conselhos me reencontraram desprevenida. Há muitos horizontes que a menina poetisa jamais imaginou e outros tantos que ela já tinha previsto, mesmo que fosse apenas um instante imaginado. Estou assustada. Só me resta calar os pensamentos e me deixar levar!


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